Togo. A Casa do Mar em Palm Beach
Mala de viagem (178). Um retrato muito pessoal de Togo.

Ela escreveu-me para me dizer que já chegara à casa de férias, localizada na costa marítima, junto ao lago, entre a capital Lomé e a fronteira com o Benim. Por perto, está Palm Beach, não a famosa estância norte-americana, mas a que é banhada pelo Atlântico Sul. Eu conhecera Camih num dos voos por África, mas tínhamos diferentes destinos finais. Soube que ela pertence a uma família que lhe deu a possibilidade de estudar Economia e Finanças Internacionais e depois seguir pelos negócios de uma Sociedade financeira especializada na aquisição e na gestão de participações em instituições de natureza bancária. Na viagem, em que nos sentámos em cadeiras coladas, falámos do seu país e dos tempos dos avós e dos pais de Camih, desde quando Gnassingbé Eyadéma liderou o golpe militar que, em 1967, o tornou presidente de um Estado declaradamente anticomunista e de partido único, banindo os restantes. Em 1981, ele voltou a legalizá-los e, à frente do seu partido, ganhou as eleições, que foram contestadas pela comunidade internacional. Governou até morrer, sucedendo-lhe o filho, Faure Gnassingbé. A partir de 2005, falou-se de governos de transição. Porém, a minha companheira de viagem concordava que o futuro do país "só ia" com projetos de elevado potencial para a criação massiva de empregos e com o envolvimento predominante do setor privado. Seria uma mudança de paradigma, designadamente no desenvolvimento social, na construção de uma plataforma logística, de um centro de conferências e de centros de transformação da agroindústria e das indústrias extrativas. "O setor privado é a força motriz de qualquer economia", concordámos. Percebi que o país de Camih queria investir num ambiente de negócios que o tornasse num destino-chave para qualquer investidor que pretendesse posicionar-se na sub-região da África Ocidental. Claro que os responsáveis creem que também o investimento público deve ser conseguido a um nível aceitável, com uma gestão eficiente da despesa pública e com um programa de redução da pobreza por via de projetos sociais, como a melhoria do abastecimento de água potável e a construção de escolas, centros de saúde e estradas rurais. A agricultura contribui com mais de 40% do Produto Interno Bruto do Togo e emprega quase 65% da sua população ativa. O turismo pode contar com a grande diversidade de paisagens, desde as colinas arborizadas do centro do território aos lagos e às praias com palmeiras ao longo da costa atlântica. Precisamente daqui, a mensagem de Camih dizia: "Caro Jorge, meu companheiro de viagem. Já estou na Casa do Mar. Se quiser vir cá uns dias, será bem-vindo. Os arquitetos e os poetas fazem falta em todo o mundo. Guardo o seu poema. Até breve. Camih G. Casa do Mar/ Casa do Mar." A redundância no final da mensagem é compreensível: Togo significa precisamente "Casa do mar" na língua local. O meu poema fala de uma casa do mar que não é margem, mas um encontro em muitas cores, tal como o cenário da foto de Camih.
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Jorge Mangorrinha, professor universitário e pós-doutorado em turismo, faz um ensaio de memória através de fragmentos de viagem realizadas por ar, mar e terra e por olhares, leituras e conversas, entre o sonho que se fez realidade e a realidade que se fez sonho. Viagens fascinantes que são descritas pelo único português que até à data colocou em palavras imaginativas o que sente por todos os países do mundo. Uma série para ler aqui, na edição digital do DN.
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