Os produtos hortícolas estão 8,4% mais caros, tendo sido dos alimentos que mais subiram de preço.
Os produtos hortícolas estão 8,4% mais caros, tendo sido dos alimentos que mais subiram de preço.Leonardo Negrão / Global Imagens

Mesmo com IVA zero, quase toda a comida ficou mais cara, a começar pelas hortaliças

Inflação abrandou para 1,4% em dezembro, um mínimo de dois anos e meio. Açúcar e doces lideram o ranking geral como os que mais encareceram, logo seguidos do custo com animais de estimação e alimentação animal (8,9%).
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Mesmo com a medida do IVA zero, que baixou a taxa do imposto de 6% para 0% durante cerca de oito meses em 2023 (abrangeu 46 alimentos considerados essenciais), quase toda a comida ficou mais cara quando se compara com o final de 2022, a começar pelas hortaliças (os produtos hortícolas foram contemplados na medida do Governo lançada em abril).

Aqui, o preço final sentido pelos consumidores deste grupo de produtos disparou mais de 8% em apenas um ano (entre dezembro de 2022 e igual mês de 2023), indicam cálculos do DN/Dinheiro Vivo com base nos dados detalhados do Índice de Preços no Consumidor (IPC), ontem revelados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). A inflação nacional total foi bastante mais baixa, cerca de 1,4% em dezembro, também ela medida em termos homólogos, indicou o INE.

Esta média nacional, que acaba por ser o valor mais baixo em dois anos e meio, surge no final de um período, ainda assim, marcado por uma inflação muito alta, que superou os 8% entre meados de 2022 (chegou a furar os 10% em outubro desse ano) e o começo de 2023. Por ser uma média, também esconde diferentes realidades de preços.

O preço da classe dos alimentos e bebidas não alcoólicas aumentou 1,7% e vários estudos provam que podia ter sido muito pior se não fosse a medida do IVA zero, que deve ter dado um subsídio orçamental de 550 milhões de euros à distribuição, ajudando a aliviar o custo para as famílias com alguns bens de primeira necessidade. 

De acordo com o levantamento feito pelo DN/Dinheiro Vivo, e como referido, os produtos hortícolas (onde figuram bens subsidiados como cebola, tomate, couve-flor, alface, brócolos, cenoura, curgete, alho francês, abóbora, couve portuguesa, espinafres, entre outros) estão agora 8,4% mais caros do que no final de 2022.

O preço das frutas também subiu bem acima da inflação média, estando quase 4% mais elevado.
A seguir às hortaliças, surge o trio “café, chá e cacau”, que ficou quase 7% mais caro no final de 2023. As águas minerais, refrigerante e sumos de frutas registaram uma inflação de 6%.

Nesta classe dos alimentos, a maior subida de preço aconteceu no grupo “açúcar, confeitaria, mel e outros produtos à base de açúcar”, onde o agravamento ultrapassou os 12%.

Mas há exceções, claro. O pão e os cereais aumentaram apenas 0,9%, a carne mais 0,4% (quase não aumentou face a dezembro de 2022). E houve até descidas de preços. É o caso do grupo “peixe, crustáceos e moluscos”, que está 1% mais barato. E do tríptico “leite, queijo e ovos”, cujo preço médio aliviou quase 5%, segundo os dados oficiais do INE.

O cabaz de referência do INE contém mais de uma centena de produtos e serviços, abrangendo o leque completo de consumo final no território português.

O custo dos produtos para animais aparece como o segundo que mais subiu, quase 9%.

Sem surpresa, à boleia do turismo, que continuou imparável, o preço dos serviços de alojamento (onde figura o imponente setor do alojamento local) subiu uns expressivos 8,7%, a terceira maior marca do cabaz com mais de 100 itens. Também relacionado com casas, os serviços de manutenção e reparação aumentaram 7,6%. As “rendas efetivas pagas por inquilinos” pela habitação aumentaram, em média, 5,1%, indica o INE.

Fruto ou não dos fortes e crescentes constrangimentos no Serviço Nacional de Saúde, e sobretudo nos hospitais, o preço dos seguros de saúde disparou mais de 7,4%. Os correios e os serviços postais também aumentaram nessa exata proporção. O preço referente ao consumo em restaurantes e similares acompanhou de perto com uma inflação de quase 7%.

As descidas

Mas houve alívios. No ranking das maiores descidas aparece o gás (-23%), a eletricidade (-16%) e as bicicletas (-12%). Também aqui, nos itens da energia, o Governo interveio, sobretudo através de apoios às famílias mais carenciadas, o que pode ajudar a explicar reduções daquela magnitude. Mas há outra explicação muito importante. Nestes itens da energia, as descidas de 2023 são substanciais, porque em 2022 os preços sofreram um choque enorme, sobretudo a partir do início da guerra da Rússia contra a Ucrânia. 

“Em consequência dos aumentos significativos de preços durante 2022 em grande parte dos produtos considerados na amostra do IPC, verificam-se durante o ano de 2023 reduções das taxas de variação homóloga, em parte como consequência aritmética do denominado efeito de base”, diz o INE.

O mesmo se pode dizer dos preços dos alimentos, que além do efeito de base também tiveram o efeito da medida IVA zero. O instituto explica que “em maio, cerca de 40% dos produtos considerados nesta classe passaram a estar isentos de IVA, explicando em parte a redução de preços registada nesse mês”. “É expectável que a reversão desta medida em janeiro de 2024 tenha o efeito inverso, mas o impacto sobre o preço final nos referidos produtos dependerá da evolução dos respetivos preços de base definidos pelos vendedores”, antecipa o INE.

E, tal como tem vindo a acontecer nos últimos anos, mais baratos ficaram, novamente, produtos como telemóveis e telefones (-6%), televisões (-7%) ou pequenos eletrodomésticos (-4,7%).

luis.ribeiro@dinheirovivo.pt

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