As famílias gastaram mais 447 milhões de euros este ano nas compras para casa
As famílias gastaram mais 447 milhões de euros este ano nas compras para casaLeonardo Negrão

Gastos nos super e hipermercados crescem quase 5% para mais de 10 mil milhões de euros

Meses de verão trouxeram dinamismo ao retalho alimentar. Os últimos dados, da NielsenIQ, mostram um crescimento de vendas de 6,4% em agosto e setembro. Marcas ‘brancas’ e de fabricantes com performance equilibrada.
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A inflação abrandou, mas não desapareceu e a prová-lo está o crescimento das vendas do mercado de bens de grande consumo, o chamado retalho alimentar, que ultrapassam já os 10 mil milhões de euros nos primeiros oito meses do ano. Os dados são da Nielsen IQ e mostram um crescimento de 4,7%, face a igual período de 2023, para os 10 065 milhões de euros. O maior crescimento verifica-se nos grandes supermercados, com vendas 8,8% acima do período homólogo. O comércio tradicional está a cair 2,6%. 

Comparativamente aos primeiros oito meses do ano passado, os super e hipermercados nacionais venderam bens no valor de mais 447 milhões de euros. Para esta performance acumulada, destaque para os crescimentos homólogos de 6,5%, de 6,9% e de 6,4% em fevereiro, maio/junho e em agosto/setembro, respetivamente. 

É que os dados da Nielsen são reportados por quadrissemanas, fazendo com que, por vezes, abranjam parte de dois meses distintos. O ponto mais baixo de acréscimo de vendas aconteceu logo em janeiro, nas semanas 1 a 4, quando o mercado registou uma variação homóloga de 1,6%. O mais alto foi o de 6,9% nas semanas 21 a 24, ou seja, de 20 de maio a 16 de junho.

Na última quadrissemana disponível - 33 a 36, correspondente ao período de 12 de agosto a 8 de setembro, o crescimento de vendas foi de 6,4%. Compara com um mercado que cresceu 11,4%, no mesmo período de 2023.

No seu relatório, a Nielsen destaca o “aumento robusto” de 6,7% nas vendas dos produtos de marca de fabricante, que compara com uma subida de 6,1% nas marcas próprias dos hipers e supermercados, “indicativo de um forte desempenho em ambos os segmentos” e longe do desequilíbrio de 2023 em que, mesmo com a introdução do IVA zero sobre um cabaz de produtos de bens alimentares de primeira necessidade, isentando-os de imposto, as vendas do retalho alimentar cresciam 11,4%, com as marcas próprias a dispararem 20% e as marcas de fabricantes apenas 5,4%. 

Tradicionalmente, o consumidor com menor poder de compra vira-se para as chamadas marcas brancas, numa tentativa de poupar. À medida que a inflação vai normalizando, a diferença entre as marcas de fabricantes e as próprias dilui-se. A testá-lo estão os dados acumulados das primeiras 36 semanas do ano, com o mercado como um todo a crescer 4,7%, as marcas da distribuição 6,1% e as de fabricante 3,5%. Há um ano, o mercado crescia 13,8%, as marcas próprias 25,6% e as de fabricantes 5,7%. 

A Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED) considera que se vivem tempos “muito interessantes e competitivos”, com o consumidor a fazer as suas escolhas de acordo com os rendimentos que hoje tem. O diretor-geral, Gonçalo Lobo Xavier, lembra que a redução da inflação, a baixa das taxas de juro, os aumentos salariais e até as mexidas nos escalões do IRS trouxeram “alguma folga orçamental” às famílias, o que se traduz num aumento do consumo. E refere que os dados mais recentes de Portugal explicam, precisamente, que o crescimento da economia se deve ao aumento do consumo privado e não ao investimento. 

Os produtos de marca 'branca' têm hoje uma quota de 45,8% nas vendas totais do setor, contra os 32% que tinham em 2019. Mas um estudo divulgado esta semana pela Centromarca - Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca destaca que 63% dos artigos em folhetos dos hiper e supermercados, nos primeiros seis meses do ano, foram produtos em promoção, com um desconto médio de 28,8%.

No primeiro semestre de 2023, só 58,7% dos artigos dos folhetos estavam em promoção, mas, em contrapartida, o desconto médio era de 30,4%. E no período homólogo em 2022, no pico da crise causada pela invasão da Ucrânia, o desconto médio rondava os 32%.

“O aumento generalizado de preços e o decréscimo do poder de compra têm contribuído para que, no momento da compra, o fator preço seja cada vez mais determinante. A pressão desse fator leva a estratégias de comunicação cada vez mais centradas em descontos e promoções, o que requer atenção redobrada do lado dos consumidores”, referiu, citado no comunicado, o diretor-geral da Centromarca, Pedro Pimentel.

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