A fatura a pagar por alugar um carro está mais barata e os preços continuam a descer à boleia do excesso de oferta no mercado. No ano passado, as tarifas recuaram 15%, reflexo do aumento do número de veículos disponibilizados pelas rent-a-car. A procura arrefeceu, a concorrência aumentou e o impacto foi implacável para as tesourarias das empresas.“Foi o pior ano de sempre para o setor, excluindo o período da pandemia”, garante ao DN o secretário-geral da Associação dos Industriais de Aluguer de Automóveis sem Condutor (ARAC), Joaquim Robalo de Almeida. As receitas da atividade cresceram ligeiramente, 1,4%, para os 951 milhões de euros, mas acabaram por ser engolidas pelo colossal aumento dos custos. “Os preços desceram, beneficiando os consumidores, mas afetando negativamente a rentabilidade do setor. O impacto da inflação nos custos de operação agravou ainda mais o cenário financeiro das empresas. A gestão da frota ampliada resultou em custos 30% superiores aos de 2019, devido ao aumento dos preços dos veículos. Também os custos com recursos humanos, combustíveis, seguros e serviços complementares subiram”, explica. Em 2024, a frota média das empresas de aluguer de automóveis cresceu 10%, atingido as 90 mil viaturas ligeiras de passageiros. Já a frota de pico, registada nos período de julho e agosto, avançou 19% para os 118 mil carros. No total, as empresas compraram 61 mil viaturas de passageiros e sete mil viaturas ligeiras de mercadorias. As perspetivas do lado da procura eram promissoras no início de 2024, mas a resposta ficou a meio caminho. Os turistas representam a maior fatia de clientes do setor, com uma quota de 60% na operação e, embora a atividade turística tenha sido pujante no país, com indicadores recorde, alugar um carro não esteve na lista de prioridade de consumo dos visitantes. “As empresas fizeram investimentos e robusteceram as frotas considerando as expetativas da evolução do turismo. Começámos a ver os números e pensámos: isto vai sobrar para nós. Mas acabou por não acontecer”, enquadra Joaquim Robalo de Almeida. Fazer férias em Portugal está mais caro e o incremento dos preços dos restantes serviços na esfera de atividade do setor retirou margem de manobra ao orçamento destinado aos dias de descanso. “Os hotéis aumentaram bastante os preços e também as passagens aéreas ficaram mais caras. Sobrou, naturalmente, menos dinheiro e os turistas tiveram de fazer escolhas. As rent-a-car são um dos primeiros serviços a ficar para trás”, acrescenta. Olhando para os principais mercados, o Reino Unido, os Estados Unidos, a França, a Alemanha e o Brasil lideraram os alugueres. No que respeita aos destinos, as regiões turísticas da Madeira e do Algarve e as grandes cidades de Lisboa e do Porto foram as que obtiveram uma melhor performance..Contraciclo.Os desafios das rent-a-car agudizaram-se em 2024, mas o quadro tem vindo a deteriorar-se há dois anos. Em 2022, recorde-se, as empresas viam-se a braços com o problema oposto: a falta de veículos. Durante a pandemia, a frota parada foi vendida de forma a assegurar a sobrevivência do negócio, reduzindo os custos de manutenção. A retoma, no ano seguinte, chegou de rompante e a oferta não conseguiu acompanhar. À falta de carros somou-se a escassez de semicondutores que afetou a indústria automóvel, impossibilitando a reposição de veículos com a rapidez pretendida. A parca oferta deu impulso aos preços, que atingiram valores históricos. Já as receitas dispararam 54%, para os 958 milhões de euros, o melhor resultado de sempre. Em 2023, os sinais de abrandamento chegaram com uma perda de 20 milhões de euros na faturação e, no ano passado, agudizaram-se. “Em 2024, o setor de rent-a-car em Portugal enfrentou desafios significativos. Este cenário contrastou com anos anteriores, quando a escassez de veículos permitia tarifas mais altas. Como resultado, a rentabilidade das empresas em 2024 foi nferior à de anos anteriores. A atividade tem uma situação saudável, mas já não idêntica à registada nos anos de 2022 e 2023”, nota o secretário-geral da ARAC. O responsável assume ser imperativo otimizar a eficiência operacional, ajustar estratégias de aquisição e rever modelos de preço para mitigar os impactos e recuperar margens de rentabilidade..Otimismo para 2025: preços mais altos e maior poder de compra.Apesar de os últimos 12 meses terem castigado a atividade de aluguer de automóveis, as perspetivas para este ano fazem-se com ânimo e apontam para um “crescimento ou consolidação face a 2024”. A expetativa é a de que as tarifas possam voltar a ganhar fôlego, contrariando os dois últimos anos. “Considerando a inflação registada, o aumento