Projeto para a descarbonização do Super Bock Group foi apresentado na presença do ministro da Economia
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Super Bock reforça ambição na descarbonização e investe 80 milhões até 2030

Objetivo é atingir a neutralidade carbónica das fábricas até ao final da década. Depois, até 2050, o foco será reduzir as emissões na cadeia de valor, que pesam 90% da pegada carbónica do grupo.
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O Super Bock Group (SBG) apresentou, nesta sexta-feira, o seu roteiro de descarbonização, no âmbito do qual prevê aplicar 80 milhões de euros até 2030. Este é o valor acumulado do investimento, que arrancou em 2022, tendo já ações no terreno que contabilizam pouco mais de 30 milhões de euros. O objetivo é assegurar a neutralidade carbónica das suas fábricas, até 2030, através da modernização de infraestruturas e sistemas, de modo a tornar os seus processos “mais eficientes e sustentáveis”, com foco nos consumos de energia, água e materiais de embalagem. O roteiro contempla, ainda, ações de restauro ecológico e de promoção da biodiversidade.

Em marcha desde 2022, o processo tinha estado muito centrado nas questões energéticas e na diminuição das emissões diretas do Super Bock Group. Agora, a meta vai além disso e pretende envolver toda a cadeia de valor, até 2050. O roteiro foi definido tendo como ponto de partida uma “rigorosa avaliação da pegada de carbono e hídrica” do grupo, estabelecida em 450 mil toneladas de emissões de CO2 ao ano.

"Pelos benchmarks que temos, diria que estamos dentro do que é o padrão normal para a nossa indústria. Como sabe, temos um acionista que a Carlsberg, também do setor, e há outras empresas que também divulgam a sua pegada de carbono, e eu diria que estamos na média,. E, portanto, vamos ter que trabalhar para estarmos no melhor quartil, que a nossa é sempre essa, a de sermos os melhores", avançou, em declarações ao Diário de Notícias, o CEO do SBG.

A questão, explica Rui Lopes Ferreira, é que só 10% das emissões totais do grupo são emissões diretas. Os restantes 90% advém da cadeia de valor. O que obrigará a novos investimentos, a partir de 2030, mas que não estão ainda contabilizados. "Vamos ter que trabalhar em conjunto com os nossos parceiros porque, sendo emissões indiretas, são eles os primeiros responsáveis por elas, mas que se repercutem em nós. Sabemos que isso também nos vai obrigar a fazer investimentos, mas é algo que, nesta fase, não conseguirmos ainda quantificar", sublinha.

Mas também aí há já trabalho em marcha. "Avançamos já com o processo de submissão à SBTi - Science Based Target Initiative para definição do plano estratégico de descarbonização tendo este foco. A candidatura foi aceite e, ao longo dos próximos meses, começaremos a trabalhar em conjunto para definir objetivos nas três áreas mais representativas, que são as embalagens, ou seja, as garrafas, os equipamentos de refrigeração e a componente agrícola", refere Rui Lopes Ferreira. Que acrescenta: "Não temos qualquer ambição de dizer que vamos ser neutros em carbono no Scope 3 (as emissões indiretas) até 2030, até porque isso seria impossível. O que estamos a imaginar é que vamos ter que ter um roteiro para as próximas duas décadas, para que, até 2050, trabalhando em conjunto com os nossos parceiros, possamos ser neutrais em toda a cadeia de valor".

Um trabalho em parceria que não é novo para o grupo. "Isto vai exigir trabalho conjunto, mas que é algo que já fazemos com os nossos principais fornecedores, seja a Barbosa e Almeida, a Logoplast ou a Malte Europe, na componente agrícola. São fornecedores, mas são também parceiros, com quem desenvolvemos soluções e engendramos, com alguma criatividade também, soluções para o futuro. Um exemplo disso é o trabalho que tem vindo a ser feito, nos últimos 10 anos, e que levou a uma redução muito substancial, na ordem dos 30%, no peso das nossas garrafas de vidro", avança o CEO do SBG.

