Qualquer definição do conceito de "juventude" ou de "jovem" acarreta o perigo da conclusão de que a única característica irrefutável que lhe podemos atribuir é a transitoriedade. Aliás, o mundo consumista em que vivemos tenta, por vezes até ao sacrifício, incutir-nos a obrigatoriedade de esconder qualquer vestígio de que a juventude passou... Em linha com as várias definições científicas, sociológicas e académicas, é libertador ultrapassar esse conceito artificial da mera constatação de que ser jovem é algo que começamos por ser numa determinada altura da nossa vida, para noutra o deixarmos de ser. Útil, mesmo, é a constatação de que o início da estabilização da identidade e das noções de tolerância, pertença e partilha culturais se dá na juventude..Ser jovem, como fase de descoberta e de busca de identidade, significa sempre ter direitos. Concretizar esses direitos, transversais a áreas como a saúde, a formação, a literacia e a integração social em contexto de inclusão e igualdade, permite aos jovens fazer face às mudanças que o mundo atravessa, com ênfase nas alterações climáticas, na degradação do meio ambiente, na desestruturação a nível de valores e não só. Fundamental, simultaneamente, é permitir-lhes o direito de participar na tomada de decisões, inclusivamente políticas, como forma de aprender a compreender, pela prática, o que é de facto a cidadania..Foi este o espírito da abertura em Lisboa do 2019 - Ano da CPLP para a Juventude, em linha com a Youth 2030: a Estratégia das Nações Unidas para a Juventude. Neste contexto, impõe-se à partida uma pergunta: o que distingue um jovem da CPLP no concerto global das nações? A CPLP traz sempre consigo a especificidade de ter surgido sob a égide da cultura e do aprofundamento da amizade entre povos. Esta especificidade faz toda a diferença num mundo que se debate com populismos e intolerância, com a fobia à diferença, com a pobreza e a violência..A lusofonia e a CPLP como polifonia cultural constituíram um desafio em si mesmas. Outros desafios se seguiram e seguirão. Hoje, temos de mobilizar a nossa juventude para assegurar a continuação da comunidade. Como? Para mobilizar é inevitável dar mobilidade. É fundamental dotar a CPLP de mecanismos efetivos que, multilateralmente, permitam no seu espaço a livre circulação dos jovens e das suas ideias. A nossa juventude exige-nos que, pela multilateralidade, achemos um fio condutor que dinamize condições para ultrapassar a bilateralidade e as diferenças a nível de instrumentos jurídicos, autorizações de residência, reconhecimento de habilitações académicas e direitos dos trabalhadores e estudantes. Devemos à juventude e à CPLP este esforço..Deputada do PS