Os preços mais altos e as reservas acima do ano passado fazem antever mais um verão recorde para o turismo do Algarve. As elevadas temperaturas durante o mês de junho, aliadas aos fins de semana prolongados, permitiram dar fulgor ao arranque da época alta. “Quer em termos de ocupação quer de faturação correu muito bem. Os feriados possibilitaram uma atração maior de portugueses para a região”, garante ao DN o presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Hélder Martins. Os próximos meses avizinham-se de casa cheia para os hoteleiros que estão confiantes em superar novamente os principais indicadores da atividade.“O arranque do verão foi bastante positivo. No PortoBay Falésia [em Albufeira] o mês de junho fechou com 96% de ocupação e ligeiramente acima do ano passado, o que reflete um interesse consistente pelo destino. A nossa disponibilidade para reservas de última hora é praticamente inexistente, dada a elevada procura registada antes da onda de calor dos últimos dias”, refere o presidente e CEO do Grupo PortoBay Hotels & Resorts. António Trindade diz que a expectativa é a de “ocupação plena” durante o período de férias.No cinco estrelas Pine Cliffs Resort, também em Albufeira, o cenário foi semelhante com os check-ins a acelerarem. “Tivemos uma excelente performance com uma ocupação muito próxima da capacidade máxima e esta vaga de calor traduziu-se num aumento significativo das reservas de última hora. Perspetivamos um verão muito positivo, registámos já uma taxa de ocupação elevada e temos vindo a assistir a uma tendência clara de estadias de média e longa duração, em particular no caso das famílias e clientes habituais”, corrobora o diretor de Operações da unidade, Rui Brito.Já João Soares, diretor-Geral do Dom José Beach Hotel, em Quarteira, acrescenta que depois de um primeiro semestre que “correu bastante bem”, em junho foi atingido um recorde de receitas. “Para julho, as reservas estão mais ou menos em linha com 2024, não haverá grandes alterações. O preço médio por noite, sim, está um bocadinho mais alto”, retrata.Passar férias a sul do país está mais caro este ano, com a tarifas a registarem um incremento de cerca de 5%, aponta a AHETA. Ainda assim, a fatura mais elevada não refreou a corrida aos hotéis dos vários municípios, nem travou o interesse dos portugueses. Contrariamente às perceções, a associação afirma que o mercado nacional continua a ser o principal cliente durante o verão.“Em julho e agosto o mercado doméstico está em primeiro lugar, é o principal na região. Há uma comunicação assertiva que se faz contra o Algarve e, no ano passado, foi uma batalha terrível. Diziam que os portugueses se estavam a divorciar do Algarve, mas não estão. Quando chegámos ao final de agosto as estatísticas provaram o contrário”, relembra Hélder Martins.O responsável afiança que existe oferta para todos os bolsos e frisa que é possível encontrar preços baratos. “Fizemos recentemente uma simulação na Booking e, para uma semana em agosto, estavam disponíveis 4400 alojamentos. Destes, 30% apresentavam preços entre os 20 euros e os 100 euros. Uma família portuguesa, ou de outra nacionalidade, que venha para o Algarve passar férias no pico de agosto, com alojamento, limpeza, roupa lavada, internet e pequeno-almoço, a pagar menos de 50 euros por noite é muito pouco para um destino turístico que se procura requalificar”, explica.O presidente da AHETA adianta que esta simulação foi alargada ao território estrangeiro e os resultados foram claros: destinos como as ilhas Baleares, Marbella ou Santorini apresentavam preços mais elevados. Ainda assim, Hélder Martins admite que existem outras geografias concorrentes a desafiar a atividade.