PIB. Arranque do ano foi bastante fraco, mas 2.º semestre deve animar
O crescimento da economia portuguesa no 1.º semestre deste ano foi, tirando os solavancos da pandemia (2020 e 2021), o mais fraco desde 2016, mas o 2.º semestre deverá compensar, esperando-se maior dinamismo ao nível do consumo das famílias e do investimento.
De acordo com a primeira estimativa (rápida) para o andamento do Produto Interno Bruto (PIB) em termos reais do 2.º trimestre deste ano, a economia portuguesa terá avançado 1,5% face a igual período do ano passado, o que coloca a expansão semestral num ritmo médio de 1,5% (o 1.º trimestre registou a mesma marca).
Como referido, sem observar os anos totalmente atípicos da pandemia (quando o PIB real caiu mais de 10% no 1.º semestre de 2020, recuperando depois 6,3% na primeira metade de 2021), este 1.º semestre de 2024 é o mais fraco desde 2016, quando cresceu 1,4%.
“O PIB, em termos reais [ou seja, descontando o efeito da inflação], registou uma variação homóloga de 1,5% no 2.º trimestre de 2024, taxa idêntica à verificada no trimestre precedente”, avançou ontem o INE, explicando que “o contributo positivo da procura interna para a variação homóloga do PIB aumentou no 2.º trimestre, verificando-se uma aceleração do investimento e do consumo privado”.
De acordo com a estimativa rápida do Eurostat, também para o 2.º trimestre, Portugal, mesmo com dificuldades, está a crescer mais do dobro do ritmo do conjunto da Zona Euro. A região composta por 20 países expandiu-se apenas 0,6% em termos homólogos.
Segundo os analistas, o facto de a procura interna portuguesa estar a ganhar algum gás pode ser visto como um primeiro sinal de que a economia está, de facto, a conseguir resistir ao ambiente de estagnação e incerteza internacional, sobretudo a europeia, região onde estão os maiores parceiros económicos.
Já o contributo da procura externa líquida [exportações menos importações] para a variação homóloga do PIB “foi negativo, após ter sido positivo nos dois trimestres anteriores, tendo as importações de bens e serviços acelerado de forma mais acentuada que as exportações”, diz o INE.
Vânia Duarte, economista do Gabinete de Estudos do Grupo BPI, considera que os dados publicados pelo INE “confirmam a perspetiva de que o ano será marcado por uma trajetória de menos para mais”, em recuperação, portanto, com o 2.º semestre de 2024 a compensar o desaire do 1.º.
A analista nota que o 1.º semestre foi “marcado pelo impacto acumulado da subida dos juros, da inflação e pelo abrandamento das economias europeias”, efeito que pode começar a dissipar-se um pouco. As taxas de juro estão a descer, ainda que devagar, a inflação também. Ambos os efeitos ajudam a repor algum poder de compra, sobretudo entre as mais endividadas e com menores rendimentos.
Do lado do comércio exterior, o facto de as importações (agregado que come valor ao PIB) terem disparado de forma “acentuada” estará “muito provavelmente associado à aceleração do investimento”, pois o país precisa de comprar muita tecnologia e muitos equipamentos ao exterior já que não os produz internamente.
Posto isto, “aguarda-se uma segunda metade do ano mais positiva” e “para o conjunto do ano, antecipamos um crescimento real do PIB de 1,8%”, diz a mesma economista.
De acordo com o Departamento de Estudos do BPI, “o consumo privado continua forte, apesar do abrandamento da componente dos bens duradouros, refletindo a robustez do mercado de trabalho e os sinais de melhoria do rendimento disponível”.
“Como antecipávamos, o investimento recuperou, depois de um mau desempenho no 1.º trimestre, sendo previsível que mantenha um comportamento positivo no resto do ano, na expectativa de que a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) possa acelerar um pouco e os custos de financiamento comecem a reduzir-se gradualmente”, diz o gabinete.
Tudo considerado, “os riscos para a atual previsão revelam-se equilibrados, sendo que os negativos estão essencialmente associados a fatores externos de caráter geopolítico”, como as guerras e as ameaças ao comércio internacional.
Ainda segundo Vânia Duarte, “internamente, os riscos parecem mais enviesados em sentido positivo, predominantemente relacionados com a possibilidade de que a procura interna se revele mais forte do que o antecipado”.
Ontem, também o INE revelou que “o indicador de confiança dos consumidores aumentou em junho e julho, superando pela primeira vez o valor registado em fevereiro de 2022, antes da queda abrupta verificada em março de 2022”, no que pode ser lido como um fator que ajudará a animar o que resta do corrente ano.