Profissionais em regime de  trabalho híbrido estão a passar mais tempo no escritório do que há um ano.
Profissionais em regime de trabalho híbrido estão a passar mais tempo no escritório do que há um ano.Pedro Granadeiro / Global Imagens

Mais de metade dos trabalhadores estão insatisfeitos com o salário

Quase 60% das empresas reconhece que tem de oferecer melhores remunerações para conseguir atrair novos trabalhadores, segundo estudo de empresa de recrutamento.
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Mais de metade (56%) dos trabalhadores em Portugal estão insatisfeitos com o nível salarial, sendo que 30% tentaram negociar um aumento remuneratório nos últimos 12 meses, mas só 10% conseguiram uma progressão salarial. A conclusão é do estudo “Talent Trends 2024, The Expectation Gap”, da consultora de recrutamento Michael Page, cujos resultados para Portugal foram divulgados esta segunda-feira. O inquérito revela ainda que 58% dos inquiridos “dão prioridade ao salário quando aceitam ou se candidatam” a outro emprego.

“Este descontentamento criou um mercado laboral mais dinâmico, em que uma parte significativa dos colaboradores está aberta a novas oportunidades, procurando-as ativamente, sendo motivada pela busca de melhores salários”, de acordo com a análise da Michael Page. 

Da parte das empresas, o estudo revela que 61% “veem um salário competitivo como sendo importante para reter pessoas”, e 58% “acreditam que oferecer um salário superior ao atual é essencial para se conseguir recrutar novos colaboradores”. Esta convicção das empresas, no entanto, não está em linha com o sentimento dos trabalhadores.

“Esta divergência crescente em relação à diferença de expectativas é um sinal para as empresas de que devem repensar as estratégias salariais”, alerta o diretor-geral da Michael Page, Álvaro Fernández. “O objetivo seria conseguir o equilíbrio certo entre o que os trabalhadores procuram e o que o orçamento permite”, acrescenta. “Para as empresas, a mensagem é clara: o salário é fundamental para atrair e manter os trabalhadores”, sublinha o responsável. 

Só salário não chega

Os dados indicam que para os trabalhadores portugueses o salário é a prioridade, mas não é o único elemento a ter em conta. Também a saúde e o bem-estar são um fator de satisfação ou insatisfação para os trabalhadores.

“Mais de metade (60%) afirma que rejeitaria uma promoção que significasse sacrificar o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional". São as mulheres, pessoas com mais de 50 anos ou os profissionais que se consideram satisfeitos com o atual nível salarial que “têm uma maior probabilidade de escolher o bem-estar em detrimento de uma promoção”.

Para Álvaro Fernández, as empresas” deveriam criar “cargos e percursos profissionais que respeitem as necessidades de equilíbrio, recuperação e crescimento pessoal” dos trabalhadores. “Esta maior valorização da saúde mental e do tempo para si, em detrimento da progressão profissional, representa uma enorme mudança cultural”, salienta o gestor.

Trabalhadores mais jovens preferem ir ao escritório

A par da valorização do tempo pessoal e da saúde mental, os trabalhadores portugueses indicam já não estar tão interessados na flexibilidade dos horários de trabalho. “Em Portugal, o estudo conclui que a flexibilidade não é uma prioridade” e o país é a região da Europa “que menos valoriza este fator”.

“Em comparação com os resultados do Talent Trends do ano passado, a importância do equilíbrio entre a vida pessoal e profissional manteve-se relativamente constante, até com uma ligeira queda na percentagem dos profissionais que a referem como prioritária. Ainda assim, continua a estar acima de outros fatores, sendo valorizado pelos profissionais portugueses o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional”, lê-se na análise. 

O inquérito revela também que o modelo híbrido “está a mudar a forma como as pessoas trabalham”, sendo que em Portugal a percentagem de profissionais nesse regime (43%) está abaixo da média europeia (52%). E menos de um terço (29%) dos que podem trabalhar num formato híbrido passa mais tempo no escritório atualmente do que há um ano. Isso justifica-se para 44% com “mudanças na política da empresa," enquanto 23% dizem ir mais vezes ao escritório devido ao “aumento das reuniões presenciais”. Só 14% atribui a ida ao local de trabalho “ao facto de os colegas irem mais ao escritório”.

São os mais jovens, segundo o inquérito, sobretudo os trabalhadores na “faixa etária dos 20”, que preferem “estar no escritório e que acham que conseguem retirar melhores oportunidades de progressão na carreira e a oportunidade de aprender com os seus colegas”. “Em Portugal, 13% dos que passam mais tempo no escritório do que há 12 meses e têm um modelo híbrido fazem-no por acreditarem que é mais benéfico para o desenvolvimento das suas carreiras”, segundo a análise da Michael Page.

O “Talent Trends 2024, The Expectation Gap” resulta de inquéritos realizados entre 26 de novembro e 11 de dezembro de 2023, a 49 407 entidades e trabalhadores de 37 países. Em Portugal, a amostra foi de 342 empresas e 876 trabalhadores, num total de 1 218 inquiridos. 

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