significativo do custo das viaturas, o crescimento dos salários e de todos os fornecimentos inerentes às atividade de rent-a-car e rent-a-cargo [aluguer de veículos de mercadorias] os valores cobrados pelo aluguer de veículos sem condutor possivelmente acompanharão a subida dos valores de outras atividades que integram o Turismo, como a aviação, a hotelaria, o alojamento local, a restauração ou a animação turística “, espera. O representante destaca o “cenário económico promissor” para 2025 considerando as estimativas das principais autoridades monetárias internacionais. O aumento do poder de compra é outro dos pontos que, acredita, trará ânimo à atividade económica. “Apesar do aumento dos preços, o crescimento dos salários e demais fontes de rendimento poderão superar a inflação, proporcionando ganhos reais de poder de compra da população. Por outras palavras, mesmo com uma subida dos preços, os reajustes salariais podem permitir que os consumidores tenham maior poder de compra de bens e serviços, contribuindo deste modo para a melhoria da qualidade de vida”, estima. Joaquim Robalo de Almeida destaca ainda a posição geográfica de Portugal que manterá o país na mira dos turistas devido à segurança e à qualidade da oferta. “Prevê-se também uma expansão do turismo interno e regional, com destinos menos explorados, como o interior do país e as ilhas, ganhando relevância. O rent-a-car será essencial para garantir a mobilidade nestas áreas. Também se espera um aumento da procura por viagens de curta duração e soluções flexíveis, como aluguer de veículos para períodos curtos, alinhando-se às novas tendências de consumo”, refere. Além do turismo, o principal propulsor do negócio, há outros segmentos em expansão que o porta-voz da ARAC acredita que irão dar gás ao setor: os sistemas de mobilidade partilhada, como o rent-a-car, carsharing e aluguer operacional e renting. “Este crescimento reflete uma mudança comportamental significativa. Os consumidores, especialmente os mais jovens, estão a valorizar cada vez mais o uso em detrimento da propriedade de veículos, preferindo soluções flexíveis e de curto prazo que atendam às suas necessidades específicas. Este movimento deve impulsionar a procura por serviços de rent-a-car”, conclui. .Empresas de rent-a-car compraram mais de 7 mil veículos em março
A fatura a pagar por alugar um carro está mais barata e os preços continuam a descer à boleia do excesso de oferta no mercado. No ano passado, as tarifas recuaram 15%, reflexo do aumento do número de veículos disponibilizados pelas rent-a-car. A procura arrefeceu, a concorrência aumentou e o impacto foi implacável para as tesourarias das empresas.“Foi o pior ano de sempre para o setor, excluindo o período da pandemia”, garante ao DN o secretário-geral da Associação dos Industriais de Aluguer de Automóveis sem Condutor (ARAC), Joaquim Robalo de Almeida. As receitas da atividade cresceram ligeiramente, 1,4%, para os 951 milhões de euros, mas acabaram por ser engolidas pelo colossal aumento dos custos. “Os preços desceram, beneficiando os consumidores, mas afetando negativamente a rentabilidade do setor. O impacto da inflação nos custos de operação agravou ainda mais o cenário financeiro das empresas. A gestão da frota ampliada resultou em custos 30% superiores aos de 2019, devido ao aumento dos preços dos veículos. Também os custos com recursos humanos, combustíveis, seguros e serviços complementares subiram”, explica. Em 2024, a frota média das empresas de aluguer de automóveis cresceu 10%, atingido as 90 mil viaturas ligeiras de passageiros. Já a frota de pico, registada nos período de julho e agosto, avançou 19% para os 118 mil carros. No total, as empresas compraram 61 mil viaturas de passageiros e sete mil viaturas ligeiras de mercadorias. As perspetivas do lado da procura eram promissoras no início de 2024, mas a resposta ficou a meio caminho. Os turistas representam a maior fatia de clientes do setor, com uma quota de 60% na operação e, embora a atividade turística tenha sido pujante no país, com indicadores recorde, alugar um carro não esteve na lista de prioridade de consumo dos visitantes. “As empresas fizeram investimentos e robusteceram as frotas considerando as expetativas da evolução do turismo. Começámos a ver os números e pensámos: isto vai sobrar para nós. Mas acabou por não acontecer”, enquadra Joaquim Robalo de Almeida. Fazer férias em Portugal está mais caro e o incremento dos preços dos restantes serviços na esfera de atividade do setor retirou margem de manobra ao orçamento destinado aos dias de descanso. “Os hotéis aumentaram bastante os preços e também as passagens