Fundação La Caixa já doou 50 milhões para projetos sociais em Portugal
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Fundação La Caixa já doou 50 milhões para projetos sociais em Portugal

Mil crianças e 650 idosos foram apoiados pela fundação que gere 655 milhões e vê Portugal como “local” desde que comprou o BPI. Mas a filantropia está em queda e a tendência dos EUA preocupa.
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No orçamento da Fundação La Caixa para 2025, a maior de Espanha e uma das maiores a nível global, cabem qualquer coisa como 655 milhões de euros. A maior fatia daquele bolo, mais concretamente 60%, é dedicada a projetos sociais, dos quais Portugal tem sido um dos países beneficiários. Desde 2017, altura em que o seu braço financeiro CaixaBank comprou o BPI, “a Fundação La Caixa já investiu mais de 50 milhões de euros em projetos sociais em Portugal”, disse ao DN fonte oficial da fundação, no âmbito da apresentação do seu plano estratégico à imprensa estrangeira, esta semana, em Barcelona. A partir do momento dessa aquisição, a fundação passou a estender a sua responsabilidade social também a Portugal e a encarar o país como parte integrante da sua área privilegiada de atuação, reafirmaram altos quadros da instituição catalã. “Quando pensamos em local, pensamos em Espanha e Portugal”.

Em causa estão projetos nas áreas da infância, empregabilidade, terceira idade e apoio na situação de vulnerabilidade e dependência, a que correspondem quatro programas com dotações generosas, num total de 380 milhões de euros e onde, em Portugal, surgem habitualmente referenciados com a marca BPI/La Caixa. Mas também atua nos campos da cultura e da investigação.

No ProInfância, por exemplo, que dá apoio contínuo a crianças entre os zero e os 18 anos – até à conclusão do ensino secundário - foram apoiadas 964 crianças em Portugal, de 650 famílias, e envolvendo um total de 50 entidades nacionais, explicou a diretora para os projetos sociais, Montze Buisán. E os resultados do modelo são muito encorajadores, garante a responsável: “ Ao fim de seis anos de acompanhamento 82,4% das crianças apoiadas concluem o ensino secundário, o que é um resultado acima da média nacional e 30% acima da média para as crianças do mesmo estrato sócio-cultural”. A nível geográfico, o financiamento e mentoria da fundação chegou a cidades como Lisboa, Porto, Amadora, Almada, Gaia, Braga ou Ponta Delgada, apenas no âmbito desde projeto em concreto, ao qual são destinados um total de 78 milhões de euros/ano nos dois países.

Se olharmos para o programa Incorpora, dedicado à promoção da empregabilidade de jovens, mulheres vulneráveis, vítimas de violência ou reclusos, a instituição já apoiou 52 organizações portuguesas que envolveram 1746 pessoas e mais de 1900 entidades contratantes. Mas é o desafio do envelhecimento que absorve mais recursos, com os centros portugueses de apoio a este segmento crescente da sociedade a receberem 300 mil euros em 2024, que apoiaram 664 utentes. Para as pessoas com doenças avançadas, a fundação aposta numa atuação integrada, com equipas psico-sociais, preparadas para dar assistência não só aos doentes, mas também a toda a equipa de cuidadores, para as quais canalizou dois milhões de euros em Portugal.

Na área cultural, o rosto da fundação são os seus 11 centros culturais Caixa Fórum em toda a Espanha. Em Portugal, tem acordos com a Fundação Serralves e a Gulbenkiam bem como Museu Nacional de Arte Antiga e tem incluído artistas portugueses na sua coleção de arte contemporânea, adiantou o diretor para a área da cultura Rafael Chuaca.

A área da cooperação internacional está a cargo da Infanta Cristina de Bourbon, segunda filha do rei Juan Carlos I, desde 1997. E desde então, o braço internacional da fundação chegou a 70 países e mais de 18 milhões de destinatários, adiantou. No último ano abrangeu 31 países e 2,5 milhões de euros de doações, sendo que um dos projetos mais acarinhados é o Work for Progress, destinado a mulheres e jovens em zonas rurais, da Índia , Colômbia ou Moçambique, tendo já ajudado a criar mais de 30 mil empregos sustentáveis desde 2017, indicou Cristina de Bourbon.

Preocupante quebra na ajuda ao desenvolvimento

A atual situação política internacional e, muito em particular, as diretivas da nova administração norte-americana quanto ao corte abrupto nas ajudas ao desenvolvimento causam apreensão nos responsáveis da instituição, que se alia a outras grandes organizações internacionais para financiar grandes projetos sociais. “Este corte anunciado vem agravar ainda mais uma tendência preocupante de quebra nas doações e na filantropia que se tem verificado nos últimos anos, sobretudo desde a pandemia”, admite um dos dirigentes máximos da fundação.

Curiosamente, esta baixa na filantropia e nas doações para organizações como a Cruz Vermelha, Unicef ou outras, está a coincidir com um momento em que, por um conjunto de circunstâncias, esse apoio se tem revelado mais necessário. Para além dos conflitos devastadores que coincidem em vários pontos do globo, os fenómenos migratórios estão a fazer crescer o número de pobres nos países ocidentais, que estão a requerer cada vez mais atenção das entidades com missões sociais.

No caso de Espanha, existem atualmente mais de dois milhões de crianças vulneráveis à pobreza, sendo que 80% dos beneficiários de programa Esperanza, de combate à pobreza, por exemplo, são mulheres imigrantes. “O programa não foi concebido para imigrantes, mas fruto das circunstâncias, acaba também por se tornar um apoio a migrantes”.

Novo centro de imunologia

O maior projeto de sempre da Fundação La Caixa é um centro de investigação exclusivamente orientado para o estudo da imunologia, o Caixa Resarch Institute, que já está em construção e tem data prevista da conclusão parcial no final do ano. Com um investimento de 100 milhões de euros em dez anos, e situado em Barcelona, a ideia é “através de um melhor entendimento do sistema imunológico, poder prevenir ou combater a inflamação e doenças como o cancro ou as neurodegenerativas, como as demências ou o Alzheimer”. Será o primeiro centro de investigação em Espanha e um dos primeiros na União Europeia dedicado exclusivamente à imunologia, apostando na atração de 500 investigadores de todos os cantos do mundo. Embora ainda nem esteja concluído, o diretor da fundação para a área da ciência e investigação, garante que já tem muitos investigadores a manifestarem interesse, nomeadamente uma parte significativa de investigadores norte-americanos, que estão a procurar alternativas de trabalho fora dos Estados Unidos, num cenário de incerteza galopante.

A Fundação La Caixa tem a particularidade de deter um banco e não ser a fundação de um banco, como acontece com outras instituições, porque tem origens que remontam a 1902 na lógica de caixa de poupança e sempre com o mote “Só é progresso, se for para todos”. A sua estrutura assenta num modelo em que existe um grupo económico de empresas por si comparticipadas, onde se contam empresas como a Telefónica, Naturgy e o CaixaBank, entre outras, que estão sob o chapéu da subsidiária CriteriaCaixa, e cujos dividendos são canalizados em 30% para a fundação que os aplica em projetos de filantropia, na área social, investigação & bolsas e cultura. Os dividendos em 2024 foram da ordem dos mil milhões de euros.

Esta foi a via encontrada quando, em 2014, no rescaldo da crise financeira, foi determinado pelos bancos centrais que a atividade bancária estivesse blindada de riscos oriundos de outros setores, como por exemplo, o imobiliário, que também faz parte da carteira de ativos da CriteriaCaixa.

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