É consensual entre os peritos que quanto mais tempo os jovens recém licenciados estiverem afastados do mercado de emprego, mais difícil será a sua integração.
É consensual entre os peritos que quanto mais tempo os jovens recém licenciados estiverem afastados do mercado de emprego, mais difícil será a sua integração.Artur Machado / Global Imagens

Mercado de trabalho rejeita 18% dos seus recém-licenciados, um dos piores registos da UE

Haverá cerca de 240 mil jovens diplomados há menos de três anos, com idades entre 20 e 34 anos, que estão sem trabalho. Em 2003, Portugal era o 11.º melhor da Europa neste ranking; hoje, é o 9.º pior, de acordo com dados oficiais.
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A taxa de emprego dos jovens recém-licenciados e diplomados em Portugal - pessoas com 20 a 24 anos que terminaram este nível de ensino há menos de três anos - recuou nas últimas duas décadas, tendo-se fixado em 82% da respetiva população em idade ativa, indicam dados do Eurostat relativos a 2023, divulgados esta semana. Equivale a dizer que quase 18% desses jovens recentemente formados - cerca de 240 mil com qualificações mais elevadas - estavam excluídos do mercado de emprego no ano passado.

A esmagadora maioria deste grupo deve encontrar-se desempregada (o inquérito trimestral do INE aponta para cerca de 150 mil jovens sem trabalho). O resto (cerca de 90 mil deve estar numa situação de inatividade, podendo uma parte ter voltado aos estudos superiores, como pós-graduações, doutoramentos, etc.).

Os números da agência europeia de estatísticas mostram mais: há 20 anos, em 2003, Portugal era o 11.º melhor (taxa de emprego de 82,7%) neste ranking europeu composto por países da União Europeia.

Até 2023, o declínio no indicador em análise foi substancial e o país aparece como o 9.º pior ao nível de empregabilidade dos  recém-diplomados mais jovens.

Portugal surge, assim, abaixo da média europeia, que em 2023 se cifrou em 83,5% (Portugal regista 82,4% de empregados no total da população ativa com idades entre 20 e 34 anos e um diploma superior obtido há menos de três anos, como referido).

A nível da UE, a maior taxa de emprego acontece em Malta (95,8%) e Holanda (93,2%), a situação mais desfavorável é a de Itália e Grécia, com rácios de 67,5% e 72,3%, respetivamente.

Os números, no caso português, têm vindo a causar alguma apreensão junto de responsáveis de topo como o atual primeiro-ministro, Luís Montenegro, ou Mário Centeno, o governador do Banco de Portugal.
Ambos têm alertado que o país não se pode dar ao luxo de desperdiçar o talento e as qualificações elevadas desta geração mais nova, sob pena de atrasar ainda mais o seu desenvolvimento económico a prazo.

É consensual entre os peritos que quanto mais tempo estes indivíduos estiverem afastados do mercado de emprego, mais difícil será o seu regresso ou integração.

“Nós estamos a falhar, o país está a falhar. O país precisa mesmo de um sobressalto cívico, político, empresarial. Nós temos de conseguir absorver no nosso mercado de trabalho estes milhares e milhares de jovens que todos os anos saem das nossas universidades, dos nossos institutos politécnicos e colocá-los ao serviço do crescimento do país”, afirmou o chefe de governo há apenas dez dias, num encontro de verão das comunidades portuguesas (da emigração) do PSD, num hotel em Albufeira.

Na altura, segundo a Lusa, Montenegro também rejeitou a ideia de que a saída de jovens qualificados para outros países possa ser atribuída aos cortes impostos pela troika enquanto Portugal esteve sob um programa de ajustamento que desvalorizou salários e provocou  desemprego.

“Não venham com a conversa de que isto é uma coisa da troika” porque “a troika já se foi embora vai fazer dez anos”. “Não é desculpa”, atirou.
Mas os dados do Eurostat mostram que foi justamente no tempo da troika, em concreto, 2013, que a taxa de emprego dos recém-licenciados bateu no fundo: nesse ano e no anterior (2012), o referido rácio nacional atingiu mínimos de 67,8% e 67,5%, afastando-se dramaticamente da média europeia, que rondava os 75% na altura.

Desde então, que este indicador de empregabilidade tem vindo a recuperar, mas o caminho feito ainda não foi suficiente para que Portugal suba no ranking europeu e comece a registar valores melhores do que a média da UE.

Numa entrevista concedida este ano ao Dinheiro Vivo, Mário Centeno observou que “é imperativo que a economia portuguesa crie os empregos para, na verdade, dar emprego a esses jovens mais qualificados. Os indicadores que temos são bastante positivos ainda que fiquem sempre aquém das nossas ambições”.

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