Uma prestação da casa (empréstimo bancário para compra de habitação) que ronde, atualmente, o valor de 880 euros mensais pode aliviar entre 15 a 20 euros (para perto de 860 euros) na sequência do novo corte, já esperado, nas taxas de juro por parte do Banco Central Europeu (BCE), que hoje deve reduzir a taxa de depósito da Zona Euro (a taxa diretora principal) de 3% para 2,75%, antecipa a esmagadora maioria dos analistas e observadores da política monetária europeia.Depois de quase dez anos com juros nos 0% ou mesmo em valores negativos, o BCE, já liderado pela atual presidente Christine Lagarde, começou a subir taxas de juro em meados de 2022 em resposta à explosão inflacionista provocada, entre outros fatores, pelo início da guerra da Rússia contra a Ucrânia no final de fevereiro desse ano.E fê-lo com uma velocidade sem precedentes, para mais porque a inflação chegou a furar a barreira impensável dos 10% (o valor desejado pelo BCE é 2%). De zero, a taxa diretora chegou num ápice (em pouco mais de um ano) a 4% em setembro de 2023, o valor mais elevado de que havia registo da referida taxa de depósito.Frankfurt decidiu manter este aperto durante nove meses, tendo logrado a descida desejada da inflação, mas com um custo: a economia europeia começou outra vez a vacilar. As famílias cortaram no consumo para poderem pagar a prestação ao banco; as empresas investiram menos porque o crédito ficou demasiado caro, as mais endividadas ficaram de pés e mãos atados.Assim, desde junho do ano passado, o BCE entrou novamente num ciclo de alívio monetário, tendo descido já a taxa “depo” quatro vezes, a um ritmo de 0,25 pontos percentuais por decisão, para 3% em dezembro. Hoje, dará mais um passo nesse sentido, reduzindo a taxa central para 2,75%, o valor mais baixo dos últimos dois anos.Como referido, esta decisão do BCE é menos um peso no orçamento de muitas famílias e empresas por essa Zona Euro fora, e sobretudo em Portugal, onde o peso do endividamento privado e público continua a ser dos mais elevados da região, apesar da tendência gradual de descida desde o tempo da crise do euro.Assumindo, como exemplo, uma família que tenha pedido um empréstimo para comprar casa e que ainda lhe falte pagar uma boa parte, digamos, cerca de 160 mil euros, num contrato de 30 anos com o banco (portanto, 360 prestações mensais), a decisão do BCE pode fazer descer a taxa anual de juro e encargos efetiva global (TAEG) -- a taxa que reflete juro final que os clientes têm de pagar ao banco, tudo incluído, inclusivamente o spread cobrado pelo banco – dos atuais 5,2% para 5,05% ou 5%.Assim será se a descida na próxima atualização/revisão das Euribor chegar a 0,15 ou 0,2 pontos percentuais, respetivamente, que são aproximadamente as reduções da TAEG que se verificam na sequência dos cortes de 0,25 pontos do lado do BCE, segundo um levantamento mais exaustivo feito pelo DN.Para um empréstimo onde falte amortizar 160 mil euros (a 30 anos), a prestação atual com TAEG a 5,2% é de quase 880 euros.O alívio prometido para 5,05% descerá o referido encargo para 865 euros (menos 15 euros por mês); se for melhor que isso e a TAEG aliviar para 5%, o devedor fica a pagar 860 euros, menos 20 euros mensais, segundo cálculos do DN.Taxa de juro deve ficar depois em 2% "durante muito tempo"“Esperamos que o BCE baixe as taxas de juro em 25 pontos base”, isto é, em 0,25 pontos percentuais, diz a equipa de economistas do Banco BPI. Isto colocará hoje a taxa de depósito nos 2,75%), “continuando a flexibilização da política monetária com base na melhoria da dinâmica da inflação e no arrefecimento da atividade”.Segundo o departamento de analistas, “nos últimos meses, aumentou a confiança de que a inflação se fixará no objetivo de 2% em 2025, tanto devido aos próprios dados relativos aos preços (desde a desaceleração do IPC - Índice de Preços no Consumidor, à moderação dos salários e das margens, bem como a vários indicadores da inflação subjacente), como devido à falta de dinamismo da atividade e à deterioração do mapa de riscos”.Com este novo corte, “a política monetária do BCE deixará para trás o terreno claramente restritivo dos últimos dois anos e começará a orientar-se para uma zona mais neutra, aliviando o peso sobre a economia”, dizem aqueles economistas.“Nesta nova zona, e desde que a economia não descarrile, é provável que o BCE mude de velocidade e, nos próximos trimestres, abrande o ritmo de cortes das taxas de juro para convergir suavemente para uma taxa depo nos 2%”, indica o mesmo research do BPI.Segundo os analistas, a expectativa é que o BCE ainda reduza juros algumas vezes até ao verão, mas muito mais devagar, e que “a partir do terceiro trimestre deste ano, a taxa de depósito se fixe durante muito tempo em 2%”.Ontem, a Reserva Federal (Fed) norte-americana decidiu manter as taxas de juro inalteradas fazendo, assim, uma pausa no ciclo de três subidas iniciado no ano passado. As taxas de juro de referência do maior banco central e da maior economia do mundo continuam, assim, no intervalo de 4,25%-4,5%.