Dia 15 de janeiro. O documento datilografado, em papel timbrado da República, tornava o ato oficial. O Presidente da República, António José d'Almeida, assinava por baixo o seguinte texto: "Hei por bem nomear o cidadão Francisco José Fernandes Costa, Presidente do Ministério." Seguia-se a constituição do que viria a ser o 22.º Governo Constitucional, com os nomes dos ministros das Finanças, Negócios Estrangeiros, Justiça, Guerra, Marinha, Interior, Comércio, Colónias, Instrução e interino da Agricultura e Trabalho. E, por fim, a data: "Paços do Governo da República, em 15 de Janeiro de 1920.".Nesse mesmo dia um outro documento é datilografado, em papel timbrado da República, assinado pelo Presidente, acedendo ao pedido de exoneração de todos aqueles que havia nomeado..Ficou conhecido como "o governo de cinco minutos". No dia seguinte, o Diário de Notícias contava o sucedido. "Contra o gabinete Fernandes Costa, grupos numerosos percorrem as ruas da cidade levantando protestos junto às secretarias de Estado", escrevia-se na primeira página, em que surgia a carta de Fernandes Costa a pedir a demissão. Relatando o que se passava nas ruas e à porta da Junta de Crédito Público, onde se encontrava reunido o governo, concluía que não havia condições para ir até Belém tomar posse. "Tenho em vista não servir de pretexto para desordens, que não podemos evitar, nem ser causa de desgraças, cuja responsabilidade não desejamos assumir e que poderiam ser atribuídas a uma ânsia de Poder, que o Partido Republicano Liberal não tem, o que bem demonstrou aceitando-o num momento bem difícil.".Ainda assim - foi bem mais do que cinco minutos - houve desordens e algumas desgraças. Os manifestantes andaram pela Avenida da Liberdade, pelo Rossio e pararam no Terreiro do Paço. "Houve novos discursos e vivas, esboçando-se nessa ocasião um conflito" que fez três feridos. Manuel Soares Correia, comerciante, natural de Vila da Feira, 50 anos, morador na Almirante Reis, o seu irmão Augusto Soares Correia, também comerciante, e o barbeiro Adriano Guerra. Foram feridos com canos de armas de fogo. Na confusão foi "atropelado por um trem" António dos Santos "um pobre mendigo". "Todos foram pensados no Hospital da Cruz Vermelha." Enquanto isso, o governo mudou.