O emprego continua a bater recordes históricos em Portugal, de acordo com os dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE), que publicou as estimativas do primeiro trimestre deste ano, esta quarta-feira.O emprego total na economia portuguesa aumentou 2,4% nos primeiros três meses de 2025 face a igual período do ano passado, o que representa uma criação de 122 mil postos de trabalho. Atingiu-se assim um novo máximo histórico de quase 5,2 milhões de empregos.Neste aumento, cerca de um quinto (mais de 20%) veio do setor público (onde se inclui a defesa), que ofereceu um impulso de quase 8% ou, seja, mais de 25 mil novos empregos em apenas um ano, segundo os cálculos do DN com recurso às bases de dados do novo inquérito do INE.No final do primeiro trimestre, este agregado de setor público e defesa contava com mais de 351 mil trabalhadores, o maior valor desde meados de 2022.As Administrações Públicas (todo o universo do setor público) têm muito mais gente, como se sabe, quase 754 mil trabalhadores (final de 2024), segundo a Direção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP).A diferença explica-se porque a metodologia do INE só classifica os empregos públicos puros, isto é, dos serviços públicos onde o Estado não tem concorrência dos privados.Isso exclui da equação o pessoal dos hospitais e das escolas. Mas não exclui o reforço grande recorrente da pandemia que existiu nos quadros de pessoal administrativo e outros ao nível dos ministérios, por exemplo.O INE explica que são empregos públicos (setor da defesa, incluído) todos os que estão estimados nas "atividades que pela sua natureza, não podem exercer-se numa base de mercado, desenvolvidas no âmbito da Administração Pública Central, Regional Autónoma e Local".Ambas as subidas (variações homólogas percentual e absoluta) no referido grupo "Administração Pública e Defesa; Segurança Social Obrigatória" são as maiores desde o segundo ano da pandemia (2021), altura em que se refletiu a subida substancial do número de trabalhadores públicos, que começou a aparecer nos números oficiais logo no final de 2020, no contexto do reforço da resposta pública ao grave problema da covid-19.O INE não segrega o emprego do setor militar (defesa), mas os números do governo (DGAEP) mostram que esta área renasceu no final do ano passado após uma razia de três anos (destruição de empregos entre o último trimestre de 2021 e o terceiro de 2024).Entretanto, o contexto global degradou-se de forma substancial e rápida. Donald Trump chegou ao poder nos EUA, assistiu-se ao prolongamento de guerras que muitos acharam que seriam curtas (Ucrânia e Gaza). A Europa avançou com um plano de "rearmamento", muitos países (caso da Alemanha e França, os maiores), idem.Assim, no último trimestre de 2024, o emprego público na área da defesa nacional portuguesa subiu pela primeira vez (1%) em três anos: a DGAEP contabilizava já 30 mil profissionais (militares e os outros) no final de dezembro.Outro facto relevante é que os impulsos maiores no emprego público tendem a coincidir com os momentos eleitorais.Este ano não é exceção: há duas eleições marcadas. As Autárquicas devem acontecer em setembro/outubro e as Legislativas são no próximo domingo 18 de maio.Mais dinâmico que o emprego público, só o do comércio/oficinas de veículos automóveis.Segundo o INE, aqui, no comércio, a criação de emprego superou os 4% (homólogos), oferecendo mais de 30 mil novos empregos à economia, ou seja, explica 25% do aumento líquido nacional.No final do primeiro trimestre, estas atividades comerciais eram responsáveis por 762 mil postos de trabalho em Portugal.Emprego seca na agriculturaOs números do emprego são globalmente positivos, mas há setores que destoam bastante pela negativa.O pior é o grupo "agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca", que perdeu mais de 21 mil postos de trabalho no ano que termina no primeiro trimestre de 2025.É uma quebra superior a 14%, a mais grave destas séries do INE, que remontam a 2011. O respetivo volume de emprego caiu para 127 mil indivíduos, o segundo mais baixo destes registos.A empresa de recrutamento e gestão de recursos humanos Eurofirms fala de "uma inversão face à tendência de crescimento que o setor vinha a registar desde 2021".Em comunicado, a multinacional espanhola diz que isto "reflete não só os desafios da inclusão no setor, como também a falta de renovação geracional".Há "falta de pessoal qualificado" e “a procura por trabalhadores aumenta em períodos específicos, como em momentos de plantação e colheita, o que pode dificultar a atração de candidatos disponíveis”, refere um porta-voz da SALM, uma empresa holandesa sediada em Salvaterra de Magos. "Muitos jovens não consideram a agricultura como uma carreira viável e isso resulta na escassez de mão de obra", lamenta o mesmo responsável, citado pela Eurofirms.Fim do regime da manifestação de interesse trava fluxo de imigrantes na agriculturaRecorde-se que, no início de junho do ano passado (2024), o governo acabou com o regime existente, dificultando a partir daí a entrada de mão de obra imigrante, trabalhadores muito procurados por setores como a agricultura, a construção ou a restauração, até porque a maioria aceita trabalhar por salários bastante mais baixos do que a norma e por condições muito mais precárias."O regime jurídico vigente [até 3 de junho de 2024] permitia, como alternativa à obtenção de um visto de trabalho, a regularização da permanência em território nacional através do procedimento de manifestação de interesse. Esse procedimento possibilitava o pedido de legalização para o exercício de uma atividade profissional subordinada ou independente, sem a necessidade de possuir um visto válido para esse fim", explica o escritório de advogados Antas da Cunha.Num primeiro momento, os empresários não reconheceram que houvesse problemas no fluxo de trabalhadores imigrantes, mas em novembro, o quadro deteriorou-se e as queixas começaram.Segundo a Lusa, em novembro, os empresários da hotelaria, agricultura e construção em Portugal começaram a mostrar "preocupação com a falta de mão-de-obra, aguardando o cumprimento das promessas de reposição do fluxo de imigrantes, suspenso com o fim do regime das manifestações de interesse, em junho".Portugal tem "uma falta crónica de mão-de-obra" que "só é compensada pelos estrangeiros", afirmou à Lusa o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), considerando, em novembro último, que o fim do quadro das manifestações de interesse - um recurso jurídico que permitia a regularização a quem chegasse com visto de turista e começasse a trabalhar - mostrou a falta que os imigrantes fazem ao tecido económico português."Nos últimos meses, assistimos a um reconhecimento desta realidade. Julgo que hoje todos os partidos reconhecem que a economia portuguesa precisa de mão-de-obra estrangeira, o que não acontecia há uns meses", disse à Lusa o líder da CAP, Álvaro Mendonça e Moura.Desemprego recuaO INE revelou também que a população desempregada terá agora cerca de “365,8 mil pessoas”, menos 0,7% (2,5 mil) face ao trimestre anterior e menos 1% (3,8 mil) face ao período homólogo. Assim, a taxa de desemprego voltou a descer e estará agora em 6,6% da população ativa.Já o teletrabalho está em franca expansão. “A proporção da população empregada em teletrabalho, isto é, que trabalhou a partir de casa com recurso a tecnologias de informação e comunicação, foi de 20,9% (1,083 milhões de pessoas), mais 0,4 pontos percentuais (p.p.) do que no 4.º trimestre de 2024 e mais 1,7 p.p. do que no 1.º trimestre desse ano”, diz o INE.