Menos pessoas inativas a transitar para o emprego ajuda a explicar maior dificuldade dos jovens estudantes em arranjar trabalho.
Menos pessoas inativas a transitar para o emprego ajuda a explicar maior dificuldade dos jovens estudantes em arranjar trabalho.Rui Oliveira/Global Imagens

Mercado tem cada vez mais dificuldade em absorver desempregados e inativos

Emprego ainda cresce, mas há novos sinais de que o dinamismo do mercado laboral estará a chegar ao fim. Transições do desemprego e da inatividade para o emprego têm vindo a fraquejar nos últimos trimestres, por exemplo.
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O mercado de trabalho português está a dar sinais de dificuldade crescente na absorção de desempregados e inativos, mostram cálculos do DN/Dinheiro Vivo a partir de dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

De acordo com a atualização das estatísticas do emprego relativas aos fluxos entre estados do mercado laboral, nos últimos quatro trimestres, o número médio de pessoas que conseguiu transitar do desemprego para uma situação de emprego (ou seja, que conseguiu arranjar um trabalho) rondou os 89,4 mil casos, um dos valores mais baixos da série do INE, que remonta ao início de 2012.

O segundo trimestre foi relativamente bom (mais 105 mil desempregados que passaram a uma situação de emprego), mas os três trimestres que o precederam baixaram muito a média do ano que acaba em junho, com fluxos sucessivos na casa dos 80 mil casos de pessoas desempregadas que arranjaram trabalho.

Só para se ter um termo de comparação, antes da crise pandémica, em 2018, a média trimestral deste indicador (calculada sobre quatro trimestres) apontava para que mais de 100 mil pessoas tenham transitado do desemprego para o emprego.

Depois do final do programa de austeridade do Governo PSD-CDS e da troika, que provocou muito desemprego entre 2011 e 2014, o fluxo médio do desemprego para o emprego chegou a ultrapassar os 130 mil casos, o que contribuiu para uma redução sustentada da taxa de desemprego, que parece estar a acabar.

Segundo revelou o INE no início deste mês, a taxa de desemprego caiu entre o primeiro e o segundo trimestre deste ano, para os 6,1% da população ativa (332 mil desempregados), mas ficou igual ao valor registado neste mesmo período há um ano.

Outro sinal de que o desemprego pode estar a regressar é o facto de este ter aumento em número, havendo mais 1% de pessoas oficialmente sem trabalho do que no segundo trimestre de 2023.

Os fluxos do mercado laboral mostram também que a passagem de pessoas da inatividade para o emprego também está a fraquejar, o que pode ajudar a explicar o contributo negativo que o emprego jovem deu à dinâmica geral do emprego interno (ainda positiva no segundo trimestre) e o aumento da taxa de desemprego jovem também no segundo trimestre, uma vez que muitos dos inativos são estudantes.

Segundo o INE, “taxa de desemprego de jovens (16 a 24 anos) foi estimada em 22%” da população ativa neste escalão etário. É mais do triplo da taxa nacional.

Esta taxa de desemprego jovem ainda caiu ligeiramente face ao trimestre anterior, mas aumentou de forma muito significativa face ao período homólogo, com um agravamento de quase cinco pontos percentuais.
Como referido, também aqui o mercado laboral português parece estar a perder dinamismo.

Em média, nos últimos quatro trimestres, transitaram 86 mil pessoas da inatividade para uma situação de emprego, o valor mais fraco desde o tempo que antecedeu a pandemia. Historicamente, desde 2012, este fluxo sempre foi muito superior, tendo chegado a superar os 130 mil casos após o fim do programa de ajustamento.

Vários economistas consideram que a fase de forte expansão laboral que o país experimentou nos últimos três anos (desde a pior fase da pandemia que o emprego tem sempre crescido), e que permitiu atravessar a crise inflacionista com menos sacrifícios, “parece estar a esgotar-se.”

De acordo com os dados mais recentes do INE, a expansão do emprego em Portugal está a perder gás a olhos vistos: a criação líquida de postos de trabalho começou a cair em vários setores que, no seu conjunto, valem mais de metade do mercado de trabalho nacional. Em setores intrinsecamente ligados ao turismo, como a dupla alojamento e restauração, a quebra no emprego foi de 9,1%, a maior desde o segundo ano da pandemia (2021), por exemplo.

Mais 20 800 inscritos no IEFP

O número de inscritos nos centros de emprego atingiu em julho os 305 139 desempregados, o que traduz um aumento de 20 809 pessoas (+7,3%) face a igual mês do ano passado, e também uma ligeira subida em relação ao junho, com mais 193 registos (+0,1%), revelou a síntese estatística do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).
O aumentou ocorreu em todas as regiões, menos nos Açores e na Madeira. O crescimento mais acentuado ocorreu no Algarve, cujo número de inscritos cresceu 17% num ano.

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