Em fevereiro estavam registados nos Centros de Emprego 331 008 desempregados.
Em fevereiro estavam registados nos Centros de Emprego 331 008 desempregados.

Há mais de 11 mil ofertas de emprego em aberto. Baixa qualificação preocupa empresários

Associação Empresarial de Portugal critica “desperdício de recursos” por falta de formação. Em fevereiro havia mais 15 363 inscritos nos Centros de Emprego do que há um ano.
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O número de desempregados inscritos nos Centros de Emprego caiu 1,2% em fevereiro, comparativamente ao mês anterior, mas subiu 4,9% em termos homólogos, para um total de 331 008. Os dados são do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e representam mais 15 363 inscritos do que há um ano. Diz o Governo que este acréscimo resulta “do aumento da população ativa”, sublinhando que o número de inscritos “é o terceiro mais baixo no mês de fevereiro dos últimos 20 anos”. Mas o IEFP indica também que, no final de fevereiro, havia 11 377 ofertas de emprego por satisfazer em todo o país. Os empresários falam num “desfasamento” entre a procura e a oferta e mostram preocupação com o “desperdício de recursos” por falta de formação.


O presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP) lembra que, apesar dos números do IEFP refletirem um aumento da procura de emprego face ao mesmo período do ano anterior, os inquéritos aos associados “têm vindo a refletir uma grande preocupação com a falta de mão-de-obra”, o que “denuncia um desfasamento entre a procura e oferta no mercado de trabalho”.


Luís Miguel Ribeiro aponta, ainda, o facto de a maioria dos desempregados registados pelo IEFP serem pessoas de idade superior a 25 anos e só com o Ensino Secundário. “A percentagem de desempregados com o Ensino Superior é de pouco mais de 10% o que reflete o potencial das qualificações na obtenção de emprego”, sublinhando que, “para a AEP é muito preocupante este ‘desperdício de recursos’, que limita o nosso potencial de crescimento e desenvolvimento económico, onde Portugal tem um importante caminho a percorrer, tendo vindo a defender a formação e requalificação dos trabalhadores”.


Em termos homólogos, o desemprego caiu apenas nas regiões autónomas, que contavam, no final de fevereiro, com 12 526 desempregados inscritos nos Centros de Emprego, menos 2910 do que há um ano, o que representa um decréscimo de 18,9%. No continente, aumentou em todas as regiões. Em números absolutos, o Norte tem o maior crescimento, com mais 7339 desempregados, para um total de 125 541 inscritos. Lisboa e Vale do Tejo tem 108 824 pessoas sem emprego, mais 5785 do que há um ano.


Em termos relativos, o maior crescimento foi no Alentejo, onde o desemprego cresceu 11,3% e no Algarve, com um acréscimo de 8,2% para 17 835 e 22 379, respetivamente. Para o presidente da AEP, estes números não são surpresa atendendo a que o Norte, enquanto região “mais industrializada e com maior vocação exportadora”, acaba por ser “fortemente influenciada” pelo contexto internacional, marcado pelo menor dinamismo dos principais clientes externos de Portugal e pela redução da carteira de encomendas das empresas portuguesas, em resultado de uma “conjuntura desfavorável, nomeadamente pelo impacto da política monetária restritiva levada a cabo pelo BCE”. 


Uma análise mais fina aos números do IEFP mostra que os trabalhadores não-qualificados representam mais de um quarto (27,6%) dos mais de 318 mil inscritos nos Centros de Emprego do IEFP em Portugal continental. São 87 828 pessoas. O segundo maior grupo profissional é o dos “trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção, segurança e vendedores”: são 65 970 desempregados, e correspondem a 20,7% do total. Segue-se o “pessoal administrativo”, que representa 11,8% do total, correspondente a 37 628 trabalhadores por colocar.


Quanto à atividade económica de origem do desemprego, dos 288 658 desempregados que, no final de fevereiro, estavam inscritos como candidatos a novo emprego em território continental, 73,2% tinham trabalhado nos serviços, com especial destaque para as “atividades imobiliárias, administrativas e dos serviços de apoio”, que representam 33% do total e aumentaram, face a fevereiro do ano passado, 10,7%. São mais 9234 desempregados, num total de 95 152 oriundos do segmento imobiliário. Destaque, ainda, para o aumento do número de desempregados no turismo, com o setor do alojamento, restauração e similares a pesar 11,3% no desemprego total. Deste setor há 32 615 pessoas à procura de trabalho, quase mais 2600 do que há um ano. 


Em termos de crescimento relativo, destaque para o aumento do número de desempregados da indústria do calçado: eram 4435 no final de fevereiro, cerca de 1,5% do total de desempregados no continente, mais aumentaram 80,7% face a fevereiro de 2022, ou seja, mais 1980 inscritos do que no período homólogo. 


Quanto às ofertas de emprego, foram registadas 9075 no total, das quais 271 nas regiões autónomas. Das pouco mais de 8804 ofertas recebidas para Portugal continental, 30% foram para o Norte (2721), 27,9% para Lisboa e Vale do Tejo (2531) e 20,5% para a Região Centro (1857). O Algarve recebeu 1165 ofertas (12,8% do total) e o Alentejo 530, correspondentes a 5,8%. Mas, comparativamente quer ao ano passado quer a janeiro de 2024, as ofertas de emprego estão a diminuir: foram 9,8% inferiores ao mês anterior e 8,4% abaixo do período homólogo. Esta quebra foi transversal, a todo o país, embora, a Norte, se tenha sentido pouco: a quebra homóloga é de apenas menos três ofertas de emprego.

Na análise por atividade económica, praticamente todas têm menos oferta de emprego do que há um ano, mas há setores à procura de mais trabalhadores, com especial destaque para o imobiliário, que teve 2262 ofertas de emprego, mais 281 do que em fevereiro de 2023. É um aumento de 14,2%. A indústria automóvel e as atividades financeiras e de seguros são outros dos setores que estão a contratar mais. 


“Estes são resultados muito positivos, confirmam a estabilização do desemprego em valores mínimos deste século, mesmo com os desafios que enfrentámos a partir de 2020, com uma pandemia, uma guerra e a escalada da inflação”, referiu, citada em comunicado, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. Ana Mendes Godinho sublinha, ainda, que “Portugal está em máximos históricos de população empregada, crescimento que é também sustentado ao nível da valorização salarial, ou seja, mais e melhores empregos”.


ilidia.pinto@dinheirovivo.pt

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