A reposição de 302 freguesias não só deverá gerar mais custos para a administração pública como "contraria a tendência dos demais países europeus", além de reforçar Portugal como "um dos países europeus mais centralizados", conclui uma análise do Gabinete de Estudos Económicos, Empresariais e de Políticas Públicas, da Faculdade da Economia do Porto (FEUP).Os autores da análise apontam que a reposição das freguesias levará "a um aumento líquido de 167 [freguesias]", elevando o número total de freguesias para 3 259, gerando "custos adicionais". Além disso, "em 2025, a média de habitantes por freguesia descerá de 3 345 para 3 174", fixando no país o "sétimo menor rácio de habitantes por unidade administrativa local (UAL) de nível inferior na União Europeia (UE)". A mediana dos estados-membros é de 7 711 pessoas por UAL e a média é de 16 545."Se Portugal adotasse o referido rácio mediano da UE, o número de freguesias cairia para 1 341. Já seguindo o rácio médio europeu, restariam apenas 625 freguesias, que fariam sentido apenas nos municípios mais populosos", aponta a análise da FEUP."Em paralelo, Portugal permanece um dos países europeus mais centralizados, refletindo-se no baixo peso da despesa pública local e regional no PIB, que em 2023 foi de apenas 6,5%, menos de metade da UE (12,7%) e o sétimo menor", lê-se.Para Óscar Afonso, diretor da FEUP e um dos autores da análise, "a reposição de freguesias que se verificou em Portugal no início de 2025, além de gerar custos, contraria a tendência dos demais países europeus e, em particular, a dos mais desenvolvidos e eficientes”.O professor universitário sublinha que "Portugal tem ainda o sétimo menor peso de despesa local e regional no PIB, confirmando-se como um país muito centralista”.Aquele centralismo "decorre da ausência de regiões administrativas no continente, que existem na maioria dos países da UE, e não de freguesias a menos. Pelo contrário, o seu número revela-se excessivo no contexto da UE e tal não trouxe ganhos reais de descentralização, como sucederá com a reposição de freguesias agora decidida”.Nuno Torres, responsável pelo G3E2P, por outro lado, refere a Dinamarca e os Países Baixos como exemplos de melhores práticas na administração das UAL. "[São] dois dos estados-membros mais desenvolvidos - com pouco mais de metade e pouco menos do dobro da população portuguesa, respetivamente –, que registam os maiores rácios da UE e são a referência de melhores práticas e eficiência neste indicador, com 60 215 e 52 465 pessoas por UAL de nível inferior, gerindo 18 e 16 vezes o número de habitantes das nossas freguesias, em média”."[Em Portugal] a mudança de organização administrativa seria ainda mais drástica se seguíssemos modelos de países ainda mais desenvolvidos e eficientes, com rácios populacionais por UAL acima da média da UE”, prossegue Nuno Torres.“Nessa situação, os municípios passariam a concentrar o poder local, absorvendo as competências e meios das freguesias, que deixariam de ser unidades administrativas autónomas, mas a sua divisão territorial deveria ser preservada na gestão municipal por razões históricas, culturais e económicas, respeitando as suas características únicas e o sentimento das populações locais, que só querem ver os seus problemas resolvidos de forma eficiente, qualquer que seja o modelo”, explica Óscar Afonso. “Além disso, como o número de UAL resultante desses modelos de organização mais eficientes seria significativamente inferior aos atuais 308 municípios, vários dos menores deveriam fundir-se. No entanto, pode ser definido um cenário intermédio menos exigente, que preserve os municípios atuais sem serem precisas fusões”, considera o diretor da FEP.Por isso, “extinguir o nível administrativo das freguesias e criar regiões permitiria uma gestão mais eficiente, aproximando Portugal das melhores práticas".