“Na Turquia ou na Tunísia há preços mais baratos com voo, hotel e refeições incluídas, mas é um produto diferente. Se compararmos o que é comparável, um hotel no Algarve e um hotel num outro destino europeu, o hotel no Algarve é mais barato”, prossegue. “Há uns meses vi um operador turístico a vender uma semana na Tunísia por 500 euros por pessoa. Ora, isso é um preço social, é difícil bater essa concorrência. Mas desafio a que se faça uma análise de quanto é que custa um terreno para um hotel nesses destinos, quanto é que custa um salário ou os impostos - são realidades completamente diferentes. E são produtos liderados pelo regime tudo-incluído, que é cada vez menos frequente no Algarve”, lamenta.Ainda assim, reitera, e apesar dos pacotes de férias mais aliciantes à espreita, o Algarve não tem sido impactado, continuando a sua aposta pela via da valorização. Hélder Martins indica que a região tem de competir com mercados “de outro tipo e qualidade” e é inevitável que os preços subam para responder à inflação e aos custos com energia e salários. “É preciso colocarem-se do nosso lado. Um hotel estipula os preços e prepara-se para uma época, não está a preparar-se para uma nacionalidade. Se há outras nacionalidades que pagam mais, os portugueses têm mais dificuldade e, consequentemente, num futuro, isto pode agravar-se. A hotelaria no Algarve está a ser requalificada, estão a aparecer marcas internacionais, estão a ser realizados upgrades de estrelas e o preço tem tendência a aumentar. Portanto, as empresas existem para ganhar dinheiro e não é crime ganhar dinheiro”, diz.Também o CEO do PortoBay Hotels & Resorts concorda e sustenta que “é natural que existam destinos alternativos com propostas mais competitivas”, mas assegura que a experiência que o turismo algarvio oferece é ímpar. “A qualidade da hotelaria, a diversidade de experiências, a segurança, as praias de excelência e o clima privilegiado são fatores que pesam muito na decisão dos hóspedes e que mantêm o Algarve como uma escolha de referência”, observa António Trindade.No que respeita aos principais mercados emissores, além dos portugueses, são os turistas do Reino Unido, de Espanha, Alemanha ou França que enchem os hotéis. Os norte-americanos estão também a ganhar escala e pesam cada vez mais nas contas da hotelaria, um crescimento impulsionado pela nova rota direta da United Airlines entre Faro e os Estados Unidos..Mão de obra e aeroporto são desafios.Os constrangimentos registados na área de controlo de passaportes do Aeroporto de Faro e as consequentes filas de espera que se adensam são apontados pela associação que representa o alojamento turístico na região como uma das maiores preocupações durante a época alta. “Estamos a conquistar os norte-americanos, que fazem cinco horas de voo e, depois, chegam ao aeroporto e ficam duas horas à espera para sair. É preciso resolver esta situação com urgência”, pede Hélder Martins.Já a falta de trabalhadores continua a ser outra das dores de cabeça dos empresários. O presidente da AHETA garante que a situação “está minimamente resol- vida” para a operação de verão, mas alerta que a região precisa de mão de obra “não em quantidade, mas em qualidade”, nomeadamente em funções técnicas, como são exemplos as áreas de front-office ou de revenue management .O problema, explica, é a falta de habitação a preços acessíveis. “Precisamos de quadros mais qualificados, mas temos um problema crucial que andamos a debater todos os dias: o alojamento para os nossos funcionários. Por muito bem que se pague, ir buscar um quadro e dizer que ele vem para o Algarve a ganhar dois ou três mil euros por mês, mas paga 1200 ou 1500 euros por uma casa não é rentável, vai preferir trabalhar noutro lado”, argumenta. Contas feitas, o líder da associação acredita que com seis ou sete mil trabalhadores qualificados o Algarve “ficaria servido”. Sobre o programa da Via Verde para a Imigração, Hélder Martins refere que os empresários algarvios não têm condições para assegurar a cláusula obrigatória que imputa a a habitação aos patrões. “O que nós queremos é que os empresários hoteleiros tenham o mesmo regime das entidades que fazem habitação social, para podermos construir, por exemplo, um bloco de apartamentos adaptado à necessidade do hotel e, esse bloco, só poderá ser utilizados pelos funcionários. Se isto acontecer várias unidades estarão disponíveis para avançar”, atesta.