Gastos nos supermercados cresceram 4,6% para 14 715 milhões de euros em 2024
As famílias portuguesas, e os turistas que por cá passaram, gastaram 14 715 milhões de euros nos hiper e supermercados nacionais em 2024, o que representa um aumento de 4,6% face ao ano anterior. É um abrandamento na taxa de crescimento, face aos 11,8% de 2023, traduzindo a trajetória da inflação ao longo do ano, mas, ainda assim, corresponde a um aumento de 649 milhões de euros.
Os dados são dos Scantrends da Nielsen e analisam a evolução do mercado de grande consumo, o chamado retalho alimentar, em termos de valor. E mostram que, apesar do abrandamento da inflação, os preços mantiveram-se altos, levando a uma procura acrescida por produtos mais em conta, em especial pelas marcas da distribuição, cuja quota total aumentou em quatro décimas para 45,5%.
No entanto, uma análise mais fina aos dados permite perceber que o reforço da quota das marcas próprias, que acontece em especial no segmento alimentar, advém do efeito dos primeiros seis meses do ano ainda muito influenciados pela inflação e sobretudo pelas altas taxas de juro. A descida destas a partir de junho e as medidas que permitiram o aumento do rendimento das famílias traduziu-se num reequilíbrio da procura dos consumidores pelos produtos das marcas de fabricantes. Não admira por isso que, depois de um arranque de ano em que as marcas da distribuição cresciam ao dobro do ritmo do mercado, 2024 termine com estas a registarem um aumento de 5,6% e as de fabricantes a crescerem 3,8%.
Os grandes supermercados, categoria que abrange lojas como as das cadeias de hard discount, Aldi, Lidl ou Mercadona, mas também os supermercados de proximidade das cadeias tradicionais, como o Continente Bom Dia ou os Pingo Doce, são os que estão a crescer a um ritmo superior – 8,7%, quase ao dobro do mercado -, roubando clientes quer aos hipermercados quer aos pequenos supers, que registam um crescimento de 1,3% e de 0,5%, respetivamente. Penalizados são o que a Nielsen designa por Livre Serviços, mas que abrangem essencialmente o chamado comércio tradicional, que cai 2,5% em termos homólogos.
O diretor-geral da Centromarca fala num ano “especialmente positivo” a partir do verão, e considera que a descida das taxas de juro “fez toda a diferença”, com o consumidor, que arrancara o ano com um comportamento “muito comedido”, a mudar. “A partir do fim de férias nota-se que o mercado está a ter uma evolução diferente. Com um bocadinho mais de disponibilidade económica as pessoas estão a regressar a algumas das marcas que preferem, e estão a comprar em quantidades um bocadinho maiores”, diz.
Pedro Pimentel aponta ainda uma “maior abertura” dos distribuidores para terem mais marcas de fabricantes nas suas prateleiras, não só por uma questão de rentabilidade, mas apostando numa complementaridade de oferta.
Para 2025, este responsável assume-se “relativamente otimista”. “Mantendo-se o quadro macroeconómico da inflação entre os 2 e os 3% e as taxas de juro nos valores atuais, temos a possibilidade de termos um ano mais positivo, com a consolidação das dinâmicas de normalização que se foram sentindo no segundo semestre... Mas as incertezas são muitas”, frisa.
Já a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição fala num final de ano “interessante”, numa “estabilização” da marca própria face à marca de indústria, e numa “concorrência muito acentuada” entre os diversos retalhistas que, “no fim do dia, beneficia o consumidor em preço, em liberdade de escolha e em diversificação”.
Gonçalo Lobo Xavier acredita que 2024 trouxe “maior concorrência ao mercado, em moldes diferentes”, na medida em que inflação “deixou de ser a preocupação central dos retalhistas alimentares”.
Quanto a 2025, mostra-se cauteloso na análise, apontando “pressões muito fortes” no mercado das matérias-primas, como seja o caso do café, cacau, soja e cereais, bem como “a tendência de aumento do preço dos combustíveis, o que impacta toda a cadeia de valor”.
Além das tensões geopolíticas, a APED aponta ainda as obrigações de reporte não financeiro vindas de Bruxelas “que estão a pressionar os mercados, aumentando custos e diminuindo, no imediato, a produção”. E dá o exemplo da diretiva que impede a criação de galinhas em cativeiro que gera “uma redução imediata de 50% da produção nos primeiros seis meses”. Gonçalo Lobo Xavier sublinha que a associação saúda a medida, constatando, apenas, que o cumprimento da legislação ambiental, de sustentabilidade e de bem-estar animal “tem no curto prazo algumas implicações a nível da produção que geram distorção no mercado”.