“Há um défice de 100 mil milhões de euros por ano para investir em inovação”
A necessidade de “recuperar o atraso” da Europa na área da inovação, “de aumentar a importância estratégica da investigação para a nossa competitividade, porque este é um dos principais motores do crescimento económico” foi esta quarta-feira reconhecido pela comissária europeia para a Investigação, Cultura, Educação e Juventude, num encontro com jornalistas à margem dos eventos principais da Web Summit, a feira tecnológica que termina esta quinta, em Lisboa.
Numa altura em que vários documentos, nomeadamente “Draghi, Letta, Heitor, muitos relatórios” alertam para a necessidade de corrigir o rumo para recuperar este atraso - “a própria presidente [da Comissão], Ursula von der Leyen sublinhou, há poucos dias, que esta será uma das principais prioridades da nova Comissão para colmatar este fosso da inovação”, lembra a comissária - Iliana Ivanova faz o quadro com “números”. “Sou uma pessoa de números”, diz, em resposta a uma pergunta do DN.
“Onde estamos em relação a um investimento de 3% do PIB em investigação e inovação - porque essa é a meta que o mundo avançado e os nossos parceiros e rivais com ideias semelhantes estão mais ou menos lá, ou acima? Estamos em 2,24%, definitivamente menos. Se olharmos para a tendência dos últimos mais de 20 anos, temos na Europa um défice de financiamento de cerca de 100 mil milhões de euros por ano para investir em investigação e inovação para colmatar este limiar de 3%”, reforçou. “Temos muito trabalho a fazer.”
Para tentar colmatar esta falha o projeto europeu tem atualmente o Horizonte Europa, “um dos maiores programas de financiamento público do mundo para a investigação e inovação”, que conta com um orçamento de cerca de 93 mil milhões de euros” valor que, admite a comissária “não é suficiente”.
O orçamento adicional que é então necessário atrair terá de ser captado “de âmbito nacional, local, regional, mas, sobretudo privado”, afirma Ivanova. “Esta foi uma das minhas principais ideias e prioridades no ano passado”, garantiu.
Um caminho que, no entanto, não é possível a nível comunitário sem uma verdadeira união de mercado de capitais. “Temos de ter uma união do mercado de capitais funcional para que estes investidores, capitais de risco, tenham as condições e incentivos adequados para virem investir na Europa e para que estas ideias que os nossos brilhantes inovadores criam possam permanecer e crescer na Europa”, disse Iliana Ivanova.
A concretização de um mercado único de capitais será o pelouro da portuguesa Maria Luís Albuquerque, já nomeada comissária europeia para os Serviços Financeiros e União de Poupança e Investimento.
Apenas desta forma será possível impedir que uma ideia inovadora europeia acabe por ser financiada pelos EUA ou pelo Oriente por falta de financiamento do Velho Continente.
“Temos de ser pragmáticos”, reforça a comissária. “Temos de fazer o nosso trabalho de casa, concentrar os nossos esforços para melhorar as nossas ineficiências, para criar as condições certas também do ponto de vista de regulação para as empresas e para os investidores que chegam e aqui querem ficar. Porque muitos dizem que o financiamento não é o problema número um, o quadro regulamentar é que é o maior problema. Pelo que eu diria que temos de estar preparados, fazer o nosso trabalho... e ver o que o futuro traz.”