Nobel da Economia: Instituições de qualidade criam prosperidade (e não o contrário)
É a riqueza de um país que dá origem a instituições políticas, sociais e económicas de qualidade ou, pelo contrário, são as boas instituições que geram prosperidade? A investigação de Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson concluiu que a razão está na segunda hipótese, e que há uma relação de causa-efeito entre o que chamam de “instituições inclusivas” e a riqueza gerada por uma nação. A estas contrapõem as “instituições extrativas”, em que uma elite explora os recursos e a população e sentencia o país à pobreza.
Esta série de estudos publicados ao longo de mais duas décadas valeram a Daron Acemoglu, de origem turca e professor no Massachusetts Institute of Technology (MIT), Simon Johnson, britânico e também do MIT, e James A. Robinson, economista e politólogo da Universidade de Chicago, o Prémio Nobel da Economia deste ano - que na realidade se designa Prémio do Banco Central da Suécia em Ciências Económicas em memória de Alfred Nobel.
O trabalho destes economistas é amplamente reconhecido pelos pares, incluindo portugueses. “O trabalho é de uma importância grande, com a interligação entre a qualidade das instituições e o crescimento económico. Qual é a novidade? Foram os primeiros a adotar um método científico para encontrar causalidade entre instituições e crescimento económico - metodologias muito inovadoras na utilização dos dados. Construíram modelos teóricos com base na análise de dados históricos”, explica Francesco Franco, professor da Nova SBE.
Também João César das Neves, professor de Economia da Católica Lisbon School of Business & Economics elogia a investigação dos galardoados. “Trata-se de um trabalho com grande valor. A principal questão analisada é o impacto das instituições sociais no crescimento económico, com o resultado fundamental que a democracia e outros regimes ‘inclusivos’ são muito mais eficazes no desenvolvimento do que os regimes ‘extrativos’. Mas estes economistas, usando sobretudo os dados das várias realidades históricas coloniais como experiências naturais, conseguiram encontrar uma teoria que relaciona as condições físicas das regiões (doenças, clima, etc.) com cada tipo de sistema.”
Ao contrário do que se poderia pensar, a abundância de recursos naturais, e até questões culturais, não explicam as disparidades entre países pobres e ricos, como destaca Filipe Santos, diretor da Católica-Lisbon. “Esta investigação é muito importante, pois explica e demonstra que fatores exógenos, como o clima ou a abundância de recursos, ou fatores difíceis de mudar, como a cultura, não explicam a prosperidade dos países e das suas populações. O principal fator promotor de prosperidade é o desenvolvimento de instituições inclusivas, as quais, ao contrário das instituições extrativas que visam alimentar a elite no poder, envolvem toda a população no desafio do desenvolvimento económico e social.”
O trabalho dos galardoados não será completamente estranho a muitos leitores, uma vez que, em 2012, Daron Acemoglu e James A. Robinson publicaram o livro Porque Falham as Nações - As origens do poder da Prosperidade e da Pobreza, lembra Luís Mah, professor do Departamento de Economia Política do ISCTE. Para este economista, Acemoglu, Johnson e Robinson inovaram ao irem além dos modelos econométricos e trazerem para “o mundo da economia a questão institucional”.
O grande mérito da atribuição do Nobel a estes investigadores “é dar uma maior dimensão ao debate de como construir instituições fortes e inclusivas, perceber a História, perceber a configuração política e institucional”, considera Luís Mah, que assume que há questões que se podem levantar: “Não consegue explicar o caso da China, a maior distribuição de riqueza, tendo em conta o modelo de desenvolvimento do país”, destaca.
É que inerente ao trabalho dos economistas que receberam o Nobel, está a conclusão de que a democracia e o Estado de Direito conduzem a maior prosperidade. “É natural que estejam positivamente correlacionadas com o desenvolvimento de instituições inclusivas. Há, no entanto, países mais autoritários que conseguiram criar modelos que limitam ou condicionam as instituições de caráter extrativo e conseguiram gerar alguma prosperidade para as suas populações, como é o caso da China. Se esse percurso é sustentável ou não no futuro é a grande questão que porventura dará campo para novas investigações que receberão o Prémio Nobel daqui a 20 anos”, antecipa Filipe Santos.
César da Neves não tem dúvidas de que se premiou “um trabalho científico que, alheando-se das questões ideológicas e euforias retóricas, usa a evidência histórica para obter conclusões sólidas. É verdade que as mesmas realidades são usadas em debates ideológicos, como também até estes resultados académicos têm sido aproveitados para isso. Mas a análise conduzida é segura e objetiva, bastante afastada de tais polémicas”.