FMI corta crescimento de Alemanha, França e Itália, Espanha aguenta-se
As três maiores economias da Europa - Alemanha, França e Itália - vão crescer menos do que o previsto este ano, aproximando-se de uma nova estagnação, sendo que este quadro pode piorar porque os riscos são bastante negativos, indicam as novas projeções (outlook intercalar) do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgadas esta sexta-feira. Espanha, o maior parceiro económico de Portugal, aguenta-se, com o FMI a rever em alta ligeira o crescimento previsto para 2025.
Alemanha, o maior motor económico europeu, tinha entrado em recessão em 2023 (a economia recuou 0,3% em termos reais) e no ano passado, o FMI confirma um novo retrocesso da economia alemã, na ordem dos 0,2%. Em 2025, a projeção levou um corte substancial face ao outlook de outubro, de 0,5 pontos percentuais (p.p.), o que coloca a Alemanha à beira da estagnação, no melhor dos cenários.
França, a segunda maior economia europeia, sofre uma revisão em baixa de 0,3 p.p., esperando-se assim um crescimento anual de 0,8% este ano, o que para os gauleses configura um dos piores registos dos últimos anos.
Itália, terceira maior economia da Europa, deve crescer apenas 0,7% em 2025, ou seja, menos uma décima do que na projeção de outubro do FMI.
O crescimento espanhol destoa pela positiva: a economia vizinha de Portugal deve avançar 2,3% este ano, mais duas décimas do que o esperado há três meses, segundo a instituição dirigida por Kristalina Georgieva.
"O crescimento continua moderado na Zona Euro (com o desempenho da Alemanha a ficar aquém face ao dos outros países do euro), refletindo em grande parte a contínua fraqueza na indústria e nas exportações de bens, mesmo com o consumo a aumentar em linha com a recuperação dos rendimentos reais", observa o FMI.
Portanto, na zona euro, "espera-se que o crescimento acelere em 2025, mas de forma mais gradual do que o previsto em outubro", "as tensões geopolíticas continuam a pesar no sentimento" económico, afirma o Fundo.
Este "impulso mais fraco do que o esperado no final de 2024 vem especialmente da indústria e da maior incerteza política".
Assim, a Zona Euro leva "uma revisão em baixa de 0,2 pontos percentuais, para 1%" no crescimento previsto para 2025, refere a instituição sediada em Washington.
"Entre as economias avançadas, as revisões das previsões de crescimento seguem direções diferentes". Isto para dizer que, "nos Estados Unidos, a procura mantém-se robusta, refletindo fortes efeitos sobre a riqueza, uma posição menos restritiva na política monetária e condições financeiras favoráveis".
Assim, no caso dos Estados Unidos, "a projeção de crescimento é de 2,7% em 2025, 0,5 pontos percentuais superior à previsão de outubro, refletindo em parte um impulso que transita de 2024, bem como mercados de trabalho robustos e aceleração nos investimentos, entre outros sinais de força", considera o FMI.
Este exercício de previsão intercalar do FMI foca-se apenas nas maiores economias do globo (não tem portanto, atualizações para Portugal).
Mas tem novidades no caso de China, Índia e Brasil.
"O crescimento da China em 2025 é ligeiramente revisto em alta em 0,1 pontos percentuais, para 4,6%", revisão que reflete efeitos que transitam de 2024 e "o pacote orçamental anunciado em novembro, que compensa largamente o efeito negativo no investimento causado pela maior incerteza na política comercial e pela retração do mercado imobiliário", explica o antigo credor de Portugal.
"Na Índia, prevê-se que o crescimento continue sólido, a um ritmo de 6,5% em 2025 e 2026, tal como previsto em outubro e em linha com o potencial" desta que é também das maiores economias do planeta.
O Brasil, outro dos grandes mundiais, cresceu 3,7% em 2024, mas deve desacelerar para 2,2% este ano. Em todo o caso, não houve revisão em baixa face ao outlook de outubro, indica o Fundo.
No entanto, todo este cenário está ensombrado por riscos sérios e muita incerteza.
"A médio prazo, o equilíbrio de riscos para as perspetivas está inclinado para o lado negativo, com o crescimento global à beira de ser inferior à sua média de 2025-26".
No curto prazo, diz o FMI, "podem reforçar-se divergências entre países: estes riscos podem ser positivos para os Estados Unidos, enquanto os riscos negativos prevalecem na maioria das outras economias, no meio de elevada incerteza política e de ventos contrários dos ajustamentos em curso (em particular, a energia na Europa e o imobiliário na China)".
Para o FMI, "uma intensificação das políticas protecionistas, por exemplo, sob a forma de uma nova vaga de tarifas, pode agravar as tensões comerciais, diminuir o investimento, reduzir a eficiência dos mercados, distorcer fluxos comerciais e, mais uma vez, perturbar as cadeias de abastecimento".
Nas taxas de juro, a tendência é para estas continuarem a cair, sobretudo no caso do Banco Central Europeu (BCE), onde os mercados descontam já a possibilidade de a taxa diretora principal poder descer para 2% ou menos ainda este ano.
"As preocupações com o fraco crescimento da Zona Euro e de alguns dos principais mercados emergentes aumentaram as expectativas dos investidores de que os seus bancos centrais irão flexibilizar a política monetária [redução de juros] a um ritmo mais rápido do que o esperado" há três meses, sendo que "estas expectativas não se aplicam à Reserva Federal" dos Estados Unidos, escreve o FMI no novo estudo.