À esquerda ou à direita, há coligação no trilho

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Se a direita política vive num dilema em Portugal, também a esquerda está ainda mergulhada na mesma situação. O PCP e o Bloco de Esquerda continuam a viver o dilema da vitória versus a derrota.

Se, por um lado, podem ter conquistado votos junto dos mais radicais por terem chumbado o Orçamento do Estado para 2022, por outro lado sentem o peso da derrota, e ainda este fim de semana usaram tempo de antena para justificar aos militantes o porquê do chumbo do documento orçamental.

Na direita a situação é claramente mais dramática. O CDS, sobre o qual escrevi aqui ontem, está em agonia. O adiamento do Congresso levou à saída do partido de pesos-pesados, como António Pires de Lima, Adolfo Mesquita Nunes, Inês Teotónio Pereira e João Maria Condeixa. O dilema da sobrevivência dos centristas é difícil de resolver, por isso ou encontram rapidamente uma coligação pré-eleitoral com o PSD ou dificilmente sobrevivem a esta crise interna. A ausência de uma estratégia em coligação para as eleições legislativas poderá ter um altíssimo preço a pagar nas urnas.

O PSD também terá a ganhar se fizer uma coligação pré-eleitoral. Como nenhum dos dois grandes partidos (PS e PSD) deverá ter maioria absoluta, se vierem a governar, os sociais-democratas poderão precisar do CDS e, eventualmente, do Iniciativa Liberal.

Os portugueses devem estar preparados quer para "geringonças" à esquerda quer à direita. Não se deve excluir nenhum caminho. Até porque, no final do dia, interessa que reine alguma estabilidade política, para que o país não volte, num curto espaço de tempo, a viver uma nova crise política.

Governos de coligação - e até, quem sabe, com acordos parlamentares - poderão ocorrer, e não vem mal algum à democracia por isso. "Entendam-se!", pedem os portugueses que não pertencem às máquinas partidárias nem são filiados. O país precisa de um entendimento para se focar de vez na recuperação da economia.

Lá fora, a Alemanha prepara-se para ter uma "coligação-semáforo" com três partidos (SPD, Liberais e Verdes), e, quando Angela Merkel sair de cena, a nação não deverá ver o seu futuro comprometido por essa espécie de "geringonça". As conversações para chegar à nova liderança na maior economia europeia ainda continuam, mas os sociais-democratas (SPD), de centro-esquerda, os Verdes e os democratas livres do FDP tiveram êxito nos encontros exploratórios tripartidos e concordaram que têm pontos em comum que são suficientes para passar à fase mais formal das negociações. O social-democrata Olaf Scholz, ministro das Finanças e vice-chanceler do governo cessante, tornar-se-á no novo chanceler da Alemanha, sucedendo a Merkel, a democrata-cristã de centro-direita.

O que é incrível é que o SPD, de Scholz, venceu as eleições alemãs no longínquo dia 26 de setembro por uma margem estreita, e ainda nada está fechado. Os alemães, com a sua disciplina, processos e método, demoram tempo a conciliar os interesses das três partes. E a economia alemã aguenta? Ai aguenta, aguenta.

Mas o tecido empresarial português não se pode comparar ao germânico. Discutir demoradamente possíveis "geringonças" após as legislativas seria difícil de entender. Esse trilho deve ser percorrido o quanto antes.

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