Micam. A feira de calçado conta com vários regressos e até uma nova marca
Como em tudo, em ano de dificuldades, há também quem se tenha dado bem. É o caso da Carité, que conta com 650 trabalhadores distribuídos pelas fábricas de Felgueiras, Celorico e Castelo de Paiva, e que fechou 2024 a crescer 14% para 43 milhões de euros. Reinaldo Teixeira, CEO do grupo, assume que foi o melhor ano de sempre da Carité, o que justifica com o “trabalho consolidado de há muitos anos, que permite à marca ter clientes que a acompanham há muitos anos”.
É também resultado de uma maior eficiência produtiva. Ou seja, para que a empresa não aumente o preço, os clientes aceitam, em contrapartida, colocar encomendas a tempo e horas, combatendo perdas. E, em 2025, a empresa tem já assegurada produção “pelo menos até agosto”.
Com um cliente alemão a representar 80% da sua faturação e o mercado dos Países Baixos a representar os restantes 20%, a Carité está apostada em conquistar novos mercados e novos clientes, quer na área da Segurança, quer do calçado de trekking. Está, ainda, a investir fortemente, ao abrigo do PRR e da agenda mobilizadora FAIST em automação e robotização.
Antes da pandemia, Portugal chegou a contar quase mais de 90 empresas representadas na Micam. Este ano está com 43, mesmo assim 10 a mais do que na edição anterior. De entre os que regressam, destaque para a Norberto Costa ou a Paradigma.
No primeiro caso, Carolina Costa assume que regressa à procura de clientes que foi perdendo por estar ausente de Milão e se ter concentrado no certame de Garda, mais vocacionado para o private label e as grandes encomendas. Na Micam, a ideia é ‘atacar’ clientes mais pequenos. E acredita que a conjugação destas duas feiras é “essencial para manter a estrutura e para crescer”.
Em 2024, as vendas caíram, em 2025 acredita que o primeiro semestre será ainda “uma fase de arranque”, mas que no segundo a tendência será de recuperação, até porque é a alturas das entregas de calçado de inverno, segmento de mercado em que Portugal é mais forte.
Ausente desde 2022, a Paradigma, de Guimarães, regressou este ano, para “avaliar o estado da situação”, mas não parece satisfeita com o que encontrou. “Deixámos de vir porque, com a pandemia, pareceu-nos que a feira deixou de ter o seu papel aglutinador de clientes de todas as geografias, designadamente os da Ásia, mas até agora não sentimos essa evolução”, diz Paulo Ferreira, assumindo que, eventualmente, a localização do seu stand possa não ser a mais indicada.
Com 100 trabalhadores e vendas de 7,5 milhões de euros, a Paradigma teve, em 2023, o seu “melhor ano de sempre”. Em 2024, a faturação esteve “em linha” com o ano anterior.
O regresso à Micam advém da vontade de “retomar os contactos com os clientes asiáticos”. Viu alguns, mas não na dimensão que gostaria. Admite já acompanhar a missão empresarial da APICCAPS à Coreia do Sul em julho. Para 2025, as perspetivas são de estabilidade. “Se não houver grandes alterações macroeconómicas, será um ano ao nível de 2024”, acredita.
Estreante é a Helena Mar, empresa de Felgueiras que produz calçado de senhora e que quer começar a apostar na internacionalização da marca a partir da presença na Micam, mas também na White, certame de moda que decorre de 27 de fevereiro a 2 de março em Milão.
“Estamos a apostar fortemente no mercado europeu, em especial França, Itália e Espanha, e, na segunda metade do ano vamos tentar abordar a Ásia e os Estados Unidos”, diz Alberto Ribeiro, responsável da empresa.
Qualidade e conforto são dois dos atributos da Helena Mar, que procura também ter “artigos intemporais”, de modo a abranger um público diversificado.
Desenhados internamente, os sapatos da Helena Mar são produzidos em Oliveira de Azeméis, na PC Footwear, empresa industrial da família, vocacionada para o private label. O grupo fechou 2024 com vendas de 3,7 milhões de euros, 12% acima do ano anterior, “à boleia de novos clientes”. Para 2025, o objetivo é crescer pelo menos o mesmo. “Não andamos à caça de sermos a China da Europa. Não andamos na luta pelo preço, mas na da qualidade”, garante.
Criar parcerias com influencers e designers é outra das estratégias pensadas. No futuro, ao calçado seguir-se-ão os acessórios e o vestuário, mas tudo sempre com a etiqueta Made in Portugal.
Em simultâneo com a Micam decorre a Mipel, a feira de artigos de pele e marroquinaria, na qual Portugal marca presença, já há alguns anos, apenas com um expositor, a marca Marta Ponti.
Orlando Soares, responsável da empresa da Amadora que produz malas, carteiras e artigos similares, assume que 2024 foi “um bom ano”, com um crescimento de 12%, sobre os 35% que havia crescido em 2023 face a 2022. Com 25 trabalhadores e uma faturação de 4,5 milhões de euros, a Marta Ponti exporta 80% do que faz, com especial destaque para EUA e Europa, mas ainda para a Rússia, um mercado tradicionalmente importante para a marca. Austrália e Médio Oriente estão, também, a crescer muito, assegura.
“Sermos Made in Portugal é uma mais-valia. Temos um projeto em curso para os EUA, de uma caixa com uma carteira e um porta-chaves, e o comprador quer, especificamente, a indicação de Portugal na caixa, a par com a marca Marta Ponti. Portugal ajuda a vender, é como uma assinatura de qualidade”, sustenta Orlando Soares.
*A jornalista viajou a convite da APPICAPS