aéreas ficaram mais caras. Sobrou, naturalmente, menos dinheiro e os turistas tiveram de fazer escolhas. As rent-a-car são um dos primeiros serviços a ficar para trás”, acrescenta. Olhando para os principais mercados, o Reino Unido, os Estados Unidos, a França, a Alemanha e o Brasil lideraram os alugueres. No que respeita aos destinos, as regiões turísticas da Madeira e do Algarve e as grandes cidades de Lisboa e do Porto foram as que obtiveram uma melhor performance..Contraciclo.Os desafios das rent-a-car agudizaram-se em 2024, mas o quadro tem vindo a deteriorar-se há dois anos. Em 2022, recorde-se, as empresas viam-se a braços com o problema oposto: a falta de veículos. Durante a pandemia, a frota parada foi vendida de forma a assegurar a sobrevivência do negócio, reduzindo os custos de manutenção. A retoma, no ano seguinte, chegou de rompante e a oferta não conseguiu acompanhar. À falta de carros somou-se a escassez de semicondutores que afetou a indústria automóvel, impossibilitando a reposição de veículos com a rapidez pretendida. A parca oferta deu impulso aos preços, que atingiram valores históricos. Já as receitas dispararam 54%, para os 958 milhões de euros, o melhor resultado de sempre. Em 2023, os sinais de abrandamento chegaram com uma perda de 20 milhões de euros na faturação e, no ano passado, agudizaram-se. “Em 2024, o setor de rent-a-car em Portugal enfrentou desafios significativos. Este cenário contrastou com anos anteriores, quando a escassez de veículos permitia tarifas mais altas. Como resultado, a rentabilidade das empresas em 2024 foi nferior à de anos anteriores. A atividade tem uma situação saudável, mas já não idêntica à registada nos anos de 2022 e 2023”, nota o secretário-geral da ARAC. O responsável assume ser imperativo otimizar a eficiência operacional, ajustar estratégias de aquisição e rever modelos de preço para mitigar os impactos e recuperar margens de rentabilidade..Otimismo para 2025: preços mais altos e maior poder de compra.Apesar de os últimos 12 meses terem castigado a atividade de aluguer de automóveis, as perspetivas para este ano fazem-se com ânimo e apontam para um “crescimento ou consolidação face a 2024”. A expetativa é a de que as tarifas possam voltar a ganhar fôlego, contrariando os dois últimos anos. “Considerando a inflação registada, o aumento significativo do custo das viaturas, o crescimento dos salários e de todos os fornecimentos inerentes às atividade de rent-a-car e rent-a-cargo [aluguer de veículos de mercadorias] os valores cobrados pelo aluguer de veículos sem condutor possivelmente acompanharão a subida dos valores de outras atividades que integram o Turismo, como a aviação, a hotelaria, o alojamento local, a restauração ou a animação turística “, espera. O representante destaca o “cenário económico promissor” para 2025 considerando as estimativas das principais autoridades monetárias internacionais. O aumento do poder de compra é outro dos pontos que, acredita, trará ânimo à atividade económica. “Apesar do aumento dos preços, o crescimento dos salários e demais fontes de rendimento poderão superar a inflação, proporcionando ganhos reais de poder de compra da população. Por outras palavras, mesmo com uma subida dos preços, os reajustes salariais podem permitir que os consumidores tenham maior poder de compra de bens e serviços, contribuindo deste modo para a melhoria da qualidade de vida”, estima. Joaquim Robalo de Almeida destaca ainda a posição geográfica de Portugal que manterá o país na mira dos turistas devido à segurança e à qualidade da oferta. “Prevê-se também uma expansão do turismo interno e regional, com destinos menos explorados, como o interior do país e as ilhas, ganhando relevância. O rent-a-car será essencial para garantir a mobilidade nestas áreas. Também se espera um aumento da procura por viagens de curta duração e soluções flexíveis, como aluguer de veículos para períodos curtos, alinhando-se às novas tendências de consumo”, refere. Além do turismo, o principal propulsor do negócio, há outros segmentos em expansão que o porta-voz da ARAC acredita que irão dar gás ao setor: os sistemas de mobilidade partilhada, como o rent-a-car, carsharing e aluguer operacional e renting. “Este crescimento reflete uma mudança comportamental significativa. Os consumidores, especialmente os mais jovens, estão a valorizar cada vez mais o uso em detrimento da propriedade de veículos, preferindo soluções flexíveis e de curto prazo que atendam às suas necessidades específicas. Este movimento deve impulsionar a procura por serviços de rent-a-car”, conclui. .Empresas de rent-a-car compraram mais de 7 mil veículos em março