“Para ter impacto da IA no mercado imobiliário temos de ter um ‘lago de dados' acessível a todos"
O CEO da tecnológica Unlockit, Tiago Dias, considerou hoje que o mercado imobiliário em Portugal nunca conseguirá beneficiar dos ganhos tecnológicos da Inteligência Artificial (IA) sem que os milhares de milhões de dados do setor não estejam acessíveis publicamente.
Tiago Dias, que falava na conferência Habinov 3.0, na Nova SBE, afirmou que o mercado imobiliário – não necessariamente apenas em Portugal, mas um pouco por todo o mundo – “é um mercado fragmentado, em papel, com softwares que não conectam entre si”.
Exceções a este cenário são países como Espanha, Estónia, Austrália ou Reino Unido, que já avançaram no projeto de disponibilizar cada vez mais dados sobre as vendas e as compras de imóveis no seu território.
O responsável da startup portuguesa elencou quatro problemas do mercado, começando pelo facto de incluir um processo que depende inteiramente de documentos de papel. Ou seja, quando uma simples assinatura num papel não bate certo com outra, o processo pára. Essa caracteristica também torna o processo mais atreito a fraude.
Um outro problema é ser um mercado em que os preços dos imóveis são determinados, principalmente, pelos preços de venda de imóveis comparáveis. Isso quer dizer que ninguém sabe verdadeiramente a que preço um imóvel é vendido em determinada zona, com dados que até existem (notários, Autoridade Tributária, IMPIC, IHRU, INE, etc).
Por outro lado, o processo de due diligence numa venda de imóveis via mediador ou comprador direto, disse Tiago Dias, “é opaco, inseguro e altamente ineficiente”. “Ninguém respeita o Regime Geral de Proteção de Dados neste processo. Pedem-me que envie dados altamente sensíveis por email sem qualquer respeito pelo RGPD”.
“E não se cumpre o RGPD porque não há auditoria ao regime geral de proteção de dados”, criticou.
Por outro lado, o Estado não ajuda em termos legislativos, já que as leis que existem são “muito pouco claras, o que leva a uma enorme barreira à inovação”. Por outras palavras, “tornam um processo já complexo num ainda mais complexo”, disse.
Em conclusão, ninguém no mercado tem 100% da informação necessária à tomada das melhores decisões e às melhores políticas públicas.
“As bases de dados do IHRU não comunica com as do IMPIC, nem com as da AT, do IRN” E estas todas não comunicam com as bases da Century 21 e dos outros mediadores. Acabamos com 50 bases de dados cada uma com uma percentagem da informação”, afirmou Tiago Dias.