Joaquim Miranda Sarmento, ministro das Finanças, e Luís Montengro, primeiro-ministro. Parlamento, 11 de março de 2025, dia da moção de confiança que ditou a queda do governo.
Joaquim Miranda Sarmento, ministro das Finanças, e Luís Montengro, primeiro-ministro. Parlamento, 11 de março de 2025, dia da moção de confiança que ditou a queda do governo.Leonardo Negrão

Finanças atiram nome do governador do Banco de Portugal para a semana que vem

Mário Centeno termina o seu primeiro mandato de cinco anos este sábado, 19 de julho. Primeiro-ministro e Finanças estarão à procura de outra pessoa e não devem reconduzir Centeno num segundo termo.
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O Conselho de Ministros que decorreu esta sexta-feira, 18 de julho, não chegou a nenhum nome que possa substituir Mário Centeno como governador do Banco de Portugal (BdP).

"O Governo tomará uma decisão na próxima semana", disse de forma seca e lacónica o ministro das Finanças (MF), Joaquim Miranda Sarmento, quando questionado sobre o assunto na conferência de imprensa que se seguiu à referida reunião do executivo.

Foi ainda questionado sobre esta aparente demora em encontrar alguém interessado e com currículo, se teria nomes por onde escolher e para avaliar. O ministro não respondeu, sequer.

O Jornal de Negócios escreveu na quinta-feira, dia 17 de julho, que o nome para o sucessor de Centeno iria ser anunciado esta sexta 18 depois da reunião do conselho de ministros.

No entanto, conta o mesmo jornal, está a ser difícil encontrar alguém que aceite o cargo.

Vítor Gaspar, atualmente um dos diretores de topo do Fundo Monetário Internacional (FMI), era o nome mais forte e desejado.

É da ala política e do mesmo partido (PSD) do primeiro-ministro Luís Montenegro, foi assessor da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu, foi ministro das Finanças num dos períodos mais complexos da História recente, o ajustamento da troika e a aplicação do programa de austeridade e de desvalorização interna da economia.

No entanto, o Negócios refere que Gaspar recusou o convite e isto já há meses. O economista anunciou há algum tempo que vai sair do FMI em novembro, mas parece que teve outro convite de outra instituição e que aceitou.

De acordo com vários jornais e meios, (Negócios, RTP3, Público), além de Gaspar, havia a possibilidade de o convite seguir para Ricardo Reis, professor de economia monetária, atualmente na London School of Economics.

Também este terá recusado, talvez por sentir que, embora tenha grande conhecimento e domínio da política monetária, nunca teve um cargo de governo, o que lhe retira experiência.

Outro nome que tem sido ventilado é o de Álvaro Santos Pereira, também ele do PSD.

Foi ministro da Economia no governo de Pedro Passos Coelho, no tempo do ajustamento, mas depois disso concorreu à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), onde entrou e subiu de forma evidente. Hoje é economista-chefe da instituição.

Desvantagem: não tem grande especialização em política monetária nem na área da supervisão bancária. Vantagem: tem experiência governativa e uma já longa e bem-sucedida carreira internacional.

Centeno estava disponível para continuar

Mário Centeno estava disponível para continuar mais um mandato como governador do BdP.

Em junho, naquela que poderá ter sido a sua última apresentação de um boletim económico com previsões para a economia portuguesa, Centeno foi questionado sobre a sua disponibilidade para ficar mais cinco anos à frente do Banco. A resposta foi : "Estarei sempre disponível para o país, seja num governo, num banco central ou numa universidade”, relembrando que tinha "um mandato para cumprir", o que agora termina.

Centeno não é um nome acarinhado por este governo porque o ex-ministro das Finanças é do PS e tem sido uma voz bastante crítica das políticas seguidas e das consequências para a economia. Previu o regresso do governo aos défices orçamentais, numa altura em que o executivo de Montenegro queria puxar dos galões da boa condição com que estava a gerir as contas públicas, apesar da redução significativa do IRS.

Por seu lado, Miranda Sarmento tentou por em xeque Centeno com o facto (já esperado há anos) de o BdP deixar de dar dividendos ao Estado. A relação ficou um pouco mais azeda, ainda que fruto da forma como a política monetária foi conduzida pelo Banco Central Europeu (BCE). Centeno pouco ou nada poderia fazer para que a distribuição de dividendos ao Estado fosse outra desde 2014, altura em que o BCE começou a combater a sério a crise do euro.

Já no final do ano passado, outro desentendimento. Hélder Rosalino, administrador do Banco de Portugal durante dois mandatos, iria terminar o seu segundo termo e seria contratado por Montenegro que para ele criou o cargo de "secretário-geral do governo".

Problema: o salário seria mais elevado do que o tabelado e seria o Banco de Portugal a pagar. Centeno foi a jogo e rejeitou liminarmente a solução, fez saber que era ilegal, que o banco central está impedido de financiar diretamente o governo.

E Rosalino, também ele do governo PSD de Passos Coelho (foi secretário de Estado de Vítor Gaspar), acabou por não ir para o executivo e o cargo de SG que estava a ser desenhado à medida acabou por ficar vazio.

Nomeado para o governo por escassos dias, Hélder Rosalino demitiu-se na sequência da disputa entre Centeno e Montenegro, regressando à origem, ao BdP.

"O Conselho de Administração do Banco de Portugal decidiu, em reunião de 7 de janeiro, nomear Hélder Rosalino para membro do Conselho de Administração da Valora, S.A., empresa impressora de notas detida a 100% pelo Banco de Portugal. Esta nomeação estava prevista desde novembro de 2024, sendo retomada após ter sido suspensa na sequência de um convite dirigido a Hélder Rosalino para funções fora do Banco", escreveu o BdP na altura.

Rosalino foi governante, teve uma ampla experiência no banco central. Seria uma boa solução e com currículo sólido para Luís Montenegro aproveitar no BdP. Problema: já cumpriu 10 anos no banco central, o máximo previsto.

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