"Primorosamente trabalhada em madeira por qualquer artista de incontestável valia, cujo nome se perdeu, teve a sua origem em Terras de Santa Cruz e no Rio de Janeiro a embarcaram com destino a Lisboa", contava o Diário de Notícias a 3 de fevereiro de 1942, sobre a imagem de Nossa Senhora da Glória da Igreja de São Sebastião, em Lagos. Vinda do outro lado do Atlântico, preparava-se para regressar a casa, já que uma "cópia fiel está ali sendo executada para seguir para o Brasil"..A "história curiosa" que o jornal relatava explicava como a imagem vinha para ser oferecida ao rei D. João V, tendo sido oferecida por António Caminha que nascera e vivera em Aveiro. Na viagem para Portugal, deu-se a tragédia. "Um naufrágio fez sossobrar [sic] a nau que a conduzia e andando algum tempo ao sabor das ondas como que a escolher pousada veio ter a terras algarvias", lia-se na primeira página..A imagem acabaria por dar à costa, a 24 de dezembro de 1708, no areal da Meia Praia, "quem sabe se seduzida pelos rochedos da ponta da Piedade, tantas vezes talhados em arremedo de ogiva e cujo caprichoso recorte mais se assemelhava aos detalhes do seu finíssimo lavor"..A imagem atraiu a atenção de todos, sendo a sua posse disputada pelos frades do Convento de São Francisco, mas também por priores de duas freguesias. De tal forma que foi o rei a decidir onde ficava. Ficou no convento, que mudou o nome para Nossa Senhora da Glória. Foi ali venerada até à extinção das ordens religiosas, passando depois para a Igreja de São Sebastião, "onde ainda hoje se conserva exposta às orações fervorosas dos fiéis"..Mas essa é só a primeira parte da história, relatava o jornal, que contava que existe em São Paulo a irmandade da Nossa Senhora da Glória que quis uma cópia "da linda santa de brasileira origem"..O artigo era ilustrado com uma imagem do trabalho em barro que foi feito pelo "distinto escultor João José Gomes, diretor da Escola Industrial de Silves, e o seu colega Portela". O próximo passo era passar "ao gesso para receber depois a pintura que melhor a aproximará do original".."E dentro de pouco tempo confiada aos cuidados da Embaixada do Brasil que muito se interessou pelo assunto lá vai de novo atravessar o Atlântico uma imagem de Nossa Senhora da Glória em tudo semelhante àquela que há séculos de lá nos veio", dizia o texto, indicando que a imagem é "de grande devoção dos mareantes habituados a ver-se perdidos como ela sobre as ondas do mar e a ver-se por elas salvos".