Em termos energéticos, destaque para a instalação de mais de 15 mil painéis fotovoltaicos - um projeto que está já em curso, em parceria com a Greenvolt Comunidades - até 2026, nas cinco unidades fabris do grupo: na sede, em Leça do Balio, em Santarém e nos centros de produção de águas minerais naturais em Pedras Salgadas, Castelo de Vide e Ladeira de Envendos. Este último tem já uma comunidade ativa a partilhar energia.

O objetivo é, no total, ter uma capacidade instalada de mais de 8 mil megawatts que evitará "a emissão de mais de três mil toneladas de CO2 ao ano". O excedente energético será partilhado com "mais de 1500 famílias nas comunidades envolventes, num raio de quatro quilómetros". O projeto prevê ainda a instalação de caldeiras e de bombas de calor de biomassa, que irão substituir o uso de gás natural.

A gestão eficiente da água, num grupo cujo principal negócio são as bebidas, é determinante. E, por isso, o SBG tem vindo a adotar tecnologias "mais eficientes", de modo a otimizar a utilização da água, e a implementar sistemas de reaproveitamento em circuito fechado. O que tem permitido que, atualmente, o grupo utilize 2,8 litros de água por cada litro de bebida produzida, "ao contrário dos mais de 10 litros que usava nos anos 90".

O objetivo estabelecido no roteiro de descarbonização é chegar, até 2030, aos 2,2 litros de água por litro de bebida produzida.

Além de minimizar, o roteiro contempla ações e iniciativas de compensação, com dois projetos de restauro ecológico e reflorestação em terrenos contíguos ao Pedras Salgadas Spa & Nature Park e à fábrica de cervejas em Leça do Balio (Quinta da Sabina), e que "irão contribuir para compensar o consumo de água e as emissões de carbono, ajudando a mitigar o impacto da sua atividade e a preservar o ambiente".

O projeto em Pedras Salgadas, que está a ser desenvolvido em parceria com a ANP|WWF, contempla a expansão do atual espaço arbóreo do parque termal de 20 para 26,3 hectares, "numa lógica agroflorestal para recuperação dos solos e aumento da capacidade de retenção de água em 23m3/ano e permitir o sequestro de CO2, entre 25 e 69 toneladas ao ano".

Em Leça do Balio o objetivo é o mesmo, com o restauro das funções ecológicas da Quinta da Sabina, num terreno com 1,8 hectares, a contar com o apoio da Verde - Associação para a Conservação Integrada da Natureza para, entre outras medidas, apoiar a proteção das águas subterrâneas, criar microhabitats para a biodiversidade e permitir o sequestro de CO2, até 22 toneladas/ano.

Destaque, ainda, para as ações de recuperação e restauro do rio Leça, nos seus 48 quilómetros da nascente à foz, que o SBG promove através de um protocolo com a Associação Corredor Rio Leça.

Do investimento total previsto, o grupo submeteu candidatura ao Plano de Recuperação e Resiliência no valor de oito milhões, sendo que as despesas elegíveis consideradas foram de apenas seis milhões de euros. Destes, 1,5 milhões foram já executados, os restantes estão em curso. "Como todos sabemos, há atrasos no PRR e ainda não temos decisões quanto aos nossos apoios. Mas não paramos, nem deixamos de os executar por causa disso. Vamos aguardando", sustenta Rui Lopes Ferreira.

Sobre o negócio do Super Bock Group e o balanço de 2024, o CEO refere apenas que foi um "ano tranquilo", em que a economia portuguesa teve "um bom desempenho" e a indústria de bebidas "evoluiu em conformidade". Quanto a 2025, diz-se confiante. "Estamos confiantes que 2025 também irá correr bem, porque o turismo continua a ser uma força motriz forte da nossa economia, e o ciclo político, depois das polémicas do orçamento do ano passado, político está mais estabilizado. Aparentemente, as perspetivas macroeconómicas são positivas, ainda no fim da semana passada foi divulgado que o PIB do último trimestre de 2024, em cadeia, cresceu 1,5%, o que é absolutamente notável e isso dá uma tração forte à economia portuguesa", sublinha.

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