Quase metade dos portugueses não paga os seus créditos a tempo
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Quase metade dos portugueses não paga os seus créditos a tempo

Mais velhos são os que poupam mais. Mas há ainda 21% dos portugueses que admitem não ter quaisquer hábitos neste sentido. Dados são do Barómetro Hábitos Financeiros dos Portugueses
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45% dos portugueses admite não poupar de forma de regular e apenas 53% dos inquiridos afirma que paga sempre os seus créditos atempadamente. Estas são duas das principais conclusões do 1.º Barómetro Hábitos Financeiros dos Portugueses, desenvolvido em parceria com o Centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica Portuguesa e divulgado esta quinta-feira pelo Doutor Finanças.

Entre os inquiridos que dizem poupar de forma regular, perto de metade poupa entre 5 e 20% e apenas 32% afirmam reservar parte do rendimento logo no início do mês. 21% admitem não ter qualquer hábito de poupança, o que é mais comum entre as faixas etárias mais velhas.

"O facto de os portugueses não pouparem de forma regular quer dizer que têm as suas despesas muito próximas do seu nível de rendimento, o que quer dizer que qualquer desafio que lhes apareça vai ter difícil resolução, e quer dizer que não estão a preparar o futuro de forma conveniente, porque não estão a criar margem de conforto. É preciso perceber se é uma fase da vida, se é por falta de esforço, por ganharem pouco ou por gastarem demasiado", comentou ao DN o porta-voz do estudo e Chief Education Officer do Doutor Finanças, Sérgio Cardoso.

Outro dado preocupante é que, no universo dos inquiridos, 27% possui crédito habitação mas apenas pouco mais de metade destes (53%) indica que paga sempre os seus créditos a tempo. "Destaca-se ainda uma elevada taxa de não resposta a esta questão (42%) que é transversal a todos os níveis de rendimento", refere uma nota enviada às redações.

Para Sérgio Cardoso, "quando as pessoas têm a sua vida equilibrada, com despesas próximas dos rendimentos, qualquer desafio que surja vai criar um desequilíbrio". "Qualquer despesa com a qual não se está a contar vai criar um desafio no orçamento. Ainda que os créditos sejam importantes, é mais importante ir ao médico, por exemplo. Muitas pessoas não responderam à questão. É um nível de ansiedade nas famílias que é difícil de gerir e pode levar a outras consequências", acrescentou.

O barómetro conclui ainda que mais de um terço dos inquiridos (35%) fala muito esporadicamente ou nunca sobre dinheiro em família, uma realidade mais comum nos agregados familiares com idade mais avançada.

Embora a maioria dos inquiridos diga que gere as suas próprias contas bancárias, mais de metade dos casais (57%) tem conta própria e apenas 54% tem conta conjunta, ou seja, há casais com várias contas bancárias.

No que concerne às formas de aplicar o dinheiro, os depósitos a prazo continuam a ser a principal escolha (29%), seguidos pelos Certificados de Aforro (15%). Apenas 4% recorre a ativos digitais.

A segurança é o critério mais valorizado na escolha de um produto financeiro (42%), seguida pela rentabilidade esperada (22%), o que, no entender de Sérgio Cardoso, "continua a demonstrar que os portugueses são muito conservadores e privilegiam segurança à rentabilidade, preferindo não arriscar".

O barómetro também analisou a literacia e autonomia financeira dos filhos, tendo a maioria dos pais afirmado dar dinheiro aos filhos quando estes precisam, mas poucos envolvem os menores na gestão do seu próprio dinheiro. Entre os maiores de 10 anos, cerca de 60% limitam-se a dar dinheiro apenas quando solicitado e entre 30 a 40% recebe semanada ou mesada. "Não lhes estamos a dar oportunidade para eles gerirem, não é a melhor educação financeira. E continua-se a falar muito pouco de dinheiro em casa", crê Sérgio Cardoso.

"A principal forma de os mais novos guardarem ou gerirem o dinheiro é o tradicional mealheiro (51%), seguido das contas de depósito a prazo (39%). Apenas 3% recorrem a produtos financeiros mais estruturados", indica a nota.

“Os resultados deste Barómetro mostram que os desafios financeiros que os portugueses enfrentam são estruturais e não meramente conjunturais. A ausência de hábitos de poupança e a falta de planeamento continuam a comprometer o bem-estar financeiro das famílias. Este estudo permite-nos compreender onde estão os bloqueios e onde devemos atuar”, considera o porta-voz do estudo.

O Barómetro de Hábitos Financeiros foi um estudo realizado em abril, através de um inquérito com 700 respostas válidas de residentes em Portugal, com idades entre os 18 e os 65 anos, e no qual foi assegurada representatividade nacional em termos de género, idade, região e escalão socioeconómico.

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