Os preços do petróleo vão subir se as chamadas "tarifas secundárias" – que o Presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, ameaça impor sobre os países que compram mais petróleo e gás à Rússia – forem avante, alerta a agência de avaliação da dívida Standard & Poor's (S&P). Os principais alvos destas novas sanções aventadas pela Casa Branca são, para já, Índia, Turquia, Brasil, França ou Hungria, diz um novo estudo da S&P.Os preços internacionais da energia, designadamente das matérias primas petróleo e gás, têm tido um ano de alta volatilidade.Depois de picos notáveis no início de abril e em meados de junho (ambos coincidiram com anúncios explosivos de Trump nas tarifas contra vários países de relevo), as cotações têm vindo a aliviar de forma também notória, mas essa janela pode estar a fechar, segundo os analistas da agência de ratings.Eventualmente, no melhor cenário, pode ser uma interrupção temporária, até porque a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) está, nesta fase, a debitar mais petróleo face aos atuais níveis de procura, dizem os mesmos economistas.O estudo da equipa coordenada por Zahabia Gupta refere que "apesar do otimismo do mercado com os anúncios de vários acordos comerciais — incluindo entre os EUA e o Japão e entre os EUA e a União Europeia (UE) — a ameaça de os EUA imporem tarifas secundárias sobre as suas importações de parceiros comerciais da Rússia pode gerar novos obstáculos ao comércio global".Mais: "Poderá prejudicar as negociações comerciais em curso entre os EUA, incluindo com a China e a Índia" e, além disso, "as interrupções no fornecimento de petróleo podem levar a subidas temporárias dos preços do petróleo"."China, Índia e Turquia são os maiores parceiros comerciais da Rússia em termos absolutos, mas as economias da Ásia Central têm a maior exposição às importações russas em percentagem do Produto Interno Bruto (PIB)", elenca a S&P.No caso da Europa, "embora a UE tenha reduzido significativamente a sua quota nas importações de gás russo, Hungria e França, juntamente com alguns outros países, continuam a ser compradores significativos de gás natural e de gás natural liquefeito russos".A S&P diz que uma "implementação total das tarifas secundárias dos EUA é improvável, dadas as negociações comerciais em curso e as potenciais consequências para as empresas e consumidores americanos", mas já há imensos "investidores" preocupados que pediram uma avaliação de riscos à agência de ratings.Neste novo estudo, "procuramos avaliar os potenciais efeitos e responder às questões dos investidores", justificam os analistas.Depois de um encontro de alto nível entre Trump e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, em Washington, a Índia ficou no limbo porque Nova Deli "ainda não assinou um acordo comercial" de forma a evitar que os seus produtos sejam sujeitos a uma tarifa de base de 25%, aponta a S&P.No entanto, Donald Trump quer ir mais longe. Numa entrevista à televisão CNBC, disse que "a Índia não tem sido um bom parceiro comercial porque fazem muitos negócios connosco, mas nós não fazemos negócios com eles".No caso da Índia, a tarifa acenada por Trump, numa das famosas cartas enviadas a dezenas de países, é de 25%, mas "penso que vou aumentar esse valor significativamente nas próximas 24 horas porque eles [os indianos] continuam a comprar grandes quantidades de petróleo russo", afirmou o líder dos EUA.Na passada segunda-feira, após Trump ter anunciado um aumento das tarifas sobre as importações de produtos indianos em jeito de retaliação, a diplomacia indiana acusou Washington de hipocrisia e prometeu responder para proteger os interesses do país."Ter como alvo a Índia é injustificado e irracional", disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros indiano, Randhir Jaiswal, citado pela Lusa.Mais um ultimatoCerto é que, recorda a S&P, "o Presidente Trump emitiu um ultimato de 10 dias – até 8 de agosto – para garantir um cessar-fogo russo na Ucrânia" e, ato contínuo, "afirmou que os EUA poderiam impor sanções secundárias, ou tarifas até 100%, aos parceiros comerciais da Rússia".O preço do barril de petróleo tem estado a cair de forma visível, compensando os efeitos desfasados, mas presentes e negativos sobre a atividade (investimento e consumo) das economias europeias decorrentes dos aumentos das taxas de juro (de meados de 2022 até finais do ano passado).Segundo o gabinete de estudos (GPEARI) do Ministério das Finanças português, o custo médio acumulado do Brent, em dólares, recuou mais de 15% no primeiro semestre deste ano (face a igual período do ano passado). Como o euro tem vindo a valorizar face ao dólar, o custo em euros caiu ainda mais, quase 22% na primeira metade deste ano, indica o gabinete das Finanças. Esta terça, o contrato de referência do Brent recuou mais de 1%, para 67,6 dólares.No entanto, a S&P avisa que o petróleo vai ser a nova arma negocial de Trump."Interrupções repentinas no fornecimento de crude tendem a aumentar a volatilidade dos preços do petróleo", diz a agência."A Rússia produziu cerca de nove milhões de barris por dia em junho, o equivalente a 8,5% do crude mundial, sendo China, Índia e Turquia os maiores compradores"."A volatilidade do mercado, que eleva o prémio de risco do petróleo, e a diferença de preço com o petróleo bruto não russo podem gerar preços e contas de importação temporariamente mais elevados para os países afetados", refere a S&P."No entanto, uma queda no fornecimento de petróleo russo e o impacto nos preços podem ser compensados pelos mercados actualmente com excesso de oferta e pela capacidade excedentária nos países da OPEP+ de mais de quatro milhões de barris por dia".Seja como for, neste quadro, "os EUA podem utilizar as tarifas secundárias como tática de negociação para chegar a acordos comerciais"..Lula quer negociar tarifas e pede reflexão a Trump. Chanceler está nos EUA e disposto a negociar.Tarifas: Pequim abre mercado a café brasileiro em resposta a taxas dos EUA