O VIH - vírus da imunodeficiência humana é, entre as doenças crónicas, aquela em que a dimensão da representação social é mais premente. A sociedade, no seu conjunto, acostumou-se a associar uma determinada imagem a cada doença crónica, replicada pelos meios de comunicação (em todas as suas valências), pelo mundo das artes e da cultura e por outras instâncias que ajudam à construção da perceção global. Temos tendência até a interiorizar uma representação visual partilhada que associamos ao doente oncológico, ao diabético, ao doente que faz hemodiálise, entre tantos outros. Temos, mas não devíamos ter..Perto de entrarmos globalmente na quarta década de combate à epidemia de VIH/sida e celebrado ontem o Dia Mundial da Sida, impõe-se uma pergunta: Qual é a representação/perceção que a sociedade tem hoje do portador de VIH? É acarinhado como é o diabético? Respeitado como o oncológico? Querendo, pode expor-se? Querendo, pode contar no emprego? Legalmente, poderá. Mas, por muito avançado que seja um corpo legislativo - como é o caso do nosso -, sabemos que, em matéria de preconceito, não é a lei per se que liberta. Sabemos que a representação social do portador de VIH e a resposta a estas perguntas ainda são pautadas pelo estigma. Recorrendo a uma expressão associada a outro propósito, não se pode mesmo afirmar com certeza que o VIH, em termos globais e também por cá, tenha saído do armário em que a sociedade o fechou..Não podemos, nem devemos, claro, ser injustos com próprios nem com quem luta há décadas para debelar e mitigar o flagelo. Reconhecer e avaliar os avanços é também uma forma de formatar com sucesso o futuro. Particularmente importante na luta contra a epidemia do VIH foi o momento da consciencialização da importância da própria desconstrução do estigma como ferramenta de combate. O superar da mera constatação dos "grupos de risco" permitiu responder ao VIH de forma marcadamente mais epidemiológica e desenvolver estratégias orientadas para a prevenção, assentes na deteção precoce e na adesão à terapêutica..A iniciativa Fast-Track Cities - Cidades na Via Rápida para Acabar com a Epidemia VIH tem como objetivo até 2020 alcançar a meta 90-90-90 definida pelas Nações Unidas para o VIH/sida e espelha na perfeição o espírito de agilizar o acesso aos serviços de prevenção, deteção/diagnóstico, seguimento e tratamento das pessoas infetadas por VIH. Lisboa, Cascais e Porto (iniciativa em fase de alargamento a outras cidades: Almada, Amadora, Loures, Odivelas, Oeiras, Portimão e Sintra) assinaram a declaração, assumindo o compromisso de que 90% das pessoas que vivem com VIH sejam conhecedoras do diagnóstico, 90% dos diagnosticados iniciem tratamento antirretrovírico e 90% das pessoas em tratamento apresentem, de modo sustentável, carga viral indetetável. É fundamental a aposta na lógica da complementaridade entre organismos governamentais, associações de defesa e promoção dos direitos das pessoas que vivem com o VIH/sida, sociedade civil e as instituições ligadas à prática e à investigação clínica. A cura, a par da erradicação do estigma, chegará não só pela investigação científica mas também por este diálogo..Deputada do PS.Escreve de acordo com a antiga ortografia
O VIH - vírus da imunodeficiência humana é, entre as doenças crónicas, aquela em que a dimensão da representação social é mais premente. A sociedade, no seu conjunto, acostumou-se a associar uma determinada imagem a cada doença crónica, replicada pelos meios de comunicação (em todas as suas valências), pelo mundo das artes e da cultura e por outras instâncias que ajudam à construção da perceção global. Temos tendência até a interiorizar uma representação visual partilhada que associamos ao doente oncológico, ao diabético, ao doente que faz hemodiálise, entre tantos outros. Temos, mas não devíamos ter..Perto de entrarmos globalmente na quarta década de combate à epidemia de VIH/sida e celebrado ontem o Dia Mundial da Sida, impõe-se uma pergunta: Qual é a representação/perceção que a sociedade tem hoje do portador de VIH? É acarinhado como é o diabético? Respeitado como o oncológico? Querendo, pode expor-se? Querendo, pode contar no emprego? Legalmente, poderá. Mas, por muito avançado que seja um corpo legislativo - como é o caso do nosso -, sabemos que, em matéria de preconceito, não é a lei per se que liberta. Sabemos que a representação social do portador de VIH e a resposta a estas perguntas ainda são pautadas pelo estigma. Recorrendo a uma expressão associada a outro propósito, não se pode mesmo afirmar com certeza que o VIH, em termos globais e também por cá, tenha saído do armário em que a sociedade o fechou..Não podemos, nem devemos, claro, ser injustos com próprios nem com quem luta há décadas para debelar e mitigar o flagelo. Reconhecer e avaliar os avanços é também uma forma de formatar com sucesso o futuro. Particularmente importante na luta contra a epidemia do VIH foi o momento da consciencialização da importância da própria desconstrução do estigma como ferramenta de combate. O superar da mera constatação dos "grupos de risco" permitiu responder ao VIH de forma marcadamente mais epidemiológica e desenvolver estratégias orientadas para a prevenção, assentes na deteção precoce e na adesão à terapêutica..A iniciativa Fast-Track Cities - Cidades na Via Rápida para Acabar com a Epidemia VIH tem como objetivo até 2020 alcançar a meta 90-90-90 definida pelas Nações Unidas para o VIH/sida e espelha na perfeição o espírito de agilizar o acesso aos serviços de prevenção, deteção/diagnóstico, seguimento e tratamento das pessoas infetadas por VIH. Lisboa, Cascais e Porto (iniciativa em fase de alargamento a outras cidades: Almada, Amadora, Loures, Odivelas, Oeiras, Portimão e Sintra) assinaram a declaração, assumindo o compromisso de que 90% das pessoas que vivem com VIH sejam conhecedoras do diagnóstico, 90% dos diagnosticados iniciem tratamento antirretrovírico e 90% das pessoas em tratamento apresentem, de modo sustentável, carga viral indetetável. É fundamental a aposta na lógica da complementaridade entre organismos governamentais, associações de defesa e promoção dos direitos das pessoas que vivem com o VIH/sida, sociedade civil e as instituições ligadas à prática e à investigação clínica. A cura, a par da erradicação do estigma, chegará não só pela investigação científica mas também por este diálogo..Deputada do PS.Escreve de acordo com a antiga ortografia