
Atletismo
Caster Semenya nasceu com um corpo para lutar pelos direitos humanos
O atletismo criou um regulamento que obriga Semenya a um tratamento para baixar os níveis naturais de testosterona. A sul-africana de 28 anos recusa e desafia o mundo do desporto através da ótica dos direitos humanos.
Caster Semenya tinha 16 anos em 2007. Terminada uma prova, dirigia-se a uma casa de banho escoltada por agentes antidoping para lhe ser efetuado um controlo. Um dos primeiros dias no escritório - tem passado a vida, sobretudo na última década, desde que se tornou campeã mundial dos 800 m aos 18 anos, em 2009, entre testes, análises e escrutínios clínicos, públicos e privados. Que até questionaram a sua identidade sexual. "O que está um rapaz a fazer aqui?", lançou-lhe outra atleta, de nome Violet Raseboya. Raseboya, que uns largos meses depois passou a ser a sua namorada e é hoje esposa da bicampeã olímpica e mundial dos 800 m.
Semenya nasceu com um corpo de protesto (o seu metabolismo produz naturalmente níveis elevados de testosterona, considerados uma vantagem competitiva desleal), tratado como ameaça pelo desporto e instâncias judiciais cívicas e desportivas. A sua luta contra a Federação Internacional de Atletismo (IAAF, na sigla inglesa) está longe do fim. Na passada terça-feira, o Tribunal Federal Suíço reverteu uma decisão que tinha tomado em junho e aceitou o regulamento criado em 2018 pela IAAF, que obriga mulheres atletas de 400 m, 800 m e 1500 m a submeterem-se a tratamentos hormonais para baixarem os níveis naturais de testosterona. Semenya recusa-se a fazê-lo e falhará a defesa do título nos Mundiais que decorrerão em Doha, de 27 setembro a 6 outubro. Ela que nas pistas não perde uma corrida de 800 m desde 2015.