Portugal desaproveita 160 mil licenciados na última década

Portugal desaproveita 160 mil licenciados na última década

Melhores salários, menos carga fiscal e mais poder de compra garantem uma resposta eficaz à escassez de talento, transversal a toda a economia.
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Autonomia no trabalho, mais teletrabalho, hierarquias flexíveis, formação específica, valorização do conhecimento, e salários compatíveis com o custo de vida são alguns dos desejos manifestados por jovens que saíram de Portugal à procura de melhores oportunidades, mas que com as condições certas regressariam ao país. Ouvidos pela Associação Business Roundtable Portugal (Associação BRP), os jovens revelaram o que os move, e confirmaram as conclusões do trabalho realizado no último ano pela organização que representa 40 das maiores empresas e grupos empresariais em Portugal.

O trabalho da BRP demonstra igualmente que, apesar de as últimas cinco décadas de democracia em Portugal terem trazido um enorme desenvolvimento ao nível da educação, o país não está a captar este potencial para a população ativa. Na última década, 370 mil diplomados integraram a população empregada, mas o aumento potencial era superior a 530 mil, o que revela que mais de 160 mil licenciados foram ‘desaproveitados’.

Estancar a ‘fuga’ dos talentos deve ser uma das prioridades do país, invertendo a tendência de saída que se traduz atualmente em cerca de 2,6 milhões de pessoas a viver fora do território nacional (26% da população residente), dos quais 70% (850 mil) dos são jovens em idade ativa, com idades entre 15 e 39 anos. Isto significa que mais de 1/3 dos nascidos em território nacional nesta faixa etária vive atualmente no estrangeiro, deixando assim de dar o seu contributo para a economia do país.

“Fuga de talento é um problema muito sério em Portugal”, afirmou Vasco Mello. O presidente da Associação BRP recordava que, a este ritmo, na próxima década podemos ter menos 200 mil licenciados em Portugal. O presidente do Conselho de Administração da José de Mello falava durante a conferência que decorreu ontem, em Lisboa, e na qual a associação apresentou os resultados do trabalho que contou com a participação de 22 empresas associadas, e de cerca de 36 especialistas em liderança e gestão de pessoas, cujo objetivo foi a reflexão e a implementação de soluções de valorização e de atração do talento. “Acreditamos que a única forma de inverter esta tendência e tornar Portugal económica e socialmente mais desenvolvido será através da complementaridade entre novas políticas públicas e boas práticas empresariais”, afirmou Nuno Amado. Para o membro da direção da Associação BRP, só desta forma será possível “criar melhores condições para atrair e reter o nosso talento, seja através de uma experiência profissional mais rica e de melhores salários, do aumento do poder de compra ou do alívio da carga fiscal”. De entre as medidas e soluções apresentadas pelos diferentes grupos de trabalho da BRP, muitas já foram testadas e implementadas com sucesso.

Casos de sucesso

A par dos casos de sucesso na atração e retenção de talento apresentados por empresas nacionais, não faltaram boas práticas internacionais que podem ser replicadas em Portugal. Laura Lindeman, senior director e head of Work na Finland Unit, e Friedrich Kuhn, global head Transformational Leadership na Egos Zehnder, partilharam as suas experiências, respetivamente na Finlândia e em Leipzig, na Alemanha.

Definida como prioridade desde 2006 na Finlândia, a atração e retenção de talento internacional para o país nórdico tornou-se, desde então, uma área de intervenção para a qual foram definidos um conjunto de programas, ações e de políticas públicas. Hoje, o Programa Talent Boost continua a apostar numa abordagem de ecossistema sem a qual Laura Lindeman acredita que não teria sido possível concretizar as metas. Para Portugal deixa a mesma receita: encontrar os parceiros certos e juntá-los, definir forças e reconhecer fraquezas, e fazer um plano de longo prazo.

Friedrich Kuhn compara igualmente a experiência de Leipzig ao potencial de Portugal. Dos quatro fatores de sucesso que, na sua opinião, determinaram o aumento da atratividade da cidade alemã, o especialista em talento acredita que podem ser replicados em território nacional. Uma cultura vibrante e atrativa e uma comunidade académica forte - que já existem em Lisboa, por exemplo -, empresas a investir em área determinantes para o futuro, e uma aposta na liderança são determinantes para a mudança.


geral@dinheirovivo.pt

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