Logo no início deste ano, quando Donald Trump regressou ao poder nos Estados Unidos da América (EUA), uma das maiores ameaças globais, que já vinha das promessas eleitorais do republicano, foi imediatamente acionada: as tarifas comerciais.Já vamos em quase cinco meses de anúncios de tarifas. Alguns foram já passados à prática com a imposição de tributos pesadíssimos (veja-se o caso dos 50% sobre todo o aço e alumínio importado pelos EUA). Outros pairam como uma ameaça comercial existencial sobre vários países e setores.Até agora, as empresas mais rápidas a reagir foram as farmacêuticas que sabem, desde o início deste mês, que caso não invistam muito nos EUA, podem vir a enfrentar uma taxa de até 200% para vender no mercado americanos.O relógio começou a contar e o tempo idealizado por Trump é "um ano, um ano e meio" para as farmacêuticas se adaptarem aos seus desejos.É o que aparentemente muitas companhias, várias delas europeias, estão a fazer.De março até agora, dezenas de grandes conglomerados farmacêuticos anunciaram centenas de milhares de milhões de euros em investimentos nos Estados Unidos ao longo dos próximos anos.O grupo Johnson & Johnson, um dos maiores do mundo do sector farmacêutico, nasceu nos EUA há cerca de 140 anos, mas tem uma presença histórica e grandes investimentos feitos e a decorrer na Europa.Não foi isso que demoveu a empresa de ser uma das primeiras a mostrar a Trump que vai apostar mais em made in USA.Fonte oficial recorda que a J&J "está presente na Suíça desde 1959, quando comprou a Cilag AG em Schaffhausen"."A Suíça tem sido uma importante sede", onde empregam "mais de 5.600" pessoas.No entanto, no final de março, segundo fonte oficial da Johnson & Johnson, "foram anunciados investimentos em fabrico, investigação e desenvolvimento e tecnologia de mais de 55 mil milhões de dólares [cerca de 47 mil milhões de euros] nos Estados Unidos nos próximos quatro anos"."Isto representa um aumento de 25% no investimento em comparação com os quatro anos anteriores e baseia-se nos já elevados níveis de investimento da empresa nos EUA", diz a mesma fonte."O nosso crescente investimento nos EUA começa com a inauguração de uma unidade de alta tecnologia na Carolina do Norte, que criará empregos e também fabricará medicamentos de ponta para tratar doentes nos Estados Unidos e em todo o mundo", explica a J&J.Já em abril, depois do anúncio do "dia da libertação", a 2 de abril, que provocou choque e apreensão a muitos empresários e políticos pelo mundo a fora, a farmacêutica gigante Novartis, que é europeia, está baseada na Suíça, anunciou através da sua filial em Nova Jérsia, nos EUA, que tem "um plano de investimento de 23 mil milhões de dólares ao longo dos próximos cinco anos anos em infraestruturas nos EUA, garantindo que todos os principais medicamentos da Novartis para doentes americanos são produzidos nos Estados Unidos".A capacidade de fabrico e inovação da Novartis nos EUA vai expandir-se até um total de dez instalações, "incluindo sete novas, criando quase 1.000 novos postos de trabalho".Alexander Natz, secretário-geral da Confederação Europeia de Empreendedores Farmacêuticos (EUCOPE na sigla inglesa), explica ao DN que este tipo de anúncios vai tender a multiplicar-se, à medida que as empresas se deslocariam ou investem mais nos EUA para lá produzirem."Já temos empresas como a Novartis e outras a dizerem que vão aumentar a produção nos EUA” e “penso que é exatamente isso que a administração Trump quer alcançar, embora estes anúncios não sejam juridicamente vinculativos, mas já fazem parte de uma negociação a sério", diz o responsável.Do lado europeu, o líder da EUCOPE pede melhor ambiente de negócios. “A melhor reação é tornarmo-nos mais competitivos. Nós estamos em Bruxelas e a Comissão Europeia compreendeu não só a importância da indústria farmacêutica, mas também que precisa de fazer algo em relação a esta indústria, que é estrategicamente relevante, não só em tempos de crise, como a pandemia, mas também para além dela”, recorda Alexander Natz.Esta semana, os anúncios de investimentos ao estilo "América primeiro" continuaram.A Biogen, uma grande biotecnológica com sede em Massachusetts, nos Estados Unidos, mas que está amplamente representada na Europa, Portugal incluído, anunciou que vai investir "mais de dois mil milhões de dólares nas suas fábricas na Carolina do Norte".A Biogen junta-se a grandes farmacêuticas como Eli Lilly, Roche e Merck, que também revelaram recentemente planos de investimento muito valiosos em território norte-americano, uma forma de a indústria se preparar o embate das tarifas desenhadas na Casa Branca.Para a União Europeia (UE) o mercado farmacêutico norte-americano é crítico: é a maior exportação anual da economia dos 27 países. E idem no caso português.Segundo o Eurostat, os dois segmentos “produtos farmacêuticos” e “medicamentos” valeram às empresas exportadoras europeias deste sector de “alta tecnologia” mais de 120 mil milhões de euros em vendas para os EUA.É um sector muito mais valioso do que o segundo maior da Europa, as exportações de carros e veículos motorizados, que registaram vendas de 40 mil milhões de euros para os Estados Unios. Ou seja, o mercado europeu das farmacêuticas (lá nos EUA) vale o triplo do automóvel.Para Portugal, as exportações de “produtos farmacêuticos e preparações farmacêuticas de base” são o negócio nacional mais importante nos EUA, superando os 1,2 mil milhões de euros anuais, superando as vendas de combustíveis na ordem dos mil milhões (da Galp, sobretudo)..Tarifas de Trump sobre as farmacêuticas vão penalizar sobretudo os doentes e a inovação