Será necessário mudar de comboio na viagem entre Lisboa e Madrid, mesmo com a nova linha entre Évora e Elvas. A troca deve-se aos diferentes sistemas de apoio à condução dentro da Península Ibérica. A partir de 2026, a viagem entre as duas capitais ibéricas deve demorar cerca de seis horas, segundo uma resposta do Ministério das Infraestruturas e Habitação a deputados do PS. No entanto, a necessidade de transbordo e a capacidade da linha ferroviária devem atirar o tempo de viagem para as seis horas e 30 minutos.O gabinete de Miguel Pinto Luz garante que a nova linha Évora-Elvas terá mesmo serviço de passageiros, corrigindo declarações feitas pelo ministro em novembro do ano passado, quan- do apenas estava a “ponderar” tal hipótese, enquanto não fosse concluída toda a ligação de alta velocidade Lisboa-Madrid, segundo declarações divulgadas pelo jornal local O Digital.No entanto, está afastada a hipótese de um só comboio direto entre Lisboa e Madrid, “prevendo-se que a operação inicie com a CP a operar um comboio entre Lisboa e Elvas e o serviço Alvia, da [espanhola] Renfe, a assegurar a ligação Elvas-Madrid”, adianta o ministério.A CP vai prolongar o comboio Intercidades entre Lisboa e Évora até à Estação de Elvas, refere o contrato de serviço público, que entrou em vigor em junho de 2020. A transportadora portuguesa terá de usar a Estação de Elvas na Linha do Leste, porque não está a ser construída uma nova estação na cidade raiana na nova linha.O tempo de viagem previsto é de cerca de duas horas, penalizado pela passagem na Ponte 25 de Abril - a construção da terceira travessia sobre o Tejo reduz em 30 minutos a deslocação. O comboio da CP poderia seguir até Badajoz, mas, por causa da paragem em Elvas, teria de inverter a marcha, numa operação que representaria pelo menos mais 15 minutos de tempo de viagem. A Renfe vai prolongar até Elvas o serviço Alvia, de longo curso. A partir da Estação de Madrid-Chamartín, o tempo de viagem até à estação fronteiriça portuguesa será de mais de quatro horas e 30 minutos. Em julho de 2023, a transportadora espanhola chegou a anunciar um serviço ferroviário até Évora, mas, para incluir paragem em Elvas, também teria de inverter a marcha.Somando-se o tempo de viagem dos dois operadores ferroviários ibéricos, são pelo menos seis horas e 30 minutos entre Lisboa e Madrid, mais rápido do que a opção por autocarro expresso, mas equivalente à deslocação por carro, mesmo com paragens para descanso. No comboio, contudo, o passageiro tem livre circulação, mais conforto e reduz bastante a pegada carbónica.Resta saber se há argumentos suficientes para retirar viajantes ao avião, que faz a mesma travessia em uma hora e 20 minutos e, mesmo contando com a deslocação para chegar ao centro das capitais ibéricas, demora menos de três horas no total. Atualmente, entre Lisboa e Madrid, a viagem mais rápida demora nove horas e nove minutos, implicando duas mudanças de comboio, no Entroncamento e em Badajoz.Diferentes sistemasPara que haja um só comboio a ligar Lisboa a Madrid é necessário resolver a questão tecnológica, ligada aos diferentes sistemas de apoio à condução. Em Portugal, o sistema é o Convel, equipamento instalado no comboio e que está constantemente a verificar se o comboio segue dentro da velocidade prevista, através da leitura de balizas instaladas na rede ferroviária. Em Espanha, o sistema é o ASFA. Nas novas linhas ferroviárias, como o Évora-Elvas, já será instalado o sistema europeu de apoio à condução (ETCS). Entre Elvas e Badajoz, haverá ASFA e Convel. De Badajoz até Madrid, só há sistema ASFA. Na atual rede portuguesa, a migração para o sistema europeu será feita de forma progressiva até 2050. Do lado da CP, o material circulante apenas é compatível com o sistema Convel, pelo que não pode ir para lá de Badajoz. Para circular em alta velocidade, será necessário esperar pela encomenda de novo material circulante, que já terá sistema ETCS. Do lado da Renfe, os comboios não estão preparados para ir para lá de Évora, porque as automotoras do serviço Alvia têm apenas ASFA e ETCS. De resto, os comboios usados no Alvia, os Talgo 250, da série 130 da Renfe, estão preparados para circular em diferentes bitolas, diferentes tensões na catenária e até em linhas não-eletrificadas. Para chegarem a Lisboa, necessitam de um sistema do tipo STM (Specific Transmission Module), que faça a “tradução” da informação das balizas Convel na via para o comboio já com sistema ETCS. Regresso de passageiros a Sines depende de nova linha Ainda no Alentejo, desde 1990 que não há comboios de passageiros na estação de Sines, apesar do forte crescimento da região por conta da zona portuária. Um eventual regresso deste serviço está dependente dos estudos para a construção de uma nova linha férrea, de 40 quilómetros, entre Sines e Grândola-Norte. “Será avaliada a implantação de uma estação terminal para passageiros em Sines, na proximidade do antigo terminal da Linha de Sines”, refere o gabinete de Miguel Pinto Luz em resposta a perguntas do grupo parlamentar do PCP. A nova linha afastaria o tráfego de mercadorias da maior rampa do país, que obriga a utilizar duas locomotivas e representa custos acrescidos para os operadores.