Menos idas às compras acabam por provocar menos desperdício, lembram os especialistas.
Menos idas às compras acabam por provocar menos desperdício, lembram os especialistas.Stringer / AFP

Inflação desce, mas famílias mantêm-se cautelosas no consumo

Dados do primeiro semestre mostram que os portugueses continuam a preferir lojas de proximidade, a ir mais vezes às compras, mas a comprarem menos de cada vez.
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Os portugueses continuam a cortar nos gastos no supermercado. Vão mais vezes às compras, mas trazem menos produtos de cada vez que lá vão, baixando, assim, o gasto médio por cesta. Nos primeiros seis meses do ano, cada família foi, em média, 73,1 vezes às compras, ou seja, uma vez a cada dois dias e meio. Em cada uma delas trouxeram para casa uma cesta com 7,6 quilogramas, no valor de 21,86 euros, o que representa um aumento homólogo de 1% na frequência, mas uma quebra de 4% em volume e de 2% em valor. Mesmo assim, o preço médio dos artigos subiu 2% para 2,88 euros. Quase metade do que compraram (48%) foi produtos das chamadas “marcas brancas”.

Os dados são do FMCG Monitor 360 da Kantar, e mostram que o consumo fora de casa e a compra de combustíveis se mantiveram dinâmicos na primeira metade do ano, com o primeiro a crescer 7,1% em valor e 9,4% em volume, e o segundo a aumentar 7,3% em valor, mas apenas 2,6% em volume. Já a compra de vestuário e calçado diminuiu drasticamente, com quebras de 19% tanto em valor ,como em volume. Quanto ao segmento alimentar, se é verdade que os números mostram que se fazem cada vez mais refeições fora de casa, nas compras para o lar são os frescos e a alimentação animal as únicas categorias a crescer 2% e 1%, respetivamente.

Para o diretor-geral da Centromarca, a Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca, os números da Kantar mostram que, retirado o efeito inflação, o consumo das famílias volta a ter uma evolução mais padronizada, dentro daquilo que é o habitual num mercado maduro. E mesmo os gastos em marcas da distribuição, que no ano passado chegaram a crescer a dois dígitos, mês após mês, este ano estão a perder alguma tração. “A questão da cesta mais curta e da ida mais repetida às compras parece já não ser só uma reação às dificuldades económicas,  mas uma alteração de hábitos, uma coisa mais estrutural, até porque começa a vingar a ideia de que este comportamento de compra promove a sustentabilidade e evita o desperdício”, defende Pedro Pimentel.

Do lado da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição, a tónica é colocada na descida da inflação e na melhoria dos índices de confiança dos portugueses, que promovem uma “estabilização do mercado”. No entanto, Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da APED, fala num mercado “muito concorrencial”, e com “grande pressão” para que os preços não subam. Quem ganha, assegura, é o consumidor que, “além de ter maior diversidade de oferta, tem maior liberdade de escolha.”

O responsável assume, no entanto, alguma preocupação com um eventual aumento dos custos das matérias-primas e o seu impacto no mercado e no consumo. “Tipicamente, em setembro ou outro, poderão existir alguns ajustamentos de preços, porque as matérias-primas têm estado muito impactadas pelo aumento do custo dos transportes, decorrentes dos ataques houthis no Mar Vermelho”, diz, acrescentando ainda que o setor olha com “alguma preocupação” para o aparecimento de regulamentos europeus que terão, também, efeitos ao nível dos preços dos produtos e, consequentemente, na carteira dos consumidores.

Expectativas

Instado a fazer previsões para o que será o segundo semestre do ano, em termos de retalho alimentar, Lobo Xavier admite que, nesta altura, “é tudo um bocadinho imprevisível ainda”, mas assume que uma “estabilização política” no país, com a aprovação do Orçamento do Estado para 2025, “pode ser determinante para que as famílias se sintam mais corajosas no seu investimento no consumo.”

Já Pedro Pimentel reconhece que o consumidor está hoje “menos ansioso” do que estava há um ano e que a expectativa do setor é que o segundo semestre possa correr “um bocadinho melhor” do que o primeiro, do ponto de vista da saúde económica das famílias. “A questão da descida das taxas de juro vai ser muito importante, quanto às medidas do IRS logo veremos qual é o seu impacto efetivo, mas entre uma e outra [medida], as famílias terão mais rendimento disponível e esperamos que os consumidores possam ter um comportamento um bocadinho mais risonho na segunda metade do ano”, frisa.

Até porque, admite o responsável, “um bocadinho mais de saúde financeira poderá permitir uma maior aproximação entre [os gastos em] marcas próprias e de fabricantes.”

Cabaz essencial caiu para 136,82 euros

O preço do cabaz alimentar de produtos essenciais desceu e está agora nos 136,82 euros, menos 1,89% do que no mês passado. A análise é da plataforma de comparação de preços de supermercados kabaz.pt, que destaca que, dos 45 produtos monitorizados desde o início do ano, 13 têm vindo a ficar mais baratos, com especial destaque para batatas, leite, iogurte grego, bacalhau, pescada ou azeite.

Mas o pão, esparguete, arroz carolino, feijão, grão de bico, brócolos e perna de peru são exemplos de alguns cujos preços subiram. Comparar preços entre supermercados e marcas é a recomendação.

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