Fábrica de Conservas Pinhais, em Matosinhos.
Fábrica de Conservas Pinhais, em Matosinhos.Foto: Artur Machado / Global Imagens

Taxa de desemprego cai para 5,9%, um dos valores mais baixos dos últimos 20 anos

Criação de emprego foi de 2,9% no segundo trimestre face ao mesmo período do ano passado e o número de desempregados recuou 0,8%, ou menos 2,5 mil pessoas, indica o novo inquérito do INE.
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A taxa de desemprego portuguesa caiu para 5,9% da população ativa no segundo trimestre, que será um dos valores mais baixos dos últimos 20 anos. Fora o tempo da pandemia, em que o peso do desemprego tocou estes níveis, é preciso recuar a 2002 para encontrar valores inferiores aos 5,9% revelados pelo INE.

De acordo com as Estatísticas do Emprego do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgadas esta quarta-feira, o peso da população desempregada iguala assim os 5,9% registados no segundo e terceiro trimestres de 2022, altura em que a economia estava a recuperar ainda com muita força dos efeitos destruidores da pandemia covid-19 que arrasaram com as dinâmicas normais do mercado de trabalho.

Nesta série do INE, que remonta ao início de 2011, só houve um valor de taxa de desemprego mais baixo: 5,7% mas este foi o registo do segundo trimestre desse ano conturbado, o primeiro da pandemia, uma época totalmente atípica da economia e do mercado de trabalho, que compara mal com os tempos atuais.

Com os confinamentos da pandemia e as fortes restrições à mobilidade, milhares de pessoas sem trabalho não puderam sequer procurar emprego e as muitas empresas que eventualmente podiam contratar foram obrigadas a fechar temporariamente, tendo muitas depois falido.

Fora esses registos da época pandémica, que foi totalmente atípica, as séries longas do Banco de Portugal (que remontam ao início de 1977, mas seguem uma metodologia ligeiramente diferente da do INE) mostram que o peso mais baixo do desemprego aconteceu no segundo trimestre de 2002, também com uma taxa de 5,9%.

Desde essa altura, a taxa de desemprego em Portugal subiu de forma persistente. Em 2007/2008 estalou a grande crise financeira que depois migrou com violência para a economia e para as contas públicas.

O país entraria em recessão e em 2011 em bancarrota, tendo sido submetido a um programa de austeridade e ajustamento (da troika, implementado por um governo PSD-CDS) que fez disparar o desemprego e reduziu salários e pensões.

No primeiro trimestre de 2013, já com dois anos de programa de ajustamento, Portugal registou a taxa de desemprego mais elevada dos últimos 45 anos (desde 1980, pelo menos): em janeiro-março de 2011, a taxa chegou a uns expressivos 18,5%, mostra a série atual do INE.

Oficialmente, há 329 mil desempregados em Portugal

O mesmo instituto explica que a marca de 5,9% de desemprego do segundo trimestre compara com 6,1% de há um ano e 6,6% dos primeiros três meses deste ano, dando ainda conta de que "a população desempregada, estimada em 329,5 mil pessoas, diminuiu 9,9% (36,3 mil) em relação ao trimestre anterior e 0,8% (2,5 mil) relativamente ao trimestre homólogo".

O INE refere que a taxa de desemprego de jovens (16 a 24 anos) também está a recuar. "Foi estimada em 18,1%, diminuiu em relação ao trimestre anterior (3,1 pontos percentuais ou p.p.) e ao homólogo (3,9 p.p.)".

Em termos homólogos, o peso do desemprego caiu em todas as regiões do país menos na Grande Lisboa e na Península de Setúbal. Em Lisboa, o aumento foi de 0,1 pontos percentuais para 6,5%. Na região de Setúbal, o nível de desemprego agravou-se em 0,6 pontos, atingindo uma taxa total regional de cerca de 8,6% da população ativa.

