Mercado mundial rendido ao mobiliário português de madeira leva-o a novo recorde
Os móveis de madeira feitos em Portugal são cada vez mais apreciados pelo mundo fora. Um gosto alheio, mas que se traduz num conforto para cerca de 80 mil portugueses envolvidos nas atividades representadas pela Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP), cujas exportações não têm parado de crescer desde 2010, e deverão superar, em 2023, o recorde de 2022, para um total de 3170 milhões de euros, antecipa ao DN/Dinheiro Vivo Vítor Poças, presidente da entidade.
No pormenor, as vendas ao exterior acumularam, de janeiro a outubro de 2023, um ganho de 4,8%, equivalente a um crescimento de 120 milhões de euros, em relação a 2022, para um total de 2650 milhões de euros, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística reportados pela AIMMP. Juntando as expectativas positivas associadas ao último trimestre de 2023 ainda por apurar, Vítor Poças acredita que o ano no seu todo poderá culminar com 3170 milhões de euros de exportações, acima do recorde de 3039 milhões atingido em 2022.
Mas as boas notícias são extensíveis às importações do mesmo tipo de bens, uma vez que caíram 4,1% até outubro, para 2215 milhões de euros, permitindo uma melhoria no saldo da balança comercial, entre exportações e importações, já de si tradicionalmente positivo. Essa satisfação advém do facto de o saldo exportador, que vinha a cair desde 2015, retomar, agora, uma trajetória de crescimento, com vendas ao exterior superiores às mercadorias vindas de fora.
De janeiro a outubro, Espanha foi o principal cliente da fileira da madeira e do mobiliário, com 32% da fatia das exportações, seguindo-se França (26%), Reino Unido (6%) e Alemanha (5%). Fora da Europa, os Estados Unidos surgem na primeira posição, com 4%, motivo pelo qual serão uma das apostas em 2024.
É certo que não são só as indústrias do mobiliário de madeira a contribuir para o brilharete dos resultados, embora sejam elas as vedetas. Os números incluem os outros subsetores que a AIMMP reúne, como a área de corte, abate e serração; os painéis e derivados de madeira e energia biomassa; a carpintaria; e a importação/exportação de madeira e derivados - toda uma fileira com 16 mil empresas, os tais 80 mil trabalhadores, um contributo estimado para o Produto Interno Bruto (PIB) de 8 mil milhões de euros e um valor acrescentado bruto de 1800 milhões de euros.
Para pôr toda esta realidade em movimento, há vários motores ativos e Vítor Poças até os cita de cor, mas detém-se naquele que lhe parece o mais decisivo: os apoios à internacionalização, em especial, os mais vocacionados para a participação em feiras no estrangeiro.
Destaca, então, o projeto Inter Wood & Furniture, como um dos mais populares, por reservar 4 a 5 milhões de euros todos os anos para apoiar os investimentos em feiras no exterior. Ao longo dos anos, enumera o dirigente, o programa já apoiou mais de 400 empresas, através de 140 ações, em cerca de 50 mercados, para promover a presença das empresas e suas marcas em mercados internacionais que o setor considera fundamentais para o crescimento pretendido.
A par da estratégia comercial, a AIMMP tem em curso outros projetos através dos quais disponibiliza às empresas ferramentas de apoio para melhorar as qualificações no setor, torná-lo mais atrativo para reter o talento, a digitalização de processos, a criação de marcas, a aposta na inovação, na tecnologia e no design, bem como a sustentabilidade.
Vítor Poças dá o exemplo da criação de uma marca para urnas ecológicas e certificadas como um caso de sucesso, em termos de inovação. Trata-se de uma marca de certificação voluntária, criada e em desenvolvimento pela AIMMP, para implementação em Portugal e na Europa, por agora. Mas também salienta outra marca lançada pela associação, a Associative design - The best of Portugal, para promover o design e a certificação voluntária de produtos que sejam validados pela sua inovação, tecnologia, design e sustentabilidade para a fileira casa.
À lista de iniciativas acrescenta o Prémio Nacional de Arquitetura em Madeira, como outro estímulo relevante, que a associação organiza em parceria com a Ordem dos Arquitetos e a confederação da construção e do imobiliário, para profissionais e estudantes.
A componente ambiental tem um roteiro próprio - o Descarb wood, também conduzido pela associação, destinado à descarbonização da indústria da madeira, através do qual as empresas podem, nomeadamente, calcular a pegada de carbono, as emissões e definir estratégias para reduzir os impactos negativos.
Para 2024, Vítor Poças deseja que o setor mantenha a trajetória de crescimento, ancorada na “diversificação de mercados, na inovação, na formação, na melhoria da produtividade e na esperança de que a floresta seja mais valorizada”. Em sua opinião, “a floresta tem estado abandonada”. “Deveríamos ter explorações maiores, por permuta ou aquisição, para se ganhar escala e os proprietários poderem contratar técnicos e tirar rendimento, estudando as espécies com mais qualidade e mais resistentes.”
Bússola aponta para várias direções
No plano de internacionalização da AIMMP para 2024, destaca-se a participação em três feiras nos Estados Unidos, a primeira em Las Vegas, em finais de abril, a segunda em Chicago, em junho, e a terceira em Nova Iorque, em novembro (as duas últimas ainda sujeitas a conformação). No Médio Oriente, estão previstas três participações: duas no Dubai (em março e em junho) e uma em Riade (em setembro). No Reino Unido, em janeiro será em Birmingham e em Londres, em outubro. Na Alemanha, em Hanover, a primeira feira é já em janeiro, em outubro será a vez de Colónia. Pelo meio, há uma feira em Espanha (Valência, maio), outra em França (Nantes, maio) e também no Luxemburgo (em agendamento).