Um regresso (Bolsonaro), uma acusação (Trump) e um rei jardineiro

SÁBADO
Guayaberas e uma Ibero-América "força de paz"

Chegaram a Santo Domingo de fato e gravata mas os chefes de Estado e do Governo que participaram na 28.ª Cimeira Ibero-Americana, na República Dominicana, rapidamente os trocaram pela guayabera, a tradicional camisa branca que todos envergaram no encontro. Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa não foram exceções. Num discurso de 15 minutos o Presidente da República português defendeu que o espaço ibero-americano constitui "uma força de paz no mundo" e tem como tarefa "recuperar o multilateralismo". A comunidade ibero-americana é composta por 22 países, dos quais três europeus, Portugal, Espanha e Andorra, e 19 latino-americanos. Brasil e México, as duas maiores economias sul-americanas, foram as grandes ausentes de um encontro em que o primeiro-ministro português anunciou que Portugal tomou a iniciativa de constituir um fundo, que arranca com um milhão de euros, para a cooperação entre a comunidade ibero-americana e a CPLP.
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DOMINGO
A "pausa" de Netanyahu evitará uma "guerra civil"?

A demissão do ministro da Defesa Yoav Gallant foi a gota de água. Os protestos que se têm vindo a repetir todas as semanas em Israel subiram de tom e cerca de 800 mil pessoas (um décimo da população, segundo dados dos media israelitas) terá saído às ruas das principais cidades neste domingo em protesto contra a polémica reforma judicial aprovada pelo governo de Benjamin Netanyahu - que esbate as fronteiras entre poder judicial e poder política, permitindo que uma maioria parlamentar simples anule decisões do Supremo Tribunal de Justiça quando se tratar de revogar ou modificar leis. A greve geral convocada para o dia seguinte bloqueou o aeroporto Ben Gurion, os navios ficaram nos portos, houve estradas cortadas, escolas fechadas e até as embaixadas fizeram greve. Ao fim do dia de segunda, Netanyahu anunciou a suspensão até maio da aprovação da reforma. Uma "pausa" para evitar uma "guerra civil". Mas que não parece convencer ninguém. E os protestos prometem continuar, contra e a favor da reforma - escavando as divisões.
SEGUNDA
Do bacalhau ao pão, um cabaz IVA zero que pode vir tarde

Pão, tomate, banana, ervilhas, leite de vaca, frango, bacalhau, azeite,... Estes são alguns dos 44 produtos que o governo colocou no cabaz IVA zero que agora anunciou. Alimentos "saudáveis e os produtos mais procurados pelos portugueses", explicou o primeiro-ministro António Costa. "Tardio e largamente insuficiente", denunciou a oposição que lembrou o tempo perdido por o executivo ter rejeitado a mesma medida há alguns meses. E se, contas redondas, o cabaz vai permitir às famílias poupar nove euros numa ida ao supermercado, controlar os preços promete ser uma verdadeira dor de cabeça. "Cá estaremos ao longo do ano para monitorizar" a aplicação da medida, garantiu o governo. Resta saber se será suficiente para evitar que aconteceu em Espanha, que reduziu o IVA dos alimentos em dezembro, mas viu o aumento dos preços rapidamente anular os benefícios da medida.
TERÇA
Ataque contra Centro Ismaili abala Portugal oásis de paz

