O ex-ministro João Galamba considerou que a privatização da ANA condicionou "fortemente" qualquer estratégia aeroportuária nacional e, por isso, "não foi um bom negócio", de acordo com respostas enviadas ao parlamento, a que a Lusa teve esta quarta-feira acesso."Considero que entregar a concessão e o controlo de todos os aeroportos nacionais a uma empresa privada condiciona fortemente a autonomia e a capacidade de execução de qualquer estratégia aeroportuária nacional e, por essa razão, a venda não foi um 'bom negócio' e não salvaguardou o interesse público do Estado português", apontou o ex-ministro das Infraestruturas, em resposta escrita enviada à comissão parlamentar de Economia, Obras Públicas e Habitação, sobre a venda da ANA à francesa Vinci, em 2012, por cerca de três mil milhões de euros.O grupo parlamentar do PCP tinha apresentado uma proposta para criação de uma Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar, "tendo por objeto apurar as responsabilidades políticas e administrativas dos governos e dos Conselhos de Administração da ANA Aeroportos que envolveram a privatização da empresa e as suas implicações para o Estado e a gestão da rede aeroportuária nacional", mas foi rejeitada com os votos contra do PSD, PS e CDS e a abstenção do Chega.O grupo parlamentar do PSD requereu a audição do ex-ministro socialista, após o PCP ter requerido as audições do antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, o antigo ministro das Finanças Victor Gaspar, a antiga secretária de Estado do Tesouro Maria Luís Albuquerque, o antigo secretário de Estado das Infraestruturas Sérgio Monteiro, o presidente do Conselho de Administração da ANA, José Luís Arnaut, o presidente executivo da empresa, Thierry Ligonnière, e as organizações representativas dos trabalhadores da gestora aeroportuária.Segundo o presidente da comissão de Economia, o deputado Miguel Santos, João Galamba pediu para que lhe fossem enviadas perguntas por escrito, que foram remetidas em 17 de outubro, tendo-se o ex-governante comprometido a enviar as respostas até meados de dezembro, o que só recentemente aconteceu.Enquanto ex-governante, João Galamba não é obrigado a apresentar-se à comissão para esclarecimentos, conforme atesta o parecer pedido à comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias.Questionado sobre se conhece algum exemplo de privatização de uma infraestrutura semelhante em que o Estado tenha recebido um valor 16 vezes superior ao valor da empresa e ainda a partilha de receitas, João Galamba afirmou não conhecer "nenhum país europeu que tenha sacrificado grande parte da sua autonomia estratégica e capacidade de planear e desenvolver o setor aeroportuário nacional, entregando o controlo de todo o setor a uma única empresa privada".Para o ex-ministro, esta questão torna-se "particularmente gravosa num contexto de forte crescimento do turismo e do número de movimentos nos aeroportos portugueses".João Galamba não comentou o valor financeiro da operação, mas, quanto às obrigações contratuais previstas na concessão, considerou que o acordo "podia e devia ter acautelado a eventualidade de cenários de procura muito superiores ao previsto, que se vieram a verificar, nomeadamente no que diz respeito à partilha de receitas"."O tema das taxas aeroportuárias também podia e devia ter sido acautelado, para manter mitigando as subidas que se têm verificado e que prejudicam a competitividade do país", referiu o ex-governante, defendendo ainda que o contrato de concessão "fragilizou a posição negocial do Estado no desenvolvimento do setor, nomeadamente no que diz respeito à construção de um novo aeroporto".