Nadia Calviño, presidente do Banco Europeu de Investimento (BEI).
Nadia Calviño, presidente do Banco Europeu de Investimento (BEI).OLIVIER MATTHYS / EPA

Inquérito BEI: 77% das empresas portuguesas dependem do comércio mundial, mais que a média europeia

"Em resposta a choques comerciais, as empresas portuguesas são mais propensas do que as da UE a aumentar o número de países de onde importam", diz o BEI no novo inquérito a empresários feito em 2024.
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Cerca de 370 empresas de um total de 482 auscultadas pelo Banco Europeu de Investimento (BEI) no âmbito do seu inquérito anual ao investimento, isto é, 77% do total, afirmaram estar dependentes das cadeias do comércio mundial (ou seja, "estão integradas" e precisam de, algum modo de exportar ou importar produtos e serviços de forma a fazerem negócios).

Este novo inquérito do BEI, instituição financeira que atualmente é presidida por Nadia Calviño, ex-ministra de Economia de Espanha, foi conduzido bem antes do atual tumulto e da escalada nas ameaças de guerra comercial à escala global lideradas pelo novo Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump.

Os resultados foram apurados pelo banco sediado no Luxemburgo "com base em entrevistas telefónicas a 482 empresas em Portugal, realizadas entre abril e julho de 2024", nota o BEI.

Faltavam quatro meses para a vitória de Trump nas eleições norte-americanas de novembro.

Será por esta razão, por em julho ainda não se vislumbrar a ascensão de Trump, que os empresários portugueses ouvidos ainda sinalizaram que "as preocupações com algumas interrupções na cadeia de abastecimento diminuíram ligeiramente tanto em Portugal como na União Europeia (UE)" face ao inquérito de há um ano.

Certo é que, "em comparação com as empresas da UE, as empresas portuguesas estão mais integradas no comércio global" (63% no caso europeu vs. 77% no caso português).

Recorde-se que, logo a abrir este segundo mandato como líder do governo da maior economia do mundo, Trump anunciou uma cascata de ameaças tarifárias a aplicar sobre uma série de produtos que os EUA compram ao exterior, designadamente, um tributo de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio.

A Europa será um dos alvos. Outras economias foram já visadas pela escala protecionista, como China, Canadá e México.

O que faz o BEI em Portugal

O BEI segue estas centenas de empresas em Portugal pois é, desde 1976, um financiador/credor importante da economia.

É um banco essencialmente grossista, empresta a projetos de grande dimensão, a empresas de maior escala, mas muito do fluxo de financiamento é canalizado através dos bancos comerciais instalados no país. O financiamento do BEI é feito a taxas de juro especialmente baixas.

Desde 1976, o BEI conta que já ajudou a financiar 514 projetos de investimento, avaliando o seu contributo em mais de 58 mil milhões de euros (a preços atuais).

"Além do financiamento da icónica Ponte Vasco da Gama [entre Lisboa e Alcochete], os nossos investimentos desempenham um papel fundamental na promoção da inovação e no avanço da transição ecológica em Portugal", relembra o banco.

"Apoiámos a construção do Hospital de Lisboa Oriental e o desenvolvimento de infraestruturas de baixo carbono nos aeroportos nacionais, bem como o aumento da produção de energia solar e eólica, contribuindo para uma economia mais sustentável e resiliente."

É o caso do "primeiro parque eólico flutuante da Europa continental, uma maravilha da engenharia que tem de ver para crer", diz fonte oficial. Com "apenas três turbinas – tendo, cada uma delas, mais de 200 metros de altura – fornecem energia a 60 mil pessoas em Viana do Castelo", este projeto "representa o futuro da energia eólica off-shore".

Segundo a instituição, Portugal é um dos dez maiores beneficiários de financiamento do Grupo BEI — composto pelo Banco Europeu de Investimento (BEI) e pela subsidiária, o Fundo Europeu de Investimento (FEI) — na União Europeia, em proporção do Produto Interno Bruto (PIB).

Em 2024, o financiamento total concedido pelo Grupo BEI ascendeu a 2,1 mil milhões de euros, cerca de 0,7% do PIB de Portugal.

Em 2023, último ano para o qual há dados detalhados (os de 2024 serão divulgados em março, em princípio), "o BEI disponibilizou 1,8 mil milhões de euros, principalmente para apoiar promotores dos setores público e privado e impulsionar a ação climática e a sustentabilidade ambiental" e "o FEI, braço especializado do grupo que disponibiliza soluções de financiamento, garantias e capital de risco, contribuiu com 366 milhões de euros para fomentar a inovação e estimular a economia portuguesa", diz a instituição.

Maior preocupação com matérias-primas e componentes

No novo inquérito aos investidores referente a 2024, publicado esta quarta-feira, "a conformidade com os novos regulamentos e normas ou certificações e os desafios logísticos são os principais desafios comerciais para as empresas portuguesas" ouvidas.

"Em comparação com as empresas da UE, as empresas portuguesas manifestam maior preocupação com o acesso matérias-primas e outros componentes e com a conformidade com novos regulamentos, normas ou certificações", diz o BEI.

"Em resposta aos choques comerciais, as empresas portuguesas são mais propensas do que as empresas da UE a diversificar ou aumentar o número de países de onde importam (31% vs. 19% para as empresas da UE) e menos propensas a aumentar os stocks e inventários (16% vs. 20% no caso das empresas da UE)", indica o banco europeu.

Mais de 80% vê futuro incerto e escassez de talentos

Outro aspecto destacado no inquérito é que mais de 80% das empresas portuguesas, "mais de quatro em cinco", isto é, 386 das 482 abordadas pelo BEI, indicaram "a incerteza sobre o futuro, a disponibilidade de pessoal qualificado, as regulamentações empresariais e os custos energéticos como obstáculos ao investimento".

"A percentagem de empresas portuguesas que investem manteve-se relativamente estável nos últimos três anos. No entanto, em comparação com as empresas da UE, há menos empresas portuguesas a investir", avisa o BEI.

"As expectativas quanto a alterações futuras no investimento também se mantiveram estáveis ​​em Portugal, com uma fatia ligeiramente maior de empresas a esperar um aumento em vez de uma diminuição do investimento face à média da UE."

83% diz que investimento feito nos últimos três anos chega

Quanto à distribuição do investimento pelas diferentes categorias em Portugal esta "está estreitamente alinhada com a média da UE, sendo que o investimento na substituição de capacidade produtiva representa a maior fatia (59%)".

"As empresas em Portugal reportam uma média de 31% de investimentos em ativos intangíveis em 2023" e "as Pequenas e Médias Empresas (PME) tiveram uma maior quota de investimento em ativos intangíveis do que as grandes".

Em Portugal, "a grande maioria (83%) das empresas diz estar satisfeita com os níveis de investimento nos últimos três anos, mas uma proporção significativa (16%) sente que tem um fosso de investimento. Estas proporções são muito semelhantes às da UE", refere o novo estudo do BEI.

"Olhando para os próximos três anos, as empresas portuguesas esperam continuar a dar prioridade à substituição de capacidade (43%), uma proporção ligeiramente acima da média da UE (36%)."

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