Fitch diz que China enfrenta desafio entre travar concorrência desleal e reanimar consumo
Arquivo

Fitch diz que China enfrenta desafio entre travar concorrência desleal e reanimar consumo

Agência de notação financeira prevê que o crescimento da economia chinesa abrande para 4,7% em 2025 e 4,1% em 2026, com o impacto das tarifas impostas pelos EUA a limitar o contributo das exportações.
Publicado a
Atualizado a

A campanha da China para travar a “concorrência desleal” entre empresas poderá ter efeitos positivos para algumas empresas, mas aumenta os riscos de deflação e dificulta a recuperação do consumo, alertou a agência Fitch Ratings.

Num boletim trimestral sobre crédito, a agência de notação financeira afirma que os esforços de racionalização da produção e estabilização dos preços nos setores com excesso de oferta, designadamente cimento, aço ou automóvel, podem beneficiar as empresas mais eficientes e com apoio estatal – como é o caso de muitas das que são avaliadas pela Fitch – mas também podem reduzir a procura mais rapidamente do que a oferta, penalizando o crescimento.

A Fitch prevê que o crescimento da economia chinesa abrande para 4,7% este ano e 4,1% em 2026, com o impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos a limitar o contributo das exportações.

O aumento do consumo interno, que Pequim definiu como prioridade para 2025, deverá desacelerar de 4,9% este ano para 3,5% no próximo, devido à fraca confiança dos consumidores, à estagnação no setor imobiliário e ao esgotamento de efeitos pontuais como os subsídios à troca de eletrodomésticos.

“No curto prazo, a campanha contra a involução pode aliviar as guerras de preços que afetam negativamente os rácios de crédito de prestadores de serviços ao consumidor”, lê-se no relatório.

O termo 'involução' designa uma forma de concorrência interna excessiva, em que os fabricantes reduzem os preços ao ponto de comprometerem as margens de lucro, numa luta pela sobrevivência que acaba por tornar os negócios insustentáveis.

A agência assinala que descontos menos agressivos poderão ajudar a estabilizar a rentabilidade dos fabricantes de veículos, mas avisa que as pressões competitivas associadas à inovação e aos custos das baterias continuam a representar riscos.

A Fitch destaca a revisão em baixa da dívida da Beijing Automotive Group, de ‘b+’ para ‘b’, refletindo a expectativa de margens de lucro mais reduzidas e maior passivo até 2026.

Por outro lado, a agência manteve a notação ‘BBB+’ da empresa de entregas ao domicílio Meituan, mas reviu a perspetiva, de positiva para estável, devido ao abrandamento do crescimento das receitas e à menor rentabilidade face à intensa concorrência.

A agência considera ainda que as dificuldades em racionalizar a produção de cimento ou a refinação de petróleo, incluindo resistências políticas ao encerramento de fábricas, ilustram os obstáculos à implementação da política anti-involução.

Em setores como o aço, a procura interna poderá ficar aquém do esperado, levando os produtores chineses a intensificar as exportações e a aumentar a pressão sobre rivais estrangeiros.

No setor financeiro, a Fitch estima novos cortes na taxa de recompra reversa a sete dias, que deverá recuar para 1,2% este ano e 1% em 2026, algo que permitirá os bancos reforçar a liquidez

No entanto, os efeitos da política monetária são limitados, devido à debilidade da procura por crédito e à pressão sobre as margens dos bancos.

As medidas de estímulo, como os subsídios que reduzem em até um ponto percentual a taxa de juro em novos empréstimos ao consumo, terão, segundo a agência, um impacto apenas marginal.

Apesar do forte desempenho recente das bolsas chinesas, impulsionadas pelo desvio de investimentos, do setor imobiliário para ações tecnológicas, o financiamento via mercado acionista continua marginal.

A Fitch prevê uma ligeira desvalorização do yuan face ao dólar, dos atuais 7,12 para 7,30 por dólar até ao final de 2026, insuficiente para compensar as tarifas dos EUA, mas que poderá favorecer as exportações chinesas para outros mercados asiáticos.

No setor imobiliário, as vendas de novas habitações deverão cair 7% em 2025 e mais 6% em 2026, prolongando o colapso iniciado em 2022.

A agência sublinha que uma recuperação do consumo será insustentável sem um restabelecimento duradouro da confiança dos consumidores e uma estabilização do setor da habitação.

Fitch diz que China enfrenta desafio entre travar concorrência desleal e reanimar consumo
Comércio externo da China cresce apesar de queda nas exportações para os EUA

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt