Emirados Árabes Unidos. Quando eu fui à Fujeira
Fui ao encontro da criatividade de uma cidade que nasceu num território que não era completamente desértico, ao contrário do que se possa pensar. Existem diferentes complexos arqueológicos neolíticos a atestar povos antigos. Por exemplo, em Umm al-Quwain, arqueólogos franceses descobriram a pérola fina mais antiga de que há conhecimento, com cerca de 7500 anos. Depois, o nomadismo era feito por povos que sempre transportavam consigo tudo o que possuíam. Mais proximamente, vieram a pesca artesanal e o petróleo. Em 1971, nasceram os Emirados Árabes Unidos, localizados no sudeste da Península Arábica, entre Omã e a Arábia Saudita. Passou a haver uma federação de sete Estados: Abu Dhabi, Dubai, Xarja, Ajmã, Umm al-Quwain, Ras al-Khaimah e Fujeira. Nas últimas cinco décadas, a nação transformou-se rapidamente dos lugares de pesca para um dos mais importantes centros económicos do mundo. Neste panorama, talvez o Estado mais suspeito de se visitar seja o de Fujeira, cujo nome, traduzido para português sabe-se lá por quem, me soa a um daqueles lugares suburbanos de Lisboa ou da margem sul do Tejo. Mas não, Fujeira vem do árabe "Fujairah". A cidade do mesmo nome, capital deste Estado, é atravessada pela estrada Hamad Bin Abdulla, que também liga esta cidade ao Dubai e onde está instalada a maioria dos hotéis. Precisamente, vindo do Dubai, fiz essa estrada com um guia brasileiro que trabalha nestas cidades. Fui para conhecer de perto a chamada "Cidade Criativa", na Sheikh Khalifa Highway, a oeste, criada como um centro de conexão de entidades e serviços associados à comunicação social, à música, ao entretenimento, aos eventos, à promoção e ao "design". A organização ajuda novos empreendedores e garante o progresso das pequenas empresas, com facilidade e segurança, no espaço regional e mundial dos negócios. A minha ideia era explorar as possibilidades de criar uma empresa em turismo de arquitetura para exercer nos diferentes Estados dos Emirados. A razão é que este país reinventa o urbanismo e a arquitetura. A história do século XXI desenvolve-se neste território em todas as áreas criativas, mas principalmente nas do urbanismo e da arquitetura, que refletem cidades globalmente ativas. A incrível pressão da economia de mercado imprimiu à arquitetura condições cada vez mais extravagantes, e antes absurdas, mas realmente concretizáveis neste território. Todos os dias há um novo começo. O fenómeno é ambíguo e multifacetado, e o resto do mundo tem sido cúmplice desta extravagância. E o que é que estes estados terão para nos oferecer no futuro? Será como o "sonho americano" de há um século? Olhar este território de perto e descobrir as fontes de beleza para além das de riqueza é uma porta importante para se conhecer o fenómeno. Antes do regresso, que estava marcado para sábado, ainda deu para assistir a uma tourada, na sexta-feira. Apenas fiquei interessado nela porque já sabia que não inclui matadores, embora consista numa luta entre dois touros pelos chifres, o que pode resultar em ferimentos, mas sem o sofrimento que existe na tourada ibérica. No dia seguinte, segui para o aeroporto, num voo com destino a Islamabad, no Paquistão. Há quem não "fuja" deste lugar e ganhe muito bem a sua vida, e há sempre uma pérola fina num sítio cujo nome foi assim traduzido pela criatividade lusófona.
Jorge Mangorrinha, professor universitário e pós-doutorado em turismo, faz um ensaio de memória através de fragmentos de viagem realizadas por ar, mar e terra e por olhares, leituras e conversas, entre o sonho que se fez realidade e a realidade que se fez sonho. Viagens fascinantes que são descritas pelo único português que até à data colocou em palavras imaginativas o que sente por todos os países do mundo. Uma série para ler aqui, na edição digital do DN.