Luís Onofre substitui loja do Aviz por futuro El Corte Inglès no Porto
Luís Onofre, o designer de sapatos de luxo, fechou a sua loja no Porto, na Avenida da Boavista. O objetivo é substituí-la por um espaço no futuro El Corte Inglès que há-de nascer na Rotunda da Boavista, na antiga estação ferroviária que aí existe, junto à Casa da Música. Enquanto este não surge, os sapatos que calçam princesas e primeiras damas em todo o mundo, como Letizia Ortiz ou Michelle Obama, podem ser comprados na sapataria de Avenida da Liberdade, em Lisboa, ou na loja online da marca.
O fecho passou despercebido, mas foi já em finais de 2023, pouco mais ou menos na mesma altura em que os designers Luís Buchinho e Nuno Baltazar fecharam as suas lojas também no Porto. “Nós vamos para o El Corte Inglès que vai surgir na Boavista, que estava previsto para final de 2024. Não fazia sentido ter duas lojas no Porto, então optei por fechar no Aviz, só que, infelizmente, está tudo muito atrasado”, referiu, em declarações ao Diário de Notícias, Luís Onofre. Ao mesmo tempo fechou, também, a Zegna Boutique, que trocou o Avis pela Avenida dos Aliados. Onofre não tem essa pretensão. “Para já, só El Corte Inglès”, sustenta, considerando que este projeto, na Boavista, para marcas premium, “será uma lufada de ar fresco” na cidade.
É a concretização de um investimento que, há 20 anos, o então presidente da câmara, Rui Rio, inviabilizou. Rio queria que os mega armazéns espanhóis ficassem na Baixa do Porto, o El Corte Inglès acabou por ir para Vila Nova de Gaia, onde abriu em 2006.
O projeto está de volta, mas só quando terminarem as obras do metro da linha Rosa, o que chegou a estar previsto no fim de 2023, depois no fim de 2024 e agora a Metro do Porto acredita que possa acontecer até ao final deste ano de 2025. Em causa está a ligação da linha Amarela, em São Bento, às restantes linhas do metro (Azul, Verde, Vermelha e Violeta) na Casa da Música, com paragens na Praça da Galiza e no Hospital de Santo António. Onofre considera mesmo que foi um “erro tático” de Rui Rio a inviabilização do investimento espanhol no início do milénio porque, “onde o El Corte Inglès existe, os negócios à volta prosperam”.
Já as obras da Metro do Porto, sejam as do metrobus que o afetaram a si e a quem tem espaços comerciais na zona da Avenida da Boavista, sejam as da linha Rosa, que estão um pouco por toda a cidade, dos Aliados à Boavista, passando pela zona do Palácio de Cristal e Galiza, têm sido “terríveis” para os comerciantes.
O turismo também não tem ajudado. “O nosso maior cliente era o norte-americano, que claramente está a regredir na sua paragem em Portugal. E é uma pena”, garante o empresário, que mantém em funcionamento, e com sucesso, a sua loja na Avenida da Liberdade. Mas também aí sente o mesmo. Tal como online. “Ainda temos muitas vendas para os Estados Unidos, mas nota-se que há uma quebra brutal no consumo dos americanos. Nem sei bem como é que está agora a questão das tarifas, mas as pessoas estão assustadas, e compram menos”, frisa.
No online, é a Inteligência Artificial a lançar novos desafios. “Está a ser terrível, os parâmetros e as métricas feitas por IA os algoritmos estão a desfavor das marcas. Praticamente, agora temos que pagar sempre que queremos fazer um post que realmente chegue às pessoas. Estamos a perder poder de comunicação de uma forma orgânica e isso reflete-se nas vendas. Tenho falado com colegas italianos e acontece-lhes o mesmo”, refere, salientando o poder de plataformas como o X ou Instagram que “querem cobrar tudo e mais alguma coisa”.
Por outro lado, é o próprio negócio da moda, e em especial o luxo, que parece estar a reinventar-se. “Todo o luxo tem levado uma reviravolta muito grande. Nós vemos grandes marcas a investirem em experiências sensoriais, na restauração ou bares de praia, como a Casa Jacquemus, ou o café da Dior, na Tailândia, que é um espetáculo. É este tipo de coisas que as pessoas estão cada vez mais a apreciar”, defende. E há vários outros exemplos de ativações de marcas de luxo semelhantes, como os casos da Gucci ou da Armani que decoram beach clubs na Praia de Pampelonne, na comuna francesa Ramatuelle, na Côte d’Azur, ou da Dolce & Gabbana em Portofino (Itália) de Jacquemus nas Bahamas ou de Loro Piana em Saint Tropez (França).
Sobre o estado do setor - Luís Onofre é presidente da APICCAPS, a associação do calçado -, o empresário admite que se vive um “momento complicado”, com grandes grupos a emagrecerem as suas estruturas, como é o caso da Gabor e da Ara Shoes, mas que, como sempre, há empresas com imenso trabalho, outras com menos, mas luz ao fundo do túnel “há sempre, tem que haver”.