A maior descida no desemprego entre o segundo trimestre de 2024 e igual período deste ano terá ocorrido nos Açores, onde a taxa cedeu 1,6 pontos, para cerca de 3,9%.

Segundo o instituto, "para a variação homóloga da população desempregada contribuíram, principalmente, os decréscimos nos seguintes grupos populacionais: homens (mais 6,7 mil empregos; aumento de 4,3%); pessoas dos 16 aos 24 anos (11,8 mil; 15,1%); que completaram, no máximo, o 3.º ciclo do ensino básico (16,3 mil; 11,8%); à procura de primeiro emprego (5,2 mil; 11,1%); e desempregados há 12 e mais meses (3,9 mil; 3%)".

"No 2.º trimestre de 2025, 38,3% da população desempregada encontrava-se nesta condição há 12 e mais meses (desemprego de longa duração), valor superior em 1,4 p.p. ao do trimestre precedente e inferior em 0,9 p.p. ao do trimestre homólogo", diz ainda o INE.

Esta condição de permanência demorada no desemprego afeta, como sempre, as pessoas mais velhas, sobretudo homens. Segundo o INE, o desemprego de longa duração "teve maior prevalência entre os homens (39,2%), aqueles dos 55 aos 74 anos (60,3%) e entre os que completaram, no máximo, o 3.º ciclo do ensino básico (46%)".

Criação de emprego continua e emprego bate novo recorde

Como referido, o emprego total na economia cresceu 2,9%, o ritmo mais elevado desde o terceiro trimestre de 2022 (uma vez mais, altura em que a economia portuguesa se estava a recompor dos efeitos da pandemia).

Com mais esta subida, o volume de emprego total volta a bater um máximo histórico, estando agora nos 5.248.300 postos de trabalho.

Segundo o INE, "no 2.º trimestre de 2025, a população empregada foi estimada em 5.248,3 mil pessoas, atingindo novamente o valor mais elevado da série iniciada em 2011, tendo aumentado 1,3% (66,9 mil) em relação ao trimestre anterior e 2,9% (148,4 mil) relativamente ao trimestre homólogo".

"A taxa de emprego situou-se em 57,1% [peso da população empregada na população em idade ativa], tendo aumentado 0,5 p.p. em relação ao 1.º trimestre de 2025 e 0,8 p.p. relativamente ao 2.º trimestre de 2024."

Segundo o INE, a variação do emprego entre segundo trimestre de 2024 e igual período de 2025 resultou, essencialmente, dos acréscimos nos seguintes agregados: homens (mais 80,9 mil empregos; aumento de 3,1%); pessoas dos 25 aos 34 anos (54,7 mil; 5,5%); com ensino secundário ou pós- -secundário (127,9 mil; 7,8%).

Por atividades, o INE diz que os maiores contributos para a criação de emprego veio dos "empregados no sector dos serviços (123,2 mil; 3,3%), nomeadamente no conjunto das secções de atividade G (Comércio por grosso e a retalho; reparação de veículos automóveis e motociclos), H (Transportes e armazenagem) e I (Alojamento, restauração e similares), cujo aumento (63,3 mil; 4,9%) representou 51,4% da variação do sector".

Por tipo de contrato, o INE indica que o universo de trabalhadores por conta de outrem deu um impulso de 103,6 mil empregos; mais 2,4%, destacando ainda os acréscimos nos empregados "com contrato sem termo (108,0 mil; 3%); e a tempo completo (146,6 mil; 3,1%)".

Teletrabalho cresce

"Entre os que trabalharam em casa, 95,6% (1.095,8 mil) estiveram em teletrabalho, ou seja, utilizaram tecnologias de informação e comunicação (TIC) para desempenhar as suas funções a partir de casa", revela o INE.

"Este regime de prestação de trabalho abrangeu 20,9% do total da população empregada, a mesma proporção do que no trimestre anterior e mais 0,7 p.p. do que em igual período de 2024."

Fonte: INE
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