Mathias Cormann, secretário-geral da OCDE.
Mathias Cormann, secretário-geral da OCDE.Mohammed Badra

OCDE. BCE só deve reduzir juros mais duas vezes, alívio acaba em julho com taxa nos 2%

Tarifas começam a corroer o crescimento da maioria das economias. Pior caso, para já, é o do México, que entra em recessão este ano. Alemanha estagna, mas Estados Unidos também começam a sofrer.
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As taxas de juro do Banco Central Europeu (BCE) deverão descer mais duas vezes este ano, com a instituição de Christine Lagarde a terminar o atual ciclo de alívio eventualmente na reunião de julho, estima a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), no novo estudo sobre perspetivas económicas (outlook), divulgado esta segunda-feira.

O prognóstico da OCDE é que o BCE desça a taxa de juro principal (e as restantes) dos atuais 2,5% para 2% em julho. Depois, a taxa de depósito deve ficar estacionada nesse valor, pelo menos até finais do ano que vem.

Claro que, diz a organização, este ritmo de alívio e depois de estabilização só fazem sentido se não acontecer uma perturbação grave na economia, se a inflação se mantiver a caminho dos desejados 2% ou se não acontecer uma rutura no comércio global por causa das guerras das tarifas.

"Desde que as expectativas de inflação permaneçam bem ancoradas e as tensões comerciais não se intensifiquem ainda mais, as reduções das taxas de juro diretoras podem prosseguir nas economias onde se projeta uma moderação da inflação", diz a OCDE no novo outlook intercalar.

É o caso da Zona Euro. Aqui, "projetamos que as taxas de juro diretoras [do Banco Central Europeu] diminuam para 2% na segunda metade de 2025".

Depois, a OCDE prevê que a taxa diretora principal (depósito) do euro fique estabilizada até final de 2026, pelo menos.

A próxima reunião dos banqueiros centrais da Zona Euro acontece nos próximos dias 16 e 17 de abril, já novo formato de dois dias, como faz a Reserva Federal.

O aumento de riscos e ameaças, sobretudo o que decorre da escalada da guerra comercial e tarifária entre Estados Unidos e outras grandes economias do globo, como a Europa, e, fora dela, México, Brasil, Canadá ou Austrália, levou a OCDE a cortar de forma significativa e transversal as previsões de crescimento da maioria das principais economias do mundo: num conjunto de duas dezenas de países de referência escolhidos, 12 viram as suas perspetivas emagrecer de forma substancial, mostra o novo outlook.

As economias mais fustigadas (face há três meses, ao outlook de dezembro) são os dois vizinhos dos Estados Unidos, os primeiros a serem visados com a brutalidade tarifária do governo de Donald Trump. O Canadá leva um corte de 1,3 pontos percentuais (p.p.). no crescimento previsto para este ano, que assim cai para apenas 0,7%.

O caso do México é ainda pior: a grande economia latino-americana entra em recessão este ano. A OCDE cortou a previsão de 2025 em 2,5 pontos percentuais, para -1,3%.

No referido grupo de duas dezenas de países de referência seguidos, a economia mexicana é a primeira a capitular.

A organização, que tem como economista-chefe, Álvaro Santos Pereira, o ex-ministro da Economia do governo PSD (de Pedro Passos Coelho), refere que "estão a surgir sinais de fraqueza num contexto de crescimento mais lento, inflação persistente e ambiente político incerto".

O estudo apresentado pelo secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, e Santos Pereira, refere que estamos perante "uma série de riscos", designadamente, "uma maior fragmentação do comércio que pode prejudicar o crescimento global", agravando os custos de produção das empresas e o consumo das famílias.

De acordo com estas novas projeções"o crescimento global abranda para 3,1% em 2025 e 3% em 2026", mas "com diferenças importantes entre países e regiões".

Os EUA crescem, mas enfraquecem face ao que se esperava há três meses. A maior economia do mundo deve avançar 2,2% em 2025 e depois abranda para 1,6% em 2026.

A Zona Euro sofre um corte na previsão de 0,3 p.p., crescendo apenas 1% em 2025 e 1,2% em 2026.

A Alemanha leva com uma revisão em baixa de 0,3 pontos e assim caminha para a estagnação, prevendo-se agora uma expansão anémica de 0,4% da maior economia europeia e das maiores do mundo. Um mau resultado, tendo em conta que em 2024 a Alemanha teve uma recessão de 0,2%.

França não vai além de 0,8% este ano (mais fraco do que os 1,1% do ano passado), Itália cresce apenas 0,7% (o mesmo que em 2024).

Espanha destoa do geral, mas pelo bom sentido, o que acaba por ser um bom augúrio para Portugal, já que é o nosso maior parceiro económico e comercial. A economia espanhola cresce 2,6% em 2025, mais 0,3 pontos do que se previa em dezembro, indica a OCDE.

OCDE

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