"Dois mortos em ataque à facada". Desta vez a notícia não veio dos EUA, o ataque aconteceu no Centro Ismaili, no coração de Lisboa. Um refugiado afegão pegou numa arma branca e matou duas funcionárias - de 24 e 48 anos - do centro onde tinha aulas de português. O motivo do crime continua por esclarecer, com a PJ a afastar indícios de terrorismo. Mas seja qual for a razão que levou este pai de três filhos, que perdera a mulher e uma filha num campo de refugiados na Grécia a agir, este foi um ataque violentíssimo contra a comunidade ismaelita. Seguidores de um ramo minoritário e liberal do islão xiita, os ismaelitas são cerca de dez mil em Portugal (15 milhões no mundo), muitos chegados após a descolonização. Cidadãos portugueses cujo peso económico ultrapassa em muito o número, com empresas como a Sacoor ou os hotéis SANA, os ismaelitas destacam-se no apoio aos desfavorecidos, na infância, educação, séniores, etc. Este foi um ataque aos ismaelitas, mas também a Portugal, e é juntos que temos de olhar para a frente, agora que ficou abalada a velha convicção de que Portugal será sempre um oásis de paz.
QUARTA
Carlos III na Alemanha: árvores e discurso em alemão

Adiada a ida a França devido aos protestos violentos naquele país contra o aumento da idade da reforma, a Alemanha acabou por ser o primeiro país a receber o rei Carlos III em visita de Estado desde que subiu ao trono em setembro. Acompanhado na visita pela rainha consorte Camilla, o monarca britânico foi recebido pelo presidente Frank-Walter Steinmeier. Os dois homens começaram por plantar árvores no palácio presidencial em Berlim, piscar de olho às preocupações ambientais do rei britânico. Mais tarde, num banquete em sua honra, Carlos sublinhou a importância de Alemanha e Reino Unido estarem unidos na solidariedade com a Ucrânia. E nem hesitou em falar alemão, língua que voltou a usar em parte do discurso que fez no dia seguinte no Parlamento onde reafirmou a mensagem. De presente recebeu uma foto sua com 13 anos, ao lado do pai, numa visita dos dois à Alemanha. Bom ambiente, a prenunciar que estão para trás as tensões do Brexit.
QUINTA
Bolsonaro voltou. Sem grande discurso nem banho de multidão

Após 90 dias nos Estados Unidos - partiu para a Florida a 30 de dezembro, em vésperas de Lula da Silva assumir a presidência - Jair Bolsonaro regressou ontem ao Brasil. O ex-presidente chegou no voo das 6h38 a Brasília vindo de Orlando na Florida, mas se no aeroporto o esperavam algumas centenas de apoiantes, desejosos de tirar uma selfie com o homem que governou o Brasil entre 2019 e 2023, Bolsonaro não teve direito ao banho de multidão de que estaria à espera, nem fez qualquer grande discurso público. Já na sede do seu Partido Liberal, para onde seguiu, o ex-presidente garantiu aos jornalistas que "Lula não fará o que bem entender com o destino da nossa nação". À sua espera estão sim as várias investigações de que é alvo na justiça, inclusive uma por alegado incitamento ao ataque contra as sedes do poder em Brasília a 8 de janeiro. E que ameaçam minas as suas ambições de voltar ao poder.
SEXTA
Trump já foi indiciado, mas irá mesmo ser preso?

Um suborno para comprar o silêncio de uma atriz de filmes para adultos em 2016. Será esta a suspeita que recai sobre Donald Trump e que levou a que o ex-presidente dos EUA tenha sido indiciado, tornando-se no primeiro antigo inquilino da Casa Branca a sentar-se no banco dos réus. Segundo a CNN, Trump poderá enfrentar até 30 acusações relacionadas com fraude empresarial e deverá ser levado a tribunal na terça-feira para ser criminalmente acusado. Se vamos ver Trump algemado, se vão divulgar imagens da sua mugshot, a foto tradicional tirada aos detidos, não se sabe. Mas uma coisa parece certa, o milionário não deverá desistir da sua candidatura às presidenciais de 2024. Afinal, se a detenção dificulta com certeza a campanha, nada na Constituição dos EUA o impede de ser candidato. E se este não é o único processo judicial que pesa contra ele - incluindo um por incitar ao ataque ao Capitólio em janeiro de 2021 - também se pode acabar por virar a seu favor, mobilizando as suas bases e fazendo dele uma vítima da justiça.
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