O cenário mais temido pelos 200 trabalhadores da fábrica da Tupperware em Montalvo, no concelho de Constância, concretizou-se. O encerramento da unidade, a partir do próximo dia 08 de janeiro, foi comunicado na passada quinta-feira à noite aos funcionários que ficarão agora sem emprego. Na manhã de ontem, a Câmara Municipal de Constância anunciou publicamente o desfecho “difícil para o concelho e para a região”. “Deixamos uma palavra de solidariedade a todos os trabalhadores e respetivas famílias. Reiteramos que a câmara municipal e os seus serviços estão disponíveis para ajudar e apoiará os trabalhadores dentro daquilo que for possível”, escreveu o presidente da câmara, Sérgio Oliveira, na página oficial do município. .A decisão surge no seguimento do pedido de insolvência da empresa norte-americana, no passado mês de setembro. A multinacional, que acumulou dívidas aos credores no valor de 700 milhões de dólares [cerca de 627 milhões de euros], justificou, na altura, ter sido “severamente impactada pelo desafiador ambiente macroeconómico”. A fábrica em Constância, que opera desde 1980, recebeu ordens para parar a produção a 12 de setembro, alegadamente para para reduzir o stock em armazém, conforme avançou o DN. .Para o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Centro-Sul e Regiões Autónomas (SITE-CSRA) o fecho da unidade fabril representará fortes consequências na região. “Estamos a falar de 200 postos de trabalho e de todas as suas famílias. Esta é uma questão dramática e que pode impactar enorme quer na economia local, quer na economia nacional”, alerta ao DN o presidente Ricardo Rodrigues. O sindicalista defende que é necessária a intervenção do Governo “para encontrar uma alternativa a estes trabalhadores”..Contactado pelo DN, o Ministério da Economia assegura estar atento e a seguir “muito de perto” a situação. “O Ministério da Economia está em contacto com a câmara municipal de Constância e em articulação com o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, no sentido de apoiar estes trabalhadores”, indica João Rui Ferreira numa nota enviada pelo gabinete. O Secretário de Estado da Economia adianta que o Ministério continua a trabalhar “para aumentar a competitividade das empresas de forma a estarem preparadas para a conjuntura atual e para os desafios futuros”. .O DN contactou ainda a administração da Tupperware em Portugal que não quis prestar esclarecimentos. Também a Câmara Municipal de Constância escusou-se a comentar a situação até que existam novos desenvolvimentos sobre o futuro destas pessoas. .Clima de medo entre trabalhadores.O SITE-CSRA diz estar “de portas abertas para os trabalhadores” que precisarem de assistência neste processo, apesar de a estrutura sindical não ter nenhum associado na fábrica de Montalvo. O representante critica a empresa de acusa de não prestar esclarecimentos e de instar uma cultura de medo entre os funcionários, motivo que justifica o facto de os trabalhadores não terem recorrido ao auxílio sindical em setembro, altura em que surgiram as primeiras ameaças de um futuro incerto. .“Sempre existiu naquela empresa uma grande cultura de medo. Quando começaram os rumores da situação da Tupperware as pessoas demonstraram preocupação, mas tiveram receio que o sindicato interviesse. Sempre foi difícil fazer trabalho sindical na fábrica, a empresa sempre limitou muitas liberdades no que respeita aos direitos dos trabalhadores”, sublinha..Do outro lado do Atlântico, a venda da Tupperware Brands a um grupo de credores recebeu já luz verde. Enquanto decorre este processo de reestruturação, a marca tem permissão para continuar a vender os seus serviços. Ainda assim, só irá operar nos principais mercados, incluindo os Estados Unidos, Canadá, México, Brasil, China, Coreia, Índia e Malásia, adianta a Reuters.