Taxa de desemprego sobe para 6,7%, maior aumento dos últimos dois anos
A taxa de desemprego subiu de forma significativa no último trimestre do ano passado, aumentando para 6,7% da população ativa, anunciou o Instituto Nacional de Estatística (INE), esta quarta-feira.
A incidência do desemprego esteve durante dois trimestres (segundo e terceiro) num nível relativamente baixo (6,1%), mas como costuma acontecer na reta final do ano, o fenómeno do desemprego agravou-se.
No entanto, o aumento em causa, de 0,6 pontos percentuais, é o mais agressivo desde o quarto trimestre de 2022, mostram as séries do INE consultadas pelo DN.
Segundo o novo inquérito ao emprego conduzido pelo instituto, Portugal tinha, oficialmente, 368,3 mil pessoas em condição ativa (podiam, queriam trabalhar e procuraram trabalho) no último trimestre de 2024, ou seja, mais 10,1% do que no terceiro trimestre (mais 33,6 mil casos).
Face há um ano, o aumento foi de 2,7%, isto é, em 12 meses o país ganhou mais 10 mil desempregados. É expressivo pois trata-se da maior expansão homóloga do desemprego desde o verão de 2023, segundo cálculos do DN.
Desemprego na Grande Lisboa está pior
Ainda na taxa de desemprego, a média nacional no quarto trimestre esconde realidades bastante diferentes. O maior agravamento entre o verão e o outono aconteceu na região da Grande Lisboa, onde o peso do desemprego agravou-se de 5,6% no terceiro trimestre para 7,4% no quarto.
A região Norte registou uma subida de sete décimas, para 6,9%.
Na região Centro, o aumento foi muito ligeiro, de apenas uma décima, fixando a respetiva taxa de desemprego nos 5,8%.
No Algarve, a incidência do desemprego também aumentou na reta final do ano, de cerca de 4,5% para 5,6%, indica o INE.
Em termos médios anuais, a taxa de desemprego aliviou muito ligeiramente, de 6,5% em 2023 para 6,4% no ano passado, graças sobretudo aos níveis relativamente baixos da primavera e do verão (6,1%).
Abrandamento geral do emprego
Seja como for, acumulam-se sinais de que o mercado de trabalho nacional pode estar a perder dinamismo ou mesmo a retrair-se.
Por exemplo, a expansão do emprego continua, mas de forma mais lenta. Este tem sido o indicador que tem batido sucessivos máximos e recordes históricos em Portugal, sendo apontado como um dos grandes alicerce do bom comportamento da economia portuguesa (sobretudo comparando com muitos dos seus pares europeus) e da saúde das contas públicas, pois reverte-se numa maior coleta de impostos e de contribuições sociais.
Diz o INE que entre o terceiro e o quarto trimestre, o mercado português ganhou mais 0,2% de pessoas empregadas, ou seja, o emprego praticamente estagnou entre trimestres, tendo o universo em causa atingido cerca de 5,149 milhões de indivíduos. São apenas mais 7,9 mil trabalhadores face ao terceiro trimestre.
Em termos homólogos, o emprego total subiu 1,3%, o que se traduz em mais 65 mil trabalhadores a tempo inteiro.
Aqui, é verdade que o emprego total na economia acelerou um pouco face ao crescimento homólogo de 1,2% no terceiro trimestre, mas o referido avanço de 1,3% é o registo mais fraco numa reta final de ano desde 2020, vivia-se então o tempo mais agressivo e letal da pandemia covid-19 (no quarto trimestre desse ano de crise severa, o emprego colapsou 1,9%).
Teletrabalho e trabalho híbrido em expansão
O INE dá ainda conta de uma expansão do teletrabalho e de pessoas a trabalhar em regime híbrido (trabalho em casa e presencial).
Considerando o total da população empregada, 21,5% das pessoas (1,106 milhões de pessoas) "indicaram ter trabalhado em casa no 4.º trimestre de 2024".
Entre os que trabalharam em casa, 95,7% (1,058 milhões de trabalhadores) "estiveram em teletrabalho, ou seja, utilizaram tecnologias de informação e comunicação (TIC) para desempenhar as suas funções a partir de casa", refere o INE.
"Este regime de prestação de trabalho abrangeu 20,5% do total da população empregada, mais 1,3 p.p. do que no trimestre anterior e mais 0,3 p.p. do que em igual período de 2023", diz o novo inquérito.
Cerca de 37,9% dos que disseram que trabalharam alguma vez em casa, isto é, 418,6 mil pessoas, "fizeram-no regularmente mediante um sistema híbrido que concilia trabalho presencial e em casa".
Neste último grupo, o dos que indicaram trabalhar regularmente num sistema híbrido, "a combinação mais comum foi a que conjuga alguns dias por semana em casa todas as semanas (74,3%; 310,9 mil indivíduos), tendo sido igualmente a combinação que registou a maior variação trimestral (mais 24,2 mil pessoas) e homóloga (mais 65,4 mil pessoas)".
"Os empregados num sistema híbrido trabalharam em casa, em média, três dias por semana", indica o INE.
Desemprego de longa duração agrava-se
Outro fenómeno que durante vários anos aliviou (entre 2014 e 2022, com exceção para o primeiro ano da pandemia, 2020) foi o do desemprego de longa duração.
No entanto, o INE mostra que este fenómeno (pessoas que querem e procuram ativamente trabalho, mas não encontram uma saída há um ano ou mais) parece estar a regressar.
"No 4.º trimestre de 2024, 37,5% da população desempregada encontrava-se nesta condição há 12 e mais meses (desemprego de longa duração)", valor que é inferior em 0,5 pontos percentuais (p.p.) face ao trimestre precedente, mas "superior em 1,8 p.p. ao trimestre homólogo".
Estão nesta situação - desempregadas há 12 meses ou mais - 138,1 mil pessoas em Portugal. A maioria (71 mil casos) são mulheres.
Entre os mais jovens, o problema também se está a agravar: há um ano havia 14 mil jovens (menos de 25 anos) desempregados há mais 12 meses; no quarto trimestre, este grupo aumentou para mais de 17 mil indivíduos.
O INE indica ainda que o desemprego de muito longa duração (pessoas desempregadas há mais de dois anos) também está a subir de forma muito expressiva. Eram 77 mil no último trimestre de 2023, mas este contingente cresceu 8%, havendo agora 83 mil pessoas nesta situação.
Desemprego jovem e qualificado
Há sinais mistos no que concerne ao desemprego entre os mais jovens (pessoas com menos de 25 anos). O INE refere que a taxa de desemprego de jovens atingiu 21,8% da respetiva população ativa nessas idades porque aumentou em relação ao trimestre anterior (2,1 p.p.). No entanto, "diminuiu relativamente ao trimestre homólogo (2,4 p.p.)", isto é, face à reta final de 2023.
Já entre os mais qualificados, o desemprego está a subir de forma bastante agressiva. Segundo o instituto, no último trimestre de 2023 havia 89,6 mil diplomados sem trabalho. Um ano volvido, haverá 97,5 mil desempregados com ensino superior. É um aumento homólogo de 9% e de 15% entre o terceiro e o quarto trimestre.