Trump ameaça países com tarifas finais de 25% ou mais, mas abre margem extra para negociações
As tarifas comerciais dos Estados Unidos sobre a entrada de bens procedentes do Japão e da Coreia do Sul deverão ser tributadas com uma tarifa de 25%, segundo anunciou o Presidente dos EUA, esta segunda-feira.
Na sua rede social Truth, Donald Trump publicou imagens das cartas que supostamente enviou ou vai enviar ainda hoje aos dois grandes países asiáticos. E acrescentou ao rol outras cinco economias.
No entanto, sinalizou que ainda há margem (e tempo) para negociar a partir daqui: se os visados decidirem investir e produzir nos EUA, Trump acenou com tarifas "zero" para todos.
Mas, claro, também ameaçou que qualquer retaliação contra estas medidas (se os países responderem à letra com aumentos aduaneiros), os EUA vão agravar o tributo acima dos 25%, no caso específico das exportações japonesas e coreanas. "Qualquer que seja o valor do agravamento escolhido por vocês, ele será adicionado aos 25%", escreveu nas missivas divulgadas na internet.
Como referido, após ter publicado as cartas endereçadas ao Japão e à Coreia, Trump divulgou ainda outras quase iguais (varia o valor da respetiva tarifa) remetidas para outros territórios.
Até este momento (segunda, dia 7, 19h30) foram ainda visados Malásia (tarifa de 25%), Cazaquistão (25%), África do Sul (30%), Myanmar (40%) e Laos (40%). E vão sete, até agora.
O governante dos EUA tinha prometido enviar um total de até 18 cartas entre segunda (12) e terça-feira (as restantes).
A taxa prometida agora sobre o Japão, um dos maiores parceiros comerciais dos EUA a seguir à Europa, é ligeiramente pior do que a anunciada a 2 de abril (24%).
Sobre a União Europeia, ainda nada foi publicado ou anunciado pelo Chefe de Estado na sua rede social.
A tarifa recíproca anunciada no início de abril, no chamado "dia da libertação dos EUA", era 20%, o valor que, segundo Trump traria algum equilíbrio à situação comercial deficitária (só balança de mercadorias, os serviços não estão abrangidos) que a economia norte-americana regista com a UE.
A Comissão Europeia, em nome do bloco europeu, diz que continua a negociar e empenhada num bom acordo para ambas as partes.
Em todos os casos, Trump deu tempo para negociar um novo acordo comercial que proteja o interesse dos EUA, não aplicando logo as anunciadas "tarifas recíprocas". O prazo limite desta fase termina esta quarta-feira, dia 9 de julho.
Entretanto, Trump fez saber que as novas taxas, sejam elas quais forem, não avançam já, só a 1 de agosto.
Além disso, nas cartas que está a enviar, Trump recorda que as tarifas podem não ficar assim, ainda podem baixar para zero (diz "pode não haver tarifas"), se cada país ou as respetivas empresas decidirem "construir ou fabricar" os seus bens nos EUA.
No outro cenário oposto, além da enorme carga tributária em caso de retaliação, todas as mercadorias vindas dos países visados que forem canalizadas por um país terceiro para escapar ou contornar as tarifas anunciadas "serão sujeitas ao valor mais elevado" possível, sublinhou o Presidente dos EUA nas cartas.
Recorde-se ainda que desde finais de março, Trump anunciou separadamente tarifas sobre setores específicos e estratégicos para a economia norte-americana, como o aço e os automóveis, alegando preocupações com a segurança nacional, e ameaçou aplicá-las a outras indústrias, como produtos farmacêuticos, madeira e produtos de luxo europeus, por exemplo.
Mais três semanas e meia de negociações duras
Mas vários analistas relevam que Trump está, sobretudo, a tentar sinalizar que ainda há margem para que nada fique neste ponto e que as tarifas podem baixar bastante.
David Lubin, economista principal para temas globais da Chatham House, disse na BBC que estas cartas servem para dizer que os países visados "ainda não fizeram os progressos desejados" por Trump nos 90 dias de moratória que foram concedidos desde 2 de abril.
O perito disse que "ainda temos várias semanas pela frente", cerca de três e meia, até 1 de agosto, e que acredita que os acordos definitivos poderão conter valores de tarifas "bastante inferiores" aos que agora foram acenados por Trump.
Em Washington, Karoline Leavitt, a porta-voz da Casa Branca, confirmou, em conferência de imprensa, que Donald Trump “vai assinar uma ordem executiva para prolongar o prazo [final] de 9 de julho para 1 de agosto”.
Na sequência do anúncio da "libertação", a 2 de abril, os mercados financeiros globais mergulharam no caos e registaram perdas avultadas.
Com o anúncio seguinte, a 9 de abril, de que afinal iria esperar 90 dias (até 9 de julho) para ver se os países acertavam agulhas com os EUA, Trump começou a anunciar vários acordos, reduzindo várias tarifas para 10%.
Chegou a acordo com países muito relevantes, como China e Vietname, por exemplo.
Mas, com as cartas desta segunda-feira, Trump está efetivamente a regressar ao ponto originário e mais agressivo, o que foi, claro, mal recebido pelos investidores bolsistas.
Os principais índices resvalaram com a notícia das cartas. O Dow Jones Industrial Average, o S&P 500 e o Nasdaq Composite estavam todos a recuar cerca de 1% no início da noite (hora de Portugal) desta segunda-feira.