Governador do Banco de Portugal critica bancos por juros baixos nos depósitos
TIAGO PETINGA/LUSA

Governador do Banco de Portugal critica bancos por juros baixos nos depósitos

Mário Centeno diz que a banca deve refletir "sobre o rendimento que dá às poupanças dos portugueses" e avisa que os europeus "têm de estar disponíveis" para travar guerra no seu continente.
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O governador do Banco de Portugal (BdP) criticou esta quarta-feira os bancos pelos juros baixos pagos nos depósitos dos clientes, na sua intervenção na conferência Fórum Banca, em Lisboa.

"Não é muito compreensível que haja uma diferença significativa entre a remuneração dos depósitos da banca no banco central e a remuneração dos depósitos que a banca faz aos seus clientes", disse Mário Centeno, que fez a intervenção final do Fórum Banca.

A atividade da banca de receber depósitos "é atribuída por nós, pelo país", recordou o governador, acrescentando que é uma "responsabilidade social gerir as poupanças dos portugueses" e respeitar esse contrato social também na remuneração dos depósitos.

"Hoje podemos exigir que a banca apoie a economia, que a banca reflita no rendimento que dá às poupanças dos portugueses aquilo que é também a remuneração que a banca obtém nos bancos centrais pelos depósitos que lá tem", afirmou Centeno.

Do dinheiro que os clientes depositam nos bancos, a parte que os bancos não emprestam em crédito depositam nos bancos centrais.

Atualmente, a taxa de juro de depósitos do BCE é de 2,5%, sendo esse o juro que os bancos recebem pelo dinheiro que aí depositam.

Já a taxa de juro média dos novos depósitos a prazo de particulares diminuiu em janeiro pelo 13.º mês consecutivo para 1,98%, segundo dados do Banco de Portugal.

O tema dos juros dos depósitos foi hoje debatido no painel dos banqueiros no Fórum Banca, que consideraram que a remuneração dos depósitos é sobretudo uma questão de concorrência, de procura e oferta.

Mário Centeno (ex-ministro das Finanças de governos PS, de António Costa) termina o seu mandato como governador do Banco de Portugal em julho deste ano. A crise política e novas eleições legislativas poderão levar a atrasar a recondução ou substituição do governador, pois este é nomeado pelo Governo mas tem de passar por audições no parlamento antes de tomar posse.

Europeus "têm de estar disponíveis" para travar guerra na Europa

Mário Centeno defendeu que os europeus "têm de estar disponíveis" para travar a guerra na Europa, que precisa de investimentos e recursos.

"Nós vivemos na Europa, somos parte da Europa. A Europa tem uma guerra que tem de vencer. A guerra é na Europa, não é em mais nenhum sítio do mundo. Essa vitória que queremos, nessa dimensão, precisa de investimentos, precisa de recursos, e os europeus têm de estar disponíveis para a travar", afirmou.

O governador do BdP registou que a Europa já identificou outras transições, para as quais se adaptou -- como nos casos das transições energética e digital.

Nesse sentido, apontou que as reformas necessárias devem ser feitas num contexto, quer na perspetiva europeia, quer na perspetiva nacional, de estabilidade orçamental.

A nível nacional, Centeno voltou a alertar para a necessidade de haver um acautelamento face à existência de ciclos económicos.

"Gozamos, e bem, de uma situação cíclica muito positiva em Portugal -- que não na Europa, já", apontou, dizendo que Portugal continua a crescer acima do seu crescimento potencial, em média.

O governador, cujo mandato atual termina em junho, considerou que não deve haver complacência e pensar que a situação cíclica "se vai perpetuar".

"A pior coisa que podemos fazer hoje é, provavelmente, do pior que fizemos no passado: sentarmo-nos em cima de uma situação cíclica positiva e pensarmos que essa situação cíclica se vai perpetuar. Não é assim, não foi assim e não será assim no futuro", alertou.

A nível nacional, Mário Centeno sublinhou que Portugal beneficia de uma situação "orçamental, financeira e económica invejável".

"Podemos ser ambiciosos, hoje, coisa que no passado dificilmente conseguíamos ser", assinalou.

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