Qual é o movimento mais interessante atualmente nos mercados de ações? É o alargamento do mercado. Os títulos do setor da tecnologia registaram ganhos muito fortes no ano passado e na primeira metade deste ano. Mas a tecnologia, no seu todo, como um setor, no terceiro trimestre teve realmente uma performance abaixo do mercado. O mercado de ações no terceiro trimestre subiu cerca de 5,5%, mas o segmento de toda a tecnologia subiu apenas 1,5%..O que isso nos diz é que o mercado está a alargar-se. Os melhores setores no terceiro trimestre foram as utilities, o imobiliário, o financeiro, o industrial e a saúde. Por essa ordem..No seu entender, isso está a acontecer porquê? A razão para isto é que - globalmente - parece que os bancos centrais estão prestes a ganhar a luta contra a inflação. O BCE de certeza, enquanto nos EUA ainda é preciso ir um pouco mais longe. Mas todos estão no processo de baixar as taxas de juros apenas para voltar ao normal..Tentando encontrar o ponto certo para a aterragem... Certo. E isso significa que na economia, a nível global, mais setores irão participar, não será apenas esta estreita faixa da tecnologia. E esse alargamento é muito saudável para o mercado de ações, é muito bom para as condições económicas globais. E significa que a nossa estratégia tem a capacidade de não apenas participar na melhor parte da tecnologia, que é a inteligência artificial (IA), mas também participar na melhor parte da não-tecnologia. A IA provavelmente tem características únicas para permitir que os investidores participem no crescimento deste. E, portanto, estamos bastante otimistas sobre o próximo ano..Mas isso também pode significar que os investidores perceberam que as empresas de tecnologia estão sobrepopuladas, têm demasiada gente a tentar investir nelas. Bem, perguntam-no muito isso, o que é uma boa questão. Então, a tecnologia da informação tem tido uma valorização no topo do seu intervalo desde o ano passado e isso deve-se a um par de razões. Uma delas é porque não houve muito crescimento de ganhos noutros setores desde o ano passado. E as empresas de tecnologia tiveram dos melhores resultados - a começar pela Microsoft. Têm muito dinheiro, muita capacidade de gerar cash-flow. Não estão, de forma alguma, a desacelerar em termos de crescimento dos ganhos. E estão a liderar este ciclo de investimento de IA generativo. Por isso os investidores entraram aos magotes nesta área. E por isso vimos a valorização a crescer na maior parte do ano passado. E, obviamente, este ano também. Mas desde meados do ano algo mudou, e o que mudou é que as “Sete Magníficas” já não são “Sete Magníficas”. As pessoas estão a chamar-lhes mais o “Quarteto Fantástico”..As sete mais ou menos fantásticas... Isso. Não são todas assim tão fantásticas. Três delas estão a descer nos dias de hoje e duas mal se conseguem aguentar [aos ganhos] no mercado. Então, existem apenas duas ações que estão a liderar, a Nvidia e a Meta..Especialmente a Nvidia. Certo, mas o resto tem valorizações alinhadas com essa média histórica. E o crescimento dos ganhos está prestes a acelerar. É por isso que o mercado se está a expandir..É esse o movimento que antevê para 2025? O que você vai ver é mais participação em outros setores. Acho que a tecnologia da informação ainda será um setor de liderança, não tenho a certeza de que seja a área que lidera mesmo, porque já liderou em seis trimestres. Regra geral, um setor que liderou durante tanto tempo, seis trimestres, geralmente perde algum gás em dois ou três trimestres. E até agora só temos o Q3 (terceiro trimestre) de underperformance. Por isso pode persistir no quarto trimestre e no primeiro de 2025, à medida que outros segmentos encabeçam a liderança. Mas a coisa mais fascinante é que o S&P (Standard & Poor’s) atingiu novos máximos e, no entanto, das “Sete Magníficas” três delas estão aqui em baixo. Isso significa que a economia subjacente ao crescimento económico e dos lucros no mercado de ações está muito saudável e está também a fortalecer-se..Qual será a influência do desempenho da economia chinesa nesta tendência? Esse é outro aspeto que as pessoas não consideraram nesta análise... A China iniciou uma grande onda de estímulos. E do ponto de vista da condição económica e de todos os investimentos que têm feito, a China tem estado fraca nos últimos dois anos. Então, só agora a vemos a sair daquela lentidão, daquele marasmo. E se os chineses realmente começarem a pôr em ação os estímulos, a China - como economia - vai crescer. Isso significa que esses outros setores, como os financeiros....A indústria... Isso, a indústria, a energia, vão beneficiar bastante. Por isso temos de investir algum tempo a pensar a sério nisso, na China como um motor da procura de setores que tem estado fora das primeiras escolhas dos investidores nos últimos dois anos..Quais são as suas perspetivas para a economia na Europa e nos Estados Unidos? Se a China recuperar o crescimento, isso é bom para a Europa, porque a Europa é uma economia de exportação para a China. O que tem vindo a prejudicar a Europa não é o consumo interno, mas sim as exportações para a China e, obviamente, para os outros países do Sudeste Asiático. Na medida em que a China recuperar e ganhar força, então haverá mais fábricas, mais automação, e isso será bom para empresas como a Siemens, por exemplo, e assim por diante. Neste momento, na China, a indústria automóvel é a única área que está bem. Mas se começar a recuperar, isso será bom para a economia industrial na Europa.