A situação é transversal a todos os setores, mas o dos transportes tem a pior performance, com menos de 10% de cumpridores.
A situação é transversal a todos os setores, mas o dos transportes tem a pior performance, com menos de 10% de cumpridores.Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

Só 18% das empresas cumprem prazos de pagamentos e há 68,2 mil milhões de euros em dívida

Os dados são da 9.ª edição do estudo sobre comportamentos de pagamentos em Portugal e referem-se a maio de 2024. Mostram um agravar dos atrasos, que eram de 27,1 dias no final de 2021, passaram a 21,9 dias em finais de 2022 e são agora de 23,1 dias.
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Só 18% das empresas em Portugal cumprem os prazos de pagamento acordados com os fornecedores, indica um estudo da Informa D&B, que aponta para a existência de 68,2 mil milhões de euros em faturas por liquidar. Os atrasos  nos pagamentos são transversais a todos os setores e a todas as regiões. “O comportamento das empresas em Portugal terá necessariamente de melhorar. O cumprimento dos prazos acordados com os fornecedores é um dos fatores considerados nas práticas ESG [de sustentabilidade ambiental, social e corporativa] das empresas”, diz a diretora-geral da Informa D&B, lembrando que estas práticas “terão um peso cada vez maior na avaliação das empresas, com consequências na sua reputação, no acesso a parcerias ou a financiamento”.

Estes são dados de maio de 2024 e pertencem à 9.ª edição do estudo sobre os comportamentos de pagamentos das empresas, realizado pela Informa D&B, e que vai, na próxima semana, ser divulgado pelo país num ciclo de conferências subordinadas ao tema “Programa Compromisso Pontual”, uma iniciativa conjunta da ACEGE (Associação Cristã de Empresários e Gestores), CIP e IAPMEI, entre outros.

Sendo certo que os atrasos nos pagamentos “podem gerar graves constrangimentos” na liquidez das empresas credoras, em especial das de menor dimensão, não deixa de ser curioso que são as mais pequenas as que mais pagam na altura devida.

É verdade que as micro empresas, com menos de 10 funcionários, pagam, em média, com um atraso de 23 dias, mas uma em cada cinco empresas deste universo - 21,6% para se ser mais exato - liquidam as suas faturas a tempo e horas. Consoante aumenta a dimensão, diminui o prazo de atraso, mas diminui também a percentagem de empresas cumpridoras.

Entre as pequenas empresas, com 10 a 49 trabalhadores, há 16,7% que pagam na altura devida. No universo das médias empresas essa parcela baixa para 9,3% e nas grandes empresas, aquelas que têm mais de 249 trabalhadores, a fatia de cumpridoras é de apenas 3,7%.

No total, o número médio de atraso nos pagamentos é de 23,1 dias, mas há 5,5% das empresas nacionais que pagam com atrasos superiores a 90 dias. Na fasquia dos 30 a 90 dias de atraso estão 8,9% das empresas e mais de dois terços, 67,6%, do total paga até 30 dias fora do prazo. 

A “cultura de incumprimento”, como lhe chama o estudo, é transversal a todos os setores de atividade, sendo que as empresas das tecnologias de informação e comunicação eram, em maio, as que tinham maior peso nas cumpridoras: 25,6% pagam no prazo. Seguem-se as atividade imobiliárias (21,7% de cumpridoras), o retalho (21,4%), o comércio grossista e a construção, ambos com 20,1% de empresas a pagar na altura certa. No fundo da tabela, o alojamento e restauração, que conta apenas com 10,7% de empresas cumpridoras, e os transportes, com 9,6% de entidades a liquidar faturas dentro do prazo. O prazo médio de atraso variava entre os 18,9 dias dos retalhistas e os 30,1 dias dos transportadores.

Em termos regionais, o Algarve tem a maior percentagem de cumpridores (19,9% das empresas da região), seguindo-se o Oeste e Vale do Tejo (19,1%) e o Centro (19%). Na Grande Lisboa, 18,2% dos empresários pagam aos seus fornecedores  dentro do prazo acordado e no Norte essa fatia é de 17,6%. A Região Autónoma da Madeira tem não só a percentagem mais baixa de cumpridoras (13,7%), como tem o atraso médio maior: 26,8 dias. O mais baixo é o da Região Centro, com 20,6 dias em média.

O estudo compara ainda o comportamento das empresas nacionais com o panorama internacional e conclui que Portugal é dos menos cumpridores. Dinamarca, Polónia e Nova Zelândia são os melhores pagadores, com 94,2%, 82,7% e 81,4%, respetivamente, do seu tecido empresarial a liquidar faturas dentro dos prazos. No top 3 dos piores pagadores, além de Portugal estão o Egito, com 18,4% de cumpridores apenas, e a Roménia, com 9%.

Portugal também não fica bem na fotografia face aos seus principais parceiros comerciais. “A percentagem de empresas que em Portugal cumpre os prazos de pagamento está a afastar-se dos números registados na Europa”, alerta a estudo, dando conta que, no final do ano passado, 47,7% dos países europeus monitorizados pagavam dentro dos prazos. À data [final de 2023], em Portugal, eram 19,2% os cumpridores. A diferença é de 29 pontos percentuais, quando, em 2009, era de apenas 14 pontos percentuais.

O trabalho conclui ainda que há 45 mil empresas em Portugal que apresentam “risco médio-alto ou elevado” de, nos próximos 12 meses, registarem atrasos de pagamento superiores a 90 dias, o chamado risco de delinquency. Cruzado este dado com o indicador de resiliência financeira, o número de empresas em risco de incumprimento baixa para 41 mil.

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