Nova SBE ocupa agora a 13ª posição mundial no ranking dos Programas Customizados.
Nova SBE ocupa agora a 13ª posição mundial no ranking dos Programas Customizados.Paulo Spranger/Global Imagens

“Portugal tem condições para ser uma economia de alto nível, mas não é. A diferença está no nível de produtividade”

No dia em que o Instituto de Políticas Públicas da Nova SBE apresenta o novo Laboratório de Produtividade, o DN conversou com o diretor académico do instituto, Luís Cabral, para perceber em que medida a iniciativa pode ter impacto nas decisões que vão moldar a economia portuguesa.
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A missão do Laboratório de Produtividade, segundo os seus promotores, será a de “produzir, difundir e aplicar conhecimentos que contribuam para um aumento da produtividade em Portugal”, uma métrica da economia em que Portugal não está particularmente bem. Em 2019, a produtividade em Portugal representava 76,4% da média europeia (ocupando a 22.ª posição na UE). Em 2023 tinha subido uma posição, para 21º.

“Portugal tem condições para ser uma economia de alto nível, mas não é. A diferença está, em grande parte, no nível de produtividade”, considera Luís Cabral, economista há mais de 25 anos radicado nos Estados Unidos. A produtividade é um fator crucial para determinar o nível de vida dos cidadãos, já que os países com empresas e trabalhadores mais produtivos conseguem oferecer "remunerações mais elevadas, melhores condições de trabalho e serviços públicos mais abrangentes”, indica a Nova SBE. O Laboratório de Produtividade contará com o apoio da Fundação Haddad.

Nova SBE, Católica-Lisbon, Iscte e FEP integram ranking do FT dos cem melhores mestrados em Gestão. Paulo Spranger/Global Imagens
Nova SBE, Católica-Lisbon, Iscte e FEP integram ranking do FT dos cem melhores mestrados em Gestão. Paulo Spranger/Global Imagens

Como é que surgiu esta ideia de fazer um laboratório de produtividade e em que dados é que se vão basear para fazer este trabalho? 

O  nosso propósito não é é fazer um ranking de produtividade, mas sim fazer um laboratório de trabalho e investigação sobre produtividade. E o motivo é que a diferença entre a economia que Portugal poderia ser e a economia Portugal é, em grande parte, é o baixo nível de produtividade do país. Continua a ser um dos mais baixos da Europa. Tem crescido devagar, mas, apesar de tudo, ainda bastante baixo. Isto é, falando claro, Portugal tem ótimos recursos – tanto recursos físicos como recursos humanos – mas não está a conseguir tirar partido desses recursos tanto quanto poderia e se esperaria. E a diferença entre o que é e o que poderia ser, em grande parte, é explicada pelo nível de produtividade: das empresas, dos trabalhadores e produtividade da administração pública também. 

Mas já existem métricas que medem isso, certo? 

O nosso objetivo é, mais do que medir os valores agregados, porque isso tem vindo a muitos observatórios da produtividade, há muita publicação que tem sido feita que ilustra e caracteriza esta realidade, nós gostaríamos de entrar mais no pormenor, ir mais fundo e ver, de uma forma mais detalhada, quais são as origens dessa falta de crescimento da produtividade. E para isso temos de ter boas bases de dados. Temos de ter tempo. E temos de ter pessoas que possam estudar e depois pessoas que possam interpretar os resultados. Esse é um dos grandes objetivos deste laboratório. Em última análise, nós queremos que estas análises levem a sugestões concretas sobre políticas públicas que possam ajudar a aumentar o nível de produtividade. 

Vão trabalhar com algum parceiro neste trabalho sobre esses dados ou vai ser tudo com investigadores da própria instituição?

Primordialmente, vamos trabalhar com a prata da casa, que é uma boa prata, porque há aqui muitas pessoas já envolvidas em vários trabalhos em campos relacionados. Mas nós estamos também abertos a outros investigadores, académicos e entidades que estejam interessadas em colaborar connosco. O que, aliás, é verdade em outros aspetos do Instituto de Políticas Públicas. Pensamos que a análise de microdados é muito importante, por isso vamos tentar também trabalhar com várias instituições que nos possam proporcionar o acesso a esses microdados. 

Como assim?

Para uma pessoa ter uma compreensão, um entendimento aprofundado, do fenómeno da produtividade, não basta olhar para dados macroeconómicos. É uma forma de o fazer, mas nós queremos saber exatamente onde é que vem o nível de produtividade mais baixo de Portugal. E para esse efeito, é importante conhecer dados ao nível da empresa, ao nível do trabalhador. E é isso que nós estamos a tentar fazer. É um trabalho que exige a cooperação e a colaboração de muitas entidades, além do próprio professorado da Universidade Nova. 

Está a falar de associações empresariais, confederações patronais? Vão fazer case studies, casos concretos de empresas? E esses dados vão ser públicos, acessíveis a todas as pessoas, ou vão ser de acesso restrito a investigadores ou para os decisores políticos?

Os resultados do nosso trabalho serão divulgados. Serão também, claro, apresentados e discutidos com decisores políticos com posições relevantes, para efeitos das políticas públicas relacionadas com a produtividade. Porque, em última análise, o indicador de prestação mais importante que nós temos, como o Instituto de Políticas Públicas, é poder influenciar no bom sentido as políticas públicas. Isto é, mexer na agulha das políticas públicas no sentido positivo. Agora, quanto aos dados em si, muitos dos dados que nós com que nós pretendemos trabalhar não são nossos e, por conseguinte, as condições de acesso a eles não estão nas nossas mãos. 

Depende de quem os forneceu.

Exatamente. Mas os resultados que nós obtemos a partir desses dados são mais importantes do que os dados de origem, que normalmente são bases de dados enormíssimas, gigantes, que não têm muito interesse [sem serem tratados].

Uma última questão: quando vamos ver os primeiros resultados deste trabalho? Para dizer a verdade, já começamos a trabalhar nisso. Nomeadamente no que respeita a contactos com entidades que nos poderão ajudar na obtenção de dados necessários e também no sentido de encontrar pessoas com quem possamos colaborar nestes trabalhos de investigação. Isso já foi começado. São processos. Demora algum tempo. Nós estamos conscientes de que o horizonte da academia é diferente do horizonte das políticas públicas. Um dos objectivos do nosso instituto é tentar fazer a ponte entre esses horizontes temporais. As instituições académicas têm um horizonte de anos. As coisas vão andando, vão andando, vão andando. As políticas públicas têm um horizonte temporal muito mais curto. Uma política pública para implementar nos próximos meses não pode estar a esperar dois anos para ver os resultados de um estudo. E, portanto, nós estamos conscientes desse problema e esperamos que ainda este ano já tenhamos alguns resultados no laboratório de produtividade.

A Nova SBE é a escola portuguesa com melhor classificação, ocupando o 18º lugar entre 100 instituições.
A Nova SBE é a escola portuguesa com melhor classificação, ocupando o 18º lugar entre 100 instituições.PAULO SPRANGER/Global Imagens

Por seu lado, Pedro Oliveira, Dean da Nova SBE, salienta que ”o Laboratório de Produtividade reflete o compromisso da Nova SBE em transformar o conhecimento em impacto, unindo academia, setor público e privado para enfrentar um dos maiores desafios do nosso país. Melhorar a nossa produtividade é essencial para garantirmos um futuro mais próspero e sustentável.”

Segundo a universidade, o Laboratório de Produtividade iniciará a sua atividade em três vias.

A primeira será a de incentivar os investigadores da Nova SBE "para o desenvolvimento de projetos de investigação-ação (projetos coletivos que envolvem parceiros externos".

A segunda visa lançar workshops para "análise de problemas e identificação de soluções concretas" e a terceira será a "mobilização e envolvimento de policy makers relevantes para a necessidade de disponibilização de melhores micro